domingo, 24 de novembro de 2013

A CRIANÇA NA PUBLICIDADE


Publicidade infantil: pertencimento e identidade
Falar desse tema ainda é muito delicado. A questão da publicidade voltada ao público infantil e para o público infantil é de grande preocupação, pois o Brasil está atrasado na regulamentação da publicidade infantil, quando comparado a outros países, segundo avaliação da professora de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Inés Vitorino. Na opinião desta especialista é preciso haver maior reflexão e mobilização da sociedade brasileira para exigir leis que protejam crianças e adolescentes dos “efeitos nocivos” que o marketing direcionado a eles têm. “As propagandas voltadas para crianças são em igual abusivas porque utilizam estratégias de persuasão que elas não são capazes de identificar, então estão sendo enganadas”, disse.
Durante todo o ano há lançamentos de livros voltados para o público infantil, livros ótimos, coloridos, diversos materiais e de bons autores chegando ao mercado, mas essa divulgação não é feita através da mídia televisiva como roupas, sapatos, brinquedos, entre outros. Criança que está em contato com livros diariamente aprende a escrever melhor, falar bem tem seu vocabulário mais rico com novas palavrinhas.
Todos sabemos que uma criança não pede um livro de presente de aniversário, Dia das Crianças e muito menos no Natal, pois não há propagandas de livros. O estímulo pela leitura passa a ser trabalhado somente na escola e em muitos casos, essas crianças não entram em bibliotecas ou livrarias.
Com a evolução da tecnologia, o tempo dedicado à leitura ficou menor e a publicidade explora aquilo que de mais frágil há nas crianças. Pesquisas do Instituto Pró-criança revelam que 80% das compras domésticas passam diretamente pela vontade da criança. Sendo assim, pode-se dizer que houve uma completa inversão de posições, ou seja, quem manda são os pequenos.
A publicidade seduz e explora os mais primários desejos do inconsciente das crianças. Elas não dispõem do leque de possibilidades existenciais. Para elas, é muito difícil visualizar o rol de possibilidades que estão a sua escolha, e acabam reféns daquela que se apresenta no dia a dia e no cotidiano de seus colegas, através do discurso publicitário. As necessidades grandemente exploradas no mundo infantil são a de pertencimento e da identidade.
Vimos que a publicidade busca a todo o momento, estimular essas duas necessidades. Consumindo a criança será aceita como consumidora, consumindo, será aceita no grupo de consumidores daquele mesmo produto, e, portanto, terá uma existência social alegradora. Vejamos como exemplo, os celulares. O celular com mp3 insere a criança num universo; o que tem câmera, em outro; o que tem bluetooth, em um terceiro. Nesse círculo a criança se apropria também dos status social do produto. Na atualidade, quando uma criança está em idade escolar, demonstra vontade de possuir o que o outro colega de escola tem, fato que não acontecia algumas décadas atrás, pois com a modernização e o avanço das tecnologias esse tipo de consumo está cada vez mais inserido no mundo da criança. Agora nos perguntamos: “Existe a real necessidade de consumo de uma criança de 10 anos ter um aparelho celular de ultima geração?”. No inconsciente desta criança “sim”, pois se ela for estimulada ao consumo, o objeto de valor é uma necessidade imprescindível.
A publicidade estimula crianças a estabelecerem critérios de seleção dos membros de seus grupos através do consumo, assim como estimula as próprias crianças a projetarem nos produtos características que desejariam para si mesmas: a inserção em grupo social, a diferenciação social dentro desse grupo e entre outros grupos, o glamour, e por aí vai. Um exemplo fácil de entender é a relação das crianças com as bonecas. Antes, brincar de boneca era um ato maternal, a criança era a mãe da boneca. Hoje, a boneca é uma projeção daquilo que a criança deseja. A criança não mais é a mãe da boneca, é a própria boneca.
Assim, a publicidade infantil leva as crianças para caminhos tendenciosos a partir de suas necessidades de pertencimento e identidade. Esta é uma questão que, certamente, merece muita atenção e discussão por todos que prezam minimamente pela vida das próximas gerações.
Qual a diferença entre consumo e consumismo?
O consumismo se manifesta irrefletido, não pensado e não programado, diferentemente de quem precisa realmente de um produto; necessidades que refletem no dia-a-dia como comprar uma geladeira nova, pois quebrou ou está muito velha. Esse é o consumo refletido, também chamado de “consumo sustentável”, visto que o consumidor pensa em vários aspectos antes de fazer sua escolha. O contrário é o consumidor influenciado pelo comercial, aquele convencido pela propaganda que necessita do produto anunciado. Um exemplo clássico: a criança já tem os mais variados brinquedos, mas ao ver o anúncio de um brinquedo novo, movida pela necessidade que não é real, acaba recebendo de seus pais esse novo brinquedo. Esse é o consumo não refletido, inconsequente.
A publicidade endereçada às crianças pode levar, além do consumismo, ao materialismo excessivo, à obesidade infantil e ao estresse familiar. A criança não entende a publicidade como o adulto. Muitas vezes os pequenos insistem até que seus pais cederem. Porém, todo cuidado é pouco quando pensamos nas causas dessa “concessão” gratuita. Temos visto muitas crianças sofrerem de obesidade num país tropical, cuja alimentação poderia ser bastente saudável. Mas a criança é estimulada cada vez mais a consumir produtos industrializados. Eis uma roda-vida: se os pais se alimentam mal e consomem sem limites, temos aí futuros adultos que reproduzirão esse sistema.

