Os primeiros
textos da literatura infantil brasileira foram publicados no final do século
XIX e nas primeiras décadas do século XX, e eram muito dependentes das
influências europeias, transmitindo valores estrangeiros. Mas em 1921 a
publicação de A menina do Narizinho
Arrebitado, de Monteiro Lobato, veio para inaugurar um movimento de mudança
na feição da literatura para crianças brasileiras. Algumas das grandes
contribuições deste autor estavam ligadas à escolha de escrever a partir do
ponto de vista da criança, e desta forma, antes de tencionar arraigar valores
nesse público por meio de sua obra, procurou interessar e divertir o leitor,
colocando crianças como protagonistas de suas aventuras, sendo estas ativas e
nem sempre obedientes, passivas e subservientes, como eram as personagens
principais dos contos da literatura europeia.
Monteiro Lobato |
Lobato insere
suas personagens em situações em que a carência de saber cria problemas a elas,
de maneira que a obtenção de conhecimento lhes propicia novos caminhos e
soluções para os obstáculos encontrados. Suas atenções se voltam para o mundo
exterior e para a aquisição de informações de tipo objetivo, quer no âmbito da
História, Ciências Naturais, da Gramática ou mesmo Mitologia. Desta forma, o
caráter informativo de sua obra revela intenção pedagógica. Quanto à questão da
fantasia, o autor a utiliza como forma de reflexão e libertação em relação à
realidade, pois apesar de, em toda a sua obra infantil, a estruturação das
histórias se dar a partir de um auxílio mágico (o faz-de-conta de Emília, a
inteligência de um sabugo falante, a fidelidade de um rinoceronte, por exemplo)
a inserção de tais elementos coloca o leitor diante de assuntos ligados à
realidade, de maneira a conhecê-la e questioná-la. Com isso, o leitor se depara
com textos em que protagonistas crianças investigam e recebem informações que
as instrumentam para a crítica. Tais constatações evidenciam a importância das
obras do autor que tem como objetivo atingir o público infantil.
Outra grande contribuição da literatura infantil
lobatiana é a inserção de figuras folclóricas originárias na cultura nacional
oral em textos escritos, como é o caso do Saci Pererê. Tal processo se deu a partir de uma pesquisa realizada por Lobato no começo do século XX. Primeiramente, é
interessante observar que os mitos e figuras folclóricas têm por
finalidade fornecer uma explicação para a origem e o motivo das coisas, como os
fenômenos naturais e cósmicos: ciclos das estações do ano, do dia e da noite,
da vegetação, da vida e da morte, por exemplo. Especificamente o mito do Saci
têm funções morais e didáticas: durante a escravidão, as amas-secas e os caboclos-velhos
assustavam as crianças com os relatos das travessuras do negrinho fumador de
cachimbo. Desde então, ele se encontra profundamente enraizado no imaginário
dos brasileiros.
Por estar consciente da necessidade da criação de uma literatura autóctone e que pudesse registrar e valorizar marcas da cultura popular, é que Monteiro Lobato insere em suas obras direcionadas ao público infantil a figura do Saci Pererê. O autor o representa como um negro jovem de pele escura como o carvão, de uma só perna, que utiliza uma carapuça vermelha – que lhe concede poderes mágicos – sobre a cabeça, e sempre está com um cachimbo na boca. Quanto à sua caracterização psicológica, o saci é controverso: ao mesmo tempo que é brincalhão, travesso, divertido, bravo, corajoso, simpático e grande conhecedor das florestas, é rebelde, causador de transtornos, assustador, filho das trevas, alheio à luz e à cruz, além de cheirar a enxofre, e usar poderes mágicos para fins imorais, características atribuídas a seres demoníacos.
Por estar consciente da necessidade da criação de uma literatura autóctone e que pudesse registrar e valorizar marcas da cultura popular, é que Monteiro Lobato insere em suas obras direcionadas ao público infantil a figura do Saci Pererê. O autor o representa como um negro jovem de pele escura como o carvão, de uma só perna, que utiliza uma carapuça vermelha – que lhe concede poderes mágicos – sobre a cabeça, e sempre está com um cachimbo na boca. Quanto à sua caracterização psicológica, o saci é controverso: ao mesmo tempo que é brincalhão, travesso, divertido, bravo, corajoso, simpático e grande conhecedor das florestas, é rebelde, causador de transtornos, assustador, filho das trevas, alheio à luz e à cruz, além de cheirar a enxofre, e usar poderes mágicos para fins imorais, características atribuídas a seres demoníacos.
Saci Pererê |
No livro O Saci, Lobato conta a aventura de
Pedrinho que, ao jogar uma peneira sobre um redemoinho de vento, captura um
saci e o aprisiona em uma garrafa. É interessante observar que outras figuras
folclóricas têm seu lugar nesta obra: em troca de liberdade, o diabinho leva o
menino para uma aventura pela mata durante a noite. Pedrinho, então, conhece a
Mula-sem-cabeça, o Caipora, o Boitatá e outras figuras mitológicas.
Por meio de sua obra, Lobato desenvolve
uma literatura distanciada das influências europeias, muito mais associada à
nossa realidade, preservando e valorizando aspectos da nossa cultura oral por
meio da escrita e formando leitores críticos, por mais jovens que sejam.
Dica de leitura:
Dica de leitura:
Trecho do livro O
Saci, que conta como Pedrinho descobre a melhor maneira de capturar um saci: http://ifolclore.vilabol.uol.com.br/lendas/gerais/g_saciML.htm
GT 1 - Contos de fadas e narrativas orais (mitos e lendas)
Nenhum comentário:
Postar um comentário