Uma das obras de Ruth
Rocha que revela a sua crítica a problemas sociais de uma forma discreta e
cômica é “O Rei que não sabia de nada”. Nesse livro temos o seguinte enredo:
Havia um rei que tinha seus ministros, sendo que estes eram responsáveis por
cuidar da cidade. Certo dia os ministros descobriram uma máquina que fazia tudo
e apresentaram-na para o Rei, que por sinal gostou muito da ideia. Essa máquina
passou a fazer tudo na cidade, porém, certo dia, ela parou de funcionar e
começou a fazer coisas erradas, mas os ministros nada falavam ao rei e ele nem
se preocupava em perguntar se tudo estava dando certo.
No dia do passeio do rei pela cidade, os ministros puseram cenários pelas ruas onde ele passaria, para que ele não visse o estrago que a máquina havia causado e a verdadeira situação em que o país se encontrava, entretanto uma criança do outro lado do cenário chutou sem querer uma bola e toda a falsa paisagem se espatifou pelo chão. O rei ficou muito assustado e com medo daquilo que os outros estavam pensando dele e saiu correndo, pelo caminho “perdeu a coroa, perdeu o cetro, perdeu o manto, perdeu até o jeitão de rei”, e de tanto correr, chegou a um lugar muito longe do seu castelo, uma cidadezinha em que os habitantes (por não o terem reconhecido) reclamavam que o rei não os escutava, nem sequer sabia que eles existiam. O rei se assume rei e então toda a cidade começa a dar muitas ideias sobre como ele poderia governar, assim ele decide demitir todos os ministros e aceitar as sugestões dos seus novos amigos.
No dia do passeio do rei pela cidade, os ministros puseram cenários pelas ruas onde ele passaria, para que ele não visse o estrago que a máquina havia causado e a verdadeira situação em que o país se encontrava, entretanto uma criança do outro lado do cenário chutou sem querer uma bola e toda a falsa paisagem se espatifou pelo chão. O rei ficou muito assustado e com medo daquilo que os outros estavam pensando dele e saiu correndo, pelo caminho “perdeu a coroa, perdeu o cetro, perdeu o manto, perdeu até o jeitão de rei”, e de tanto correr, chegou a um lugar muito longe do seu castelo, uma cidadezinha em que os habitantes (por não o terem reconhecido) reclamavam que o rei não os escutava, nem sequer sabia que eles existiam. O rei se assume rei e então toda a cidade começa a dar muitas ideias sobre como ele poderia governar, assim ele decide demitir todos os ministros e aceitar as sugestões dos seus novos amigos.
Percebemos
inúmeras questões sociais nesse texto, o rei que deveria ser o mandante do
país, responsável e ciente de tudo o que nele ocorre, não passa de um
desinteressado que é ao mesmo tempo inocente e culpado. Inocente pelo fato de
ser enganado por
pessoas as quais ele considerava confiáveis e fiéis. E pode ser considerado
culpado por estar alheio ao que realmente estava acontecendo no país de sua
responsabilidade (com um olhar mais crítico, pode se considerar que ele se deixava enganar) e não se interessar em saber os problemas e as dificuldades
enfrentadas pelo povo (nem ao menos sabia se havia isso), confiando cegamente
no funcionamento de uma máquina e na administração
de ministros “fingidos”.
Essa
personagem da estória se comparada com a realidade se assemelha mais ao “povo”
do que a figura equivalente ao rei, que, na atualidade, seria o presidente. Ocorre
assim, uma inversão de valores, em que aquele que possui a maior autoridade é
aquele que menos sabe. Hoje em dia sabemos que são os cidadãos brasileiros os
enganados, porém no fundo cada um se acomoda de uma forma particular com o engano
que está sofrendo de forma consciente, tanto pelo fato de não saber o que fazer
para mudar, quanto por não ter poder nenhum em suas mãos para que alguma
mudança verdadeiramente relevante aconteça.
Entretanto, o que vemos
no texto é que, ao revelar-se enganado, o rei por possuir a autoridade em suas
mãos pode mudar significativamente a história de seu país, e para isso as
primeiras decisões tomadas são as de demitir os ministros fingidos (que
equivaleria, atualmente, aos governantes corruptos) e de aceitar as sugestões do
povo para que eles juntos pudessem consertar os erros cometidos pela máquina,
pela má administração dos ministros e por sua falta de zelo com seu país.
Ruth Rocha é
incrivelmente crítica em suas obras, e nessa ela aborda profundamente a temática
política, em frases como “o país foi ficando uma bagunça danada!”, “E o rei, o
que é que ele fazia? Pois o rei nem sabia de nada...”, “o povo estava ficando
cada vez mais pobre, mais mal vestido, pra falar a verdade, o povo estava até
passando fome!”, “acho que eles pensaram que ainda dava pra tapear o rei...”,
“E o rei, por sua vez, também não pode ver a gente. E nem ouvir!”. Notamos o
quanto seu texto revela-se atemporal, pois trata de temas que mesmo com o
passar do tempo não deixam de existir e de se revelarem da mesma forma como a
escritora retratou há anos.
Dica de leitura:
Veja dois vídeos contendo cópia de outra história infantil de Ruth Rocha sobre o mesmo tema (também caro a Ana Maria Machado): Sapovirareivirasapo (ou a volta do reizinho mandão). Boa leitura!
Dica de leitura:
Veja dois vídeos contendo cópia de outra história infantil de Ruth Rocha sobre o mesmo tema (também caro a Ana Maria Machado): Sapovirareivirasapo (ou a volta do reizinho mandão). Boa leitura!
GT 3 - Literatura e ideologia
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