Brasil um país rico, rico em números de analfabetos
Sabendo da importância da leitura para a formação crítica dos “novos leitores” muitos programas governamentais são implantados no Brasil, um deles, por exemplo, é o Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa, o qual, segundo a Revista Educação, abrange 5100 municípios. O objetivo do programa é alfabetizar as crianças até os 8 anos de idade, pois de acordo com as pesquisas realisadas pelo MEC, há mais de 40% de crianças  não alfabetizadas cursando o 6º ano do Ensino Fundamental, fato preocupante relacionado à educação brasileira. Com esse programa o Governo tenta criar métodos e promete dar assistência necessária para que a medida contra o analfabetismo dê certo; e ainda garante que com esse programa incentiva a leitura.
Porém, percebe-se que não estão surgindo resultados satisfatórios, pois de acordo com a pesquisa Ibop Pró-Livro (2012) divulgada pela revista Companysul, 77 milhões de pessoas não leem livros regularmente, ou seja, 92% da população brasileira não tem o hábito da leitura. Dos 8% que lêem, a maior parte são mulheres e o livro preferido dos adultos segue sendo a Bíblia Sagrada. No Brasil a cada ano são lidos 4,7 livros por pessoa, enquanto na França a média passa de 10. O Brasil conta com 14 milhões de analfabetos entre os 7 aos 14 anos de idade.
Umas das causas dessa falta de leitura são as condições em que as famílias estão vivendo. No Norte e Nordeste a situação é lastimável, além de ser baixa a qualidade de vida nos municípios dessas regiões, o analfabetismo é um dos maiores problemas. Segundo o Ministério da Educação (MEC), os que não concluíram a 4ª serie do Ensino Fundamental I somam 33 milhões, concentrados em 50% do Norte e Nordeste. Outro fator que contribui para a falta de leitores é o serviço público bibliotecário, tão defasado no país: em média, 360 cidades brasileiras não possuem nem ao menos uma biblioteca. O que nos resta após tantos números é parar para refletir sobre esses dados: será que os planos governamentais estão dando resultados? Será que o país tem realmente uma preocupação em formar leitores?

A imagem infantil na publicidade
Na contemporaneidade o uso da image infantil no meio publicitário é muito comum, ou nos parece comum, pois de certa forma já estamos habituados a presenciar comerciais de televisão ou de outros meios de comunicação que trazem a imagem infantil para retratar a marca de um produto. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) proíbe o trabalho infantil antes dos 14 anos de idade, então porque a imagem da criança e do adolescente ainda é tão usada? Não obstante, vemos que a utilização da imagem do menor nos meios de comunicação serve como um pilar para a ascenção financeira de sua família. Pais deixam sua vida de lado para seguir seus filhos atores e modelos desde muito cedo. O que impressiona é a forma como esses pais aderem à exposição da criança publicamente; sobretudo movidos pelas cifras e pela promessa de “melhoria de vida”.
De fato, a imagem infantil tem um apelo comercial que nos parece um tanto exploratória. Sabemos que todo trabalho publicitário tem um cachê como forma de pagamento do uso da imegem da criança, mas o que tratamos é a utilização dessa imagem.

A utilização dessa imagem é meramente contabilizada visando fins comerciais, verdadeiras estratégias para que os pequenos consumidores sejam levados a comprar determinados produtos. De fato a legislação que o ECA regulamenta funciona, mas para determinados públicos não. Mesmo que a criança não esteja envolvida em “trabalho escravo”, há atividades exploratórias, que estimulam uma sexualidade precoce, de tal modo que corroboram para uma ilegalidade dentro da legalidade.
Com a ascensão do capitalismo no mundo moderno, as crianças passam de meros filhos de consumidores assíduos, para fazerem parte das decisões de consumo da família. A criança tem alto poder de compra. Antes a imagem da criança nem era utilizada, mas com o avanço das tecnologias os brinquedos e objetos de consumo dos pequenos se tornaram mais atrativos para esse público tão rentável. A rede de comunicações Viacom, dona do canal Nickelodeon, afirma que 40% das compras feitas pelos pais são influenciadas pelos pequeninos. Na sociedade moderna, não se têm mais a visão da criança como dependente do consumo dos pais. Hoje a criança é quem decide, por exemplo, o que vai vestir, o brinquedo que quer. A criança não é tão crítica quanto o adulto e de mais fácil convencimento por parte da propaganda.
Consequentemente, estamos criando e “educando”, crianças capitalistas e futuros consumistas compulsivos, uma vez que, se a sociedade não tomar iniciativas e politicas para o combate do marketing e a publicidade infantil, teremos uma pais de pessoas muito mais alienadas, aonde o lucro vem em primeiro lugar.

Fontes:




GT5






quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A formação do leitor

Desde os anos iniciais de escola, já ouvimos o quão importante é a leitura, porém se perguntarmos a pelo menos dez adultos se eles gostam de ler, o gosto pela leitura provavelmente não será unânime. Pelo contrário, o que vemos por aí é muita gente dizendo que não gosta de ler, que não tem paciência, etc. A coisa ainda piora quando alunos que não possuem o hábito da leitura se deparam com o assombroso vestibular e precisam passar horas e horas estudando; e claro, não dá para "escapar", "gastando" o tempo lendo. A tarefa se torna uma tortura e a relaçâo com a leitura se manifesta em ódio crescente.

Mas como desenvolver na criança o amor pelos livros? Qual o papel da escola e dos familiares nesse prazer adquirido? Em que situações o aluno encontra mais ou menos estímulo a capturar esse hábito? Essas são questões que abordaremos nesse post. Eis o desafio... Você conseguirá ir até o fim sem que isso se torne uma tortura? Boa leitura...


Como é desenvolvido o gosto pela leitura?

Estimular o interesse pela leitura não é uma tarefa fácil, mas o incentivo pode começar em casa. Pais que criam o hábito de ler para seus filhos antes de dormir manejam a seguinte situação: conforme o tempo passa, as crianças tendem a ler historinhas que foram anteriormente expostas - eis a relação de troca. Essa pode ser a primeira motivação para se criar o gosto pela leitura, sem contarmos que aumenta a criatividade e imaginação da criança.

É importante também estabelecer uma ponte entre a escola e a casa da criança, permitindo que essa leitura doméstica tenha continuidade dentro do ambiente de ensino. A leitura pode ser estimulada nas séries iniciais. Um bom exemplo é a ideia do “cantinho da leitura”, com livros infantis de variados autores, estilos e artes gráficas, bem como com gibis e materiais que sejam capazes de prender a atenção do aluno. Seguindo medidas simples como esta, a leitura não se impõe como algo forçado, obrigatório, mas sim como uma ação prazerosa e atraente.


      No Ensino Fundamental e Médio esse trabalho deve continuar, mas para que haja maior interesse por parte dos alunos, é imprescindível que a leitura venha "de casa", repleta de assuntos interessantes, abrangendo o cotidiano. Sem dúvidas, a leitura é desenvolvida atuando com a realidade de cada um, de modo que debates entre os alunos sejam promovidos, contrastando-se as realidades.

