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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A LINGUAGEM INDÍGENA NAS HISTÓRIAS INFANTIS


As histórias indígenas destinadas ao público infanto-juvenil têm características bem particulares em relação à linguagem. Tendo como base as postagens anteriores sobre os livros “Menino Poti” e “A Lenda de Guaraná”, pode-se observar que a linguagem utilizada segue as regras da Língua Portuguesa padrão. As histórias são todas contadas em português para que possam atingir o público de outras culturas com a intenção de disseminar a cultura indígena. No entanto o nome dos personagens são os tradicionais de cada tribo. Além da preservação dos nomes em língua materna, eles são grafados na sua forma original, na sua língua.


Tendo em vista que a obra grafada em português deixa de apresentar a cultura oral indígena original, algumas editoras tomaram a iniciativa de gravar as narrações das histórias em suas línguas originais acompanhados dos textos no idioma indígena.
A língua indígena falada é parte inerente da contação de histórias. A iniciativa faz com que as crianças interajam melhor com as antigas lendas indígenas.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Os dois aspectos da ilustração na Literatura Infantojuvenil indígena

 
As narrativas indígenas têm como umas das principais características a ilustração. Sua importância decorre de dois aspectos: a preservação da cultura indígena e tornar