A melhor forma de fazer a criança e o adolescente apreciarem a leitura nasce do fato de que ela tem de ser uma ação prazerosa e contínua, de modo que o interesse aumente gradativamente. A leitura tem que ser incentivada pela família, pela escola e pelos próprios leitores que convivem em ambiente multidisciplinar e fértil de diálogo. O papel do professor nesse desenvolvimento é o de mediador entre os materiais que serão fornecidos ao aluno, possibilitando-os inúmeras leituras, podendo ser compartilhada, a declamação de algum texto, poemas, musicada, entre outros.



A leitura é extremamente essencial ao desenvolvimento da escrita, do raciocínio, da criatividade, do modo de pensar, contribuindo positivamente para a vida do leitor, fazendo com que seu conhecimento de mundo, seu vocabulário e seus argumentos aumentem, e sejam mais convincentes em debates, conversas, sem contar que estimula a concentração. Dessa forma para uma leitura agradável e prazerosa deve-se estimular os filhos desde pequenos, por meio da utilização fantoches ou outros instrumentos que seja atrativo para a criança, podendo assim fazer uma leitura dramatizada e usando de toda a nossa imaginação e criatividade para que o livro que se põe na boca, seja um instrumento de leitura e prazer.

A leitura no desenvolvimento do aluno
            Diante do exposto até o presente momento, faz-se de suma relevância mencionar o ensinamento de Bamberger (1975) a respeito do ato de ler, qual seja “o desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que principia no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora”. Mas qual seria a real importância da leitura infantil para o desenvolvimento da criança? É possível afirmar que esta leitura propicia o desenvolvimento da imaginação, da emoção, dos sentimentos e do senso crítico, além de auxiliar o aprendizado.
            Para que as crianças leiam não basta tão somente que tenham interesse e que seus pais e escola as motivem - deve haver ainda a adequação do livro a faixa etária ao qual esta se enquadra.


           Para tanto, de acordo com Eliane Fernandes de Castro [1] existem cinco categorias que norteiam as fases do desenvolvimento psicológico da criança, são elas: o pré-leitor, o leitor iniciante, o leitor-em-processo, o leitor fluente e o leitor crítico.
            De acordo com a autora (id.), a fase do pré-leitor abrange outras duas fases: a primeira infância (dos 15/17 meses aos 3 anos) e a segunda infância (a partir dos 2/3 anos). Na primeira infância a criança começa a conhecer o mundo em que vive por meio do contato afetivo e do tato – abrange inclusive a primeira leitura e manuseio do livro; esta fase abrange o início da fala. Na segunda infância a criança é caracterizada como individualista, ganha credibilidade com a comunicação e inicia espécies de “brincadeiras” com o livro.


            O leitor iniciante compreende a faixa dos 6 e 7 anos. Nesta fase a criança dá início à decodificação dos gráficos. Vale lembrar que a presença do adulto enquanto estimulo é fundamental, mesmo que abranja a leitura de livros com linguagem simples, com começo, meio e fim.
            O leitor-em-processo possui entre 8 e 9 anos e já domina o mecanismo da leitura, uma vez que:
Seu pensamento está mais desenvolvido, permitindo-lhe realizar operações mentais. Interessa-se pelo conhecimento de toda a natureza e pelos desafios que lhes são propostos. O leitor desta fase tem grande atração por textos em que haja humor e situações inesperadas ou satíricas. O realismo e o imaginário também agradam a este leitor. Os livros adequados a esta fase devem apresentar imagens e textos, estes, escritos em frases simples, de comunicação direta e objetiva. De acordo com Coelho (2002) deve conter início, meio e fim. O tema deve girar em torno de um conflito que deixará o texto mais emocionante e culminar com a solução do problema. [2]


            Já o leitor fluente tem geralmente início a partir dos 10 e 11 anos, encontrando-se em:

[...] fase de consolidação dos mecanismos da leitura. Sua capacidade de concentração cresce e ele é capaz de compreender o mundo expresso no livro. Segundo Coelho (2002) é a partir dessa fase que a criança desenvolve o “pensamento hipotético dedutivo” e a capacidade de abstração. Este estágio, chamado de pré-adolescência, promove mudanças significativas no indivíduo. Há um sentimento de poder interior, de ver-se como um ser inteligente, reflexivo, capaz de resolver todos os seus problemas sozinhos. Aqui há uma espécie de retomada do egocentrismo infantil, pois assim como acontece com as crianças nesta fase, o pré-adolescente pode apresentar um certo desequilíbrio com o meio em que vive.
O leitor fluente é atraído por histórias que apresentem valores políticos e éticos, por heróis ou heroínas que lutam por um ideal. Identificam-se com textos que apresentam jovens em busca de espaço no meio em que vivem, seja no grupo, equipe, entre outros.É adequado oferecer a esse tipo de leitor histórias com linguagem mais elaborada. As imagens já não são indispensáveis, porém ainda são um elemento forte de atração. Interessam-se por mitos e lendas, policiais, romances e aventuras. Os gêneros narrativos que mais agradam são os contos, as crônicas e as novelas. Disponível em: <http://meuartigo.brasilescola.com/educacao/a-importancia-literatura-infantil-para-desenvolvimento.htm> Acesso em: 10 nov. 2013.

            Por fim, o leitor crítico (a partir dos 12/13 anos). Nesta fase o leitor já apresenta pleno domínio da leitura e da linguagem escrita, logo, apresenta maior capacidade de refletir e consequentemente de intertextualizar.


            Conclui-se então que tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental há o desenvolvimento do processo educativo, de forma que visa o pleno desenvolvimento da criança, logo, importante se faz ressaltar que nestes períodos o processo de construção da leitura deve acontecer de “forma lúdica, reflexiva e interdisciplinar, especificamente no que diz respeito a formação de um leitor”.[3]

O papel da família na formação do leitor

O gosto pela leitura nasce no âmbito doméstico, visto que a influência da família na mediação e na formação de leitores é evidente, indiscutível, pelo fato de ser o primeiro elo da criança com o mundo. Pais que privilegiam a leitura e o ato de contar histórias infantis aos filhos, iniciando-se desde a barriga da mãe e posteriormente partindo para os momentos antes de dormir, terão um resultado diferenciado de outras famílias, que não têm como prioridade a arte de ler.


 Autores especializados no assunto (SILVA, 1995; SOUZA & SANTOS, 2004; entre outros) afirmam que os pais podem iniciar contando histórias para os filhos dormirem, presenteá-los com livros, incentivá-los a contar histórias em casa, criando sempre uma possibilidade de troca de conhecimentos. A chave é o estimulo para que as crianças, os adolescentes e os jovens tenham realmente prazer pela leitura. As crianças terão vontade de ler a partir do momento que os pais mostrarem esse interesse, pois é da maneira “tal pai, tal filho” que os hábitos funcionam, na realidade.

Silva (2003) ainda afirma que essas estratégias de promoção de leitura devem acontecer, quais sejam: “’contação’ de histórias em casa, biblioteca da criança, tempo para a leitura em casa, troca de informações sobre livros, assinaturas de jornais e revistas, visitas à biblioteca pública da cidade para fazer o cadastro etc.” (p. 34)

Bamberger (2004) ousa oferecer aos pais conselhos, tais como: contar histórias e ler em voz alta para os filhos com a maior frequência possível; organizar uma biblioteca pessoal para o filho, apropriada à sua idade, aos seus desejos, às suas necessidades e à fase de desenvolvimento em que ele se encontra; instruir os filhos para gastarem parte do seu dinheiro miúdo em livros [...]; zelar para que se reserve algum tempo para a leitura no maior número de noites possível, no qual cada membro da família lerá o seu próprio livro; participar da leitura dos filhos, isto é, conversar sobre o que estão lendo; ajudar os filhos a reconhecer que podem aplicar e usar o que lêem, porque os livros dão segurança, luz e beleza às suas vidas.



O leitor que possui já na infância o contato com a leitura distingue-se daquele que só se depara com a experiência na escola, demonstrando maior compreensão do mundo em que vive e desenvolvendo senso crítico mais aguçado do que os outros. O valor da leitura é algo que perdura por toda a vida do indivíduo, pois no futuro ninguém poderá tirá-la dele e por isso a família tem a tarefa de estimular essa prática a cada dia, em todos os momentos possíveis.

Jornais, revistas, livros ilustrados, histórias em quadrinhos, bíblias ilustradas, entre outros, são ótimas sugestões de materiais de fácil acesso e que podem estar presente nos ambientes familiares como um estímulo de leitura aos filhos. No convívio doméstico, atividades como: escritas e leituras de cartas aos membros ou amigos da família, uso de agendas telefônicas, internet, bilhetinhos de recados, cadernos de receitas, leitura da bíblia ou de outros livros em conjunto com as pessoas da casa, folhetos de supermercados, informativos de igrejas e outros, favorecem no incentivo desse ato de ler e são válidos se forem realizadas com frequência e motivação, partindo de pais para filhos.



Escola e sociedade também participam da construção do leitor

Apesar de muitos incentivos à leitura, nas escolas ou em casa, o hábito de ler ainda é ligado a uma obrigação. Em boa parte da comunidade escolar o aluno ainda lê apenas quando necessário, normalmente quando professores solicitam trabalhos escolares ou quando os livros são para o vestibular. Para esse novo leitor a leitura virou uma obrigação, afinal temos várias outras distrações durante todo o dia e ler ficou pouco chato para eles que perderam estão perdendo o gosto e vontade própria.

Nossa própria memória escolar mostra que a leitura na escola é dada de forma mecânica, o que dificulta o esse gosto pela prática tão comum, que deveria ser tratada sem qualquer restrição, por parte da escola, para que o aluno deixe de apenas decifrar as palavras, manifestando-se um diálogo significativo com o texto apresentado.

Sabe-se que a leitura é um processo básico do ser humano, socialmente é impossível viver sem nenhuma leitura: "A aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar” (VYGOTSKY, 1988, p. 109). Isso significa que toda e qualquer criança já entra na escola com algum tipo de leitura e uma bagagem bastante significativa para seu aprendizado. Nesse caso a única função da escola é moldar e estimular esse leitor já pré-familiarizado com a leitura, orientando da melhor e mais prazerosa maneira possível para que o hábito em seu cotidiano não se torne monótono. Ainda é importante que essa prática seja também espontânea.

A escola precisa se convencer de que tem papel fundamental nesse processo e se atentar para qual forma de leitura tal aluno se adéqua melhor. Afinal, sabemos que toda e qualquer atividade pedagógica traz consequências aos alunos, cabendo a nós, professores, apresentarmos a motivação ideal ao aluno.

A leitura sem orientação é a campeã de repressões, podendo até mesmo inibir a capacidade de apreensão do conhecimento da criança. Monteiro (2004) observa que a melhor forma para essa prática em sala de aula é apresentar o texto contextualizado (metodologia interacionista), aflorando com naturalidade a curiosidade da criança, de tal modo a despertar seu total interesse. Aqui é fundamental que o professor seja o seu par superior em sala de aula; aquele que o vai guiar nessa prática, incentivando-o em cada atividade, sem que o aluno espere apenas pelo resultado final. Importa acompanhar o processo de aprendizagem de cada um, para então encararmos os resultados.

Idade, dificuldade de compreender um texto, classe social e o meio em que o leitor vive são incentivos e desmotivações fundamentais na vida de qualquer leitor. Cabe à escola equipar tais leitores e fazer com que as motivações sejam mais visíveis.

Tirar boa nota é um incentivo ao aluno. Também é necessário que o aluno reserve um tempo para a leitura, desse modo a escola pode disponibilizar um dia na semana para que sejam levados livros para casa, ou trazidos livros de casa, ou ainda seja reservado um dia especialmente para essa prática, permitindo aos alunos interagir com outras salas de aula. Outros incentivos são os diferentes espaços na escola para a leitura, como bibliotecas e murais.

De qualquer forma, cabe a nós, professores, analisarmos qual a maneira mais adequada de transmitir tais conteúdos dentro e fora da sala de aula, levando em consideração os materiais a serem utilizados, o currículo seguido pela escola (sendo o par superior mediador), bem como promover o franco aprendizado baseado no simples e genuíno prazer da leitura, seja nosso aluno criança, jovem ou adulto.

Com tudo o que vimos até o presente momento, podemos concluir que a melhor maneira de criar leitores é estimular a criança mesmo antes de começar a ler. De forma que o hábito seja prazeroso, formando leitores que leiam em suas horas de lazer. Para que quando ler for uma necessidade, não seja tão penoso. Cabe então, primeiramente aos pais, que desenvolvam esse gosto nos filhos, o que fica ainda mais fácil se os pais também nutrirem o mesmo prazer. Deve-se mergulhar a criança nesse mundo de fantasia e lhes ensinar que através dos livros pode-se viajar para lugares inimagináveis. Os pais devem se conscientizar que incentivar essa prática fará toda a diferença na vida dos filhos.

         Em relação à escola, é preciso muito cuidado para que ao tratar da leitura, não transformem essa tarefa em castigo ou apenas trabalho. O que consequentemente poderá fazer com que o aluno pense que ler é ruim. É preciso mostrar as duas vertentes: que a leitura é necessária para se adquirir conhecimento, e que ler é trabalho, mas que também pode se tornar um momento agradável, que a criança pode achar livros que lhe agradem e lhe dêem prazer. Todo esse processo deve ser feito de maneira muito sutil, para que não pareça ser uma coisa imposta, autoritária. Que a compreensão de que ler é necessário seja feita de modo natural pelos pequenos, para que isso seja natural também na fase adulta.


            Se houver a adequação do livro para a faixa etária da criança, e a escola juntamente com a família fizerem o papel de intermediadores para que a criança compreenda que ler é importantíssimo para sua vida intelectual, mas que também pode ser uma atividade divertida e interessante, dificilmente este pequeno será um adulto não leitor. Pois quando incentivada e direcionada corretamente, a criança não precisará mais que esse estímulo se perpetue por toda a vida. Ela saberá "caminhar com suas próprias perninhas" e reconhecer o seu próprio gosto de leitura, quais os livros lhe interessam mais, quais ela necessita ler, etc. E como já disse antes... Isso fará toda a diferença em sua vida.

Referências
Disponível em: <http://educacaoinfantilobjetivo.com.br/?id=170> Acesso em: 10 nov. 2013
Disponível em: Acesso em: 20 nov. 2013.
Disponível em: <http://www.espacoenvolvimento.com/blog/dicas-para-os-pais/lendo-para-o-bebe.html> Acesso em: 20 nov. 2013.
Disponível em: <http://www.cuidardebebe.com/wp-content/uploads/2012/10/crianças-lendo.jpg> Acesso em: 20 nov. 2013.
Disponível em: <http://mara-aprendereensinar.blogspot.com.br/2010/08/leitura.html> Acesso em: 20 nov. 2013.
Disponível em: Acesso em: 20 nov. 2013
Disponível em: < http://www.dsconto.com/992328-projetos-de-leitura/> Acesso em: 19 nov. 2013.
Disponível em: <http://gebe.eci.ufmg.br/downloads/308.pdf> Acesso em: 11 nov. 2013.

LITERATURA COMO ARTE E PORTA DE ENSINO PARA O MUNDO

“A entrada no simbólico é irremediável e permanente: estamos comprometidos com os sentidos e o político. Não temos como não interpretar.”


Eni Puccinelli Orlandi (2000a, p. 9)

A relação literatura-arte

Piau (2005, p. 4), ao se interrogar sobre “Arte: que conhecimento é este?”, diferencia a obra de arte, como “produto do trabalho humano que pode ser percebido através de sua forma”, de arte, como “sistema de idéias [sic] que cria as condições para formulação de juízos de valor sobre as obras”. Como ele esclarece, existe uma construção histórica de critérios e parâmetros que permitem a realização desse julgamento. Não sendo nem natural nem universal, o conceito de arte depende de juízos de valor, como pontua o autor, que acusa, ainda, o fato de, na sociedade ocidental contemporânea, a arte não ser considerada como conhecimento em prol da cidadania.
Camargo (2005) apresenta preocupação de certa forma análoga ao esclarecer que o conceito de arte remete a um fazer que se inscreve nos primórdios da humanidade, como manifestação estética. Assim, o objeto da arte, diferente da ciência, “é o conhecimento não sistematizado, tomando-o pelo lado sensível, expressivo” (CAMARGO, 2005, p. 127).
Piau e Camargo articulam dentro dos territórios da Arte como área do conhecimento. Daí a importância para eles de discutir, conceitualmente, arte e obra de arte e suas significações na contemporaneidade. Mas o que interessa a nós, dessa discussão, não é a arte como área do conhecimento ou como obra de arte, e sim a arte como sensibilidade, expressão estética, forma de ver e significar o mundo, que não é desprovida do racional, mas que é entremeada pelo sensível. Até porque, como defende Zamboni (2006, p. 34), “não se deve deixar de reconhecer também que tanto no trabalho artístico como no científico existe um caráter pessoal e subjetivo na forma de trabalhar e de encontrar soluções criativas”.
Nossa proposta aqui é de considerar a literatura infantil como arte e porta aberta ao mundo neste sentido: sensibilidade para ver e significar de formas outras, múltiplas, em aberto, que extravasam o logicamente estabilizado, inscrevem a contradição como constitutiva e não como o impossível de ser aceito. O recorte que fazemos, para pensar essa relação literatura-arte, é justamente pelo jogo de imagens entre imaginário, verbal e visual no livro literário infantil.

Composição entre imagem-visual e texto verbal

Vamos tomar a relação literatura-arte como um jogo de imagens, no sentido de formações imaginárias (projeções do empírico para o discursivo) e imagem-visual (traços de representação não verbalizáveis), em composição com o texto verbal, funcionando como porta aberta de ensino para o mundo.
Consideramos a literatura infantil constituída no e pelo artístico, no jogo de textualizações verbais e visuais que conjugam sentidos e (se)abrem a interpretações.
Para tanto, focalizaremos a composição imagem-visual e texto verbal no contexto da literatura, de modo a sinalizar como essa composição, no texto literário infantil, constrói visões das realidades, no sentido de que existem realidades, no plural, e, portanto, inúmeras possibilidades de representação e significação.
Coito (2012), baseada na perspectiva da Análise de Discurso, discute a ilustração do livro de literatura infantil tendo como foco o posicionamento do ilustrador como leitor e dele como possível autor do texto imagético. Trata-se de uma escolha teórico-analítica e também quanto ao objeto construído, na qual reconhecemos contribuições significativas para se compreender o funcionamento discursivo, ao sair do reducionismo de se pensar a imagem como mera tradução ou complemento do verbal.
Outros trabalhos tem foco específico na imagem, buscando valorizá-la dentro da obra literária. É o caso de um artigo publicado por alunos de graduação em Letras intitulado “A importância das imagens/ilustrações para a literatura infanto-juvenil: compreendendo o texto sob uma nova ótica”, de autoria de Góis, Araújo e Santana Junior (s.d.).
Apesar de considerarmos a relevância dessas perspectivas, como especificidade de nossa proposição o que nos interessa, para este momento, é considerarmos a imagem-visual em livros de literatura infantil em sua composição com o texto verbal na textualização literária, e os sentidos daí advindos como formas de significar e ver o mundo.
Pensamos em composição na perspectiva defendida por Pimentel (2008) ao investigar a relação entre verbal e visual em telejornais de comunicação de massa, quando compreende a notícia sustentada e desestabilização nesse ponto de encontro. No nosso caso, quanto aos livros de literatura infantil, por um movimento metafórico, quanto à abordagem de Pimentel, a composição é tomada na constituição dos sentidos e na sustentação dos efeitos do texto literário voltado a crianças como formas de ver a(s) realidade(s).
Ressaltamos que ao não focalizarmos a autoria no plural como objeto de estudo/discussão, no sentido de separar sujeito-escritor e sujeito-ilustrador, mas pensando na composição verbal-visual como resultado dessas autorias em uma (discursividade), não estamos desconsiderando que isso seja relevante em termos de funcionamento discursivo do literário. Apenas estamos focalizando a textualização desses livros se fazendo no conjunto, nessa composição imagem-visual e verbal, produzindo formas de ver e significar.
Também defendemos que a imagem-visual nesses livros não pode ser reduzida a mero elemento ilustrativo do texto verbal escrito – embora tal abordagem seja mais comum de se ver, como já argumentado. Consideramos que sua composição com a escrita está em relação direta com a poética (como conjunto da obra finalizada) e a poiética (como processo em se fazendo) da obra literária.
Por mais que tomemos o ilustrador do livro como um sujeito que realiza a sua leitura do texto verbal, que pode ser diferente daquilo que foi pensado pelo autor da narrativa escrita, o livro é formado por esse conjunto verbal-visual, e é essa relação que desafia o leitor. Além disso, tanto na escrita quanto nas imagens visuais, colocam-se em jogo as formações imaginárias, ou seja, as imagens que temos para além dos lugares sociais ocupados pelos sujeitos.

Apontamentos para um esboço de leitura(s)

            Nessa perspectiva, tentamos esboçar, sequencialmente, percursos de leitura de três livros de literatura infantil, buscando discutir essa composição entre imagem e verbal na construção literária, de modo a apontar como tal composição vai desenhando sentidos para o mundo, formas de ver, de sentir e significar que podem ou não escapar à visão racional e formal com que somos levados a estar na sociedade/em sociedade.
A literatura infantil, a nosso ver, sendo valorizada nesse encontro entre verbal e imagem, pode favorecer a compreensão de que “os significados não caminham em linha reta. Eles saem da linha, se é que se pode dizer que eles tenham uma” (ORLANDI, 2000b, p. 97). 


A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS POR MEIO DAS IMAGENS VISUAL E VERBAL EM “ROMEU E JULIETA”, DE RUTH ROCHA

Como já discutida a relação literatura-arte como um jogo de imagens que funcionam como elementos produtores de determinados sentidos em um texto literário-infantil, tentamos aqui fazer uma breve análise da obra Romeu e Julieta (2000), ponderando-se questões voltadas às possibilidades de visões das realidades que se constroem nessa obra; visões que permitem ao leitor, de certa forma, levantar inúmeras interpretações. Nesta apropriação de imagens, não obstante, há inclusive versões para ipad da obra no site da editora Salamandra (http://www.salamandra.com.br/catalogo).
A obra de Ruth Rocha retrata a história de duas borboletinhas que vivem em um reino onde tudo o que lá existe se separa/divide pela cor: braco, azul, amarelo, vermelho, verde etc. Em um canteiro de margaridas azuis, existia uma borboletinha chamada Romeu; e em um canteiro de margaridas amarelas, existia, também, uma borboletinha, chamada Julieta. Seus sempre avisavam para que não passeassem em canteiro de outra cor, porque cada cor tinha de ficar em seu lugar.
Um dia, Ventinho, amigo de Romeu, convidou-o para dar uma voltinha pelo canteiro das borboletas amarelas; e Romeu, curioso, resolveu  aceitar o convite. Os dois foram até o canteiro das margaridas amarelas, sem avisarem seus pais. Chegando ao canteiro amarelo, Vetinho apresentou Julieta, uma linda borboletinha amarela, e os dois logo se tornaram amigos. Os três, então, resolveram sair para dar uma voltinha e acabaram entrando em uma floresta. Lá, divertiram-se, mas logo caiu a noite e eles não se lembravam mais do caminho para casa, pois a floresta havia ficado muito diferente. Enquanto isso, lá nos canteiros azul e amarelo, os pais de Romeu e de Julieta estavam preocupadíssimos com seus filhos, pois são sabiam de seus paradeiros. Em meio ao desespero, a borboleta amarela, mãe de Julieta, tomou coragem e foi até o canteiro das margaridas azuis falar com os pais de Romeu, tentando obter notícias de Julieta. Ambos decidiram então falar com o senhor Vento e dona Ventania, partindo todos em uma grande busca.
Quando amanheceu o dia, Romeu, Julieta e Ventinho viram que o céu estava cheio de cores, e ficaram muito felizes ao encontrar seus pais e voltar para casa. Quando chegou novamente a primavera, tudo estava diferente nos reinos... Os canteiros agora exibiam uma mistura de cores: margaridas, cravos, rosas, miosótis, dálias cresciam juntas e misturadas, e brincavam todas em uma grande harmonia.
O breve resumo situa que a obra trabalha com a temática “relações interpessoais”. A própria questão do preconceito, que, de certa forma, caracteriza os pais de Romeu e de Julieta, também entra em cena, quando alertam os filhos: “Não passeiem por canteiros de outra cor! Pode ser perigoso”. Eis uma grande metáfora que problematiza as relações entre raças/etnias: no início da história temos situações limitadoras e preconceituosas; mas com o desenrolar da história, por exemplo, no momento em que as borboletas de cores diferentes brincam entre si, entendemos que a autora aborda de temas como respeito, igualdade e conscientização de que todas as pessoas são especiais e suas diferenças as tornam únicas.   
Com o intuito de chamar a atenção da criança para as relações interpessoais, a autora trabalha intertextualmente com a obra de mesmo título de William Shakespeare, proporcionando aos pequenos contato com obras universais de forma descontraída e com linguagem adaptada para o mundo infantil. Mas não só a linguagem: a imagem aqui é fator primordial nessa grande caracterização de conceitos, metáforas e alegorias temáticas. Não é mera coincidência várias editoras terem se lançado na empreitada de publicar a obra, como vemos:



Edição da Editora Ática (2000) – Ilustrações de Cláudio Martins

Edição da Salamandra, com ilustrações de Mariana Massarani

Dessa forma, as cores das borboletas funcionam como instrumento material que personifica a temática e mostra, de forma criativa, a diferença entre os seres. Com as imagens há associações entre, por exemplo, seus coleguinhas e situações por eles vivenciadas, seja na mistura das cores de tinta, que o tema sugere superficialmente, ou com as cores das borboletas funcionando como gatilho de raciocínio para as crianças perceberem a diversidade que as circundam ao exemplificar que pessoas, cores, línguas, raças, etnias se misturam e se harmonizam.
Ainda com o propósito de despertar interesse no infante para que ele também imagine, se conscientize e crie histórias de sua própria autoria, percebe-se que a história acontece com diálogos feitos por seres da natureza, logo ela também adquire caráter  fabular, com conteúdo moralizante. E por serem borboletas, ficamos com a ideia de transformação, transcendência e renovação. Essa é a mensagem.


VIVINHA, A BALEIAZINHA

            Vivinha a baleiazinha, publicada em 2007 por Ruth Rocha, com ilustrações de Mariana Massarani, narra em terceira pessoa temas como o preconceito e o porquê de dizer não ao bullying assunto polêmico e em voga na realidade da comunidade escolar. Se aportuguesarmos, o termo pode equivale ao verbo "bulir", que de acordo com o dicionário Houaiss é sinônimo de "mexer, causar incômodo, fazer caçoada, zombar entre outros".
            Conta a história que uma baleia passava seus dias em profunda tristeza pelo fato de ter nascido diferente dos outros seres do mar. Ela era toda estampada, com bolinhas, listras e flores. Pois na narrativa Vivinha sofria uma espécide bullying e devido à falta de respeito, evitava se relacionar com os outros. 


Imagem – Capa da edição de 2007 de Vivinha, a baleazinha

Entretanto, sua história começa a mudar no momento em que um produtor precisa de alguém diferenciado para estrelar um filme dirigido por ele, e descobre Vivinha, que a partir de então passa a ditar moda. Todos querem ser como ela. A autora faz uma série de discussões, levantando, principalmente, o questionamento: o que leva as pessoas a agirem com as outras dessa forma? Eis um assunto a ser trabalhado de forma lúdica em sala de aula. Aqui importa dizer que as ilustrações não só dialogam com o texto, mas se impõem como fator primordial da mensagem autoral. Os elementos imagéticos chamam a atenção das crianças em vários sentidos.
Vigostsky, em seu célebre Pensamento e linguagem, considera a comunicação intrapessoal o elemento essencial para o desenvolvimento do pensamento. Para ele, a linguagem se inicia pelo uso social, de contato com outros seres humanos. A partir disso, a criança desenvolve a fala egocêntrica, e em seguida a leitura. Luis Fernando Herbert Massoni, no artigo Ilustrações em livros infantis: alguns apontamentos, explica que a ilustração é um artifício peculiar utilizado nos livros infantis para chamar atenção das crianças, além de também ser uma imagem que pode substituir um texto, ampliá-lo, adicionar a ele informações, ou também questioná-lo. Neste contexto, Ruth Rocha, ao executar a história, cria uma baleia estampada para trabalhar com questões polêmicas de um modo sutil
Massoni ainda destaca que as ilustrações, como instrumentos de formação dos leitores na infância, são utilizadas para fazer com que a criança ligue à história. Não é por acaso que a contribuição do ilustrador torna-se tão destacável quanto a do autor no livro, de tal modo que quando analisamos uma história infantil não podemos desconsiderar as ilustrações nela presentes – justamente para que não se omitam elementos do discurso. 
Diante de tais conceitos, é mais do que visível que Ruth Rocha usou de elementos imagéticos de forma criativa e perspicaz, pois qual o melhor meio para se falar de bullying e de diferença senão com a figura de uma baleia estampada?


RUTH ROCHA: O AMIGO DO REI

 Ruth Rocha, eleita para a cadeira n°38 da Academia Paulista de Letras, tem formação em Sociologia e atua há longos anos área de educação. Essa mescla de visões parece ser o motor propulsor que guiou a autora a escrever obras das mais importantes na literatura infantil brasileira, a exemplo de Marcelo, Marmelo, Martelo; O Pintinho que nasceu quadrado; Romeu e Julieta; e O amigo do rei.                  Na obra O amigo do rei, publicada em 2009 pela Editora Salamandra, retrata dois meninos de raças diferenciadas: branca e negra, que nasceram em lugares diferentes e, portanto, vivenciam distintas realidades: o personagem Matias, escravo, nasceu na senzala; e o personagem Ioiô, livre, nasceu na casa-grande da fazenda. 

Imagem 1 – Capa da edição da Ed. Salamandra, 1999 (Col. Vou Te Contar).

             No decorrer da história, os personagens tornam-se amigos e um ajuda o outro nas necessidades que acontecem no caminho. O personagem Matias torna-se rei de sua aldeia; e Ioiô leva adiante essa amizade durante toda sua vida.
             O que chama atenção na história é que Ruth Rocha trabalha com o fato de que os amigos lutam juntos pela vitória da liberdade. Na despedida, ápice do pathos da narrativa, os personagens se despedem com emoção:
   Um dia a gente se encontra, quando o meu povo não for mais escravo. E Matias voltou para a sua aldeia e muito lutou por sua gente. Para que ninguém fosse escravo nunca mais. Muitos lutaram também, lado a lado. Muitos negros, mulatos e brancos. E entre eles, Ioiô: o amigo do Rei.
          A autora propõe trabalhar com uma temática visceral da realidade brasileira: o combate ao preconceito de raça. Para a criança leitora, fica a mensagem: “todos somos iguais”, apesar de desde muito cedo vivenciarmos a diferença entre as classes econômicas. Ruth Rocha enfatiza a questão do respeito ao próximo, da ética e do convívio social diário.
    As imagens retratadas na obra são de grande interesse para os leitores infantis, em especial pelo desenrolar do enredo, notado no diálogo entre os personagens:

Matias, às vezes, contava a Ioiô:
Sabe, Ioiô? Eu não vou ser escravo sempre, não. Um dia eu vou ser Rei...
Ioiô ria: Como é isso Matias?
É o que os escravos dizem...
Que lá na nossa terra meu pai era um grande Rei. E eu vou ser Rei, também.
Ioiô não acreditava: Só vendo.
Matias insistia: Vai chegar o meu dia...

Aqui, vemos a noção histórica e de relação do dominante/dominado descrita de um modo simples e eficaz. De fato, O amigo do rei promove a criatividade, a criticidade e a sensibilidade do pequeno leitor, que motivado por palavras positivas, também é enriquecido pelas possibilidades semânticas, sintáticas e fonéticas da língua materna. Em outras palavras, as crianças aprendem brincando o idioma e a história de seu povo.

Conclusão

            Nota-se que, no percurso das obras analisadas Vivinha a Baleazinha, O Amigo do Rei e Romeu e Julieta de Ruth Rocha, prevalecem diferenças sociais, raciais, étnicas e culturais dos personagens. A autora recria cenas que coincidem com situações experimentadas pelas crianças, aliadas aos detalhes das ilustrações que realçam ainda mais o grau de empatia que texto propõe, adquirindo um caráter identificador para quem o lê.
            Em Vivinha a Baleazinha, a autora apresenta uma personagem disposta a interagir com o mundo em que está presente mesmo com o suposto entrave de sua pele estampada, que na realidade demarca o quanto ela é exuberante, e como se dá sua adequação no espaço em que convive o qual leva os outros animais marinhos perceberem como ela deve ser respeitada. Em Vivinha é permitido através das ilustrações as crianças ensaiarem reflexões sobre: como o mundo é colorido e diversificado?, O que seria de nós sem a alegria das cores? Como as pessoas seriam se nossa pele, por exemplo, exibisse apenas uma tonalidade de cor? São questões simples, pequenas, mas já direciona a criança no caminho da reflexão.
             Já em O Amigo do Rei, os personagens Ioiô e Matias demonstram como a escravatura interferia nas relações de amizade entre negros e brancos, e como eles superaram as imposições sociais da época de forma inusitada e corajosa, além disso, a autora  presenteia as crianças com ilustrações que tiveram como fonte o pintor Rugendas, grande mestre que percorreu o Brasil em busca de cenas autênticas do cotidiano brasileiro, principalmente o dos negros.
            Por fim, Romeu e Julieta costura todas as idéias acima elaboradas, com a união dos insetos nos canteiros. Esta união salienta aos pequenos a preciosidade do ompanheirismo e a confiança no próximo, tudo isso demonstrado em ilustrações que demarcam grande parte do livro para o estímulo do sentido visual e criativo das crianças, incentivando-as a brincarem entre si e para si com a pintura e também a escrita, o que possibilita a descoberta do quanto são capazes de criarem suas próprias histórias, e tornarem-se pessoas inspiradas pelo espírito artístico literário.
               Para encerrar fica a sugestão de atividades relacionadas com as obras O Amigo do Rei e Romeu e Julieta, juntamente com o link do site Prosa dos Ventos esse destinado a divulgação de histórias, contos folclóricos, contação de histórias, teatro e muito mais relacionado ao mundo literário infantil. 





Referências


CAMARGO, Isaac Antonio. Reflexões sobre arte e ciência. In: MOREIRA, Maria Carla Guarinello de Araújo (Org.). Arte em pesquisa. Londrina: Eduel, 2005. p. 125-131.

COITO, Roselene de Fátima. A ilustração: da materialização do interpretável. In: NAVARRO, Pedro: POSSENTI, Sírio (Orgs.). Estudos do texto e do discurso: práticas discursivas na contemporaneidade. São Carlos: Pedro & João, 2012. p. 151-165.


MASSONI, Luís Fernando.  Ilustrações em livro infantis: alguns apontamentos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, s/d. Disponível em: http://www.ceart.udesc.br/dapesquisa/files/9/02VISUAIS_Luis_Fernando_Herbert_Massoni.pdf, acessado em 19 nov. 2013.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 2. ed. Campinas: Pontes, 2000a.

______. Discurso e leitura. 5. ed. Campinas: Edunicamp, 2000b.

PANOZZO, Neiva. Literatura Infantil: uma abordagem das qualidades sensíveis e inteligíveis da leitura imagética na escola. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). Programa de pós graduação em educação. (2001), 127p.

PIAU, Kennedy. Introdução. Arte: que conhecimento é este? In: MOREIRA, Maria Carla Guarinello de Araujo (Org.). Arte em pesquisa. Londrina: Eduel, 2005. p. 3-16.

PIMENTEL, Renata Marcelle Lara. Versões de um ritual de linguagem telejornalístico. 2008. 368 p. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.

ROCHA, Ruth; Eich il, Cris. O amigo do rei. Col. Vou te Contar. São Paulo: Salamandra, 2009.

ROCHA, Ruth. Vivinha, a baleiazinha – Col. Pulo do Gato – 2ª Ed. São Paulo: Salamandra, 2013.

ROCHA, Ruth. Romeu e Julieta. São Paulo: Moderna, 2013.

VIGOTSKY. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte e ciência. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2006.

GT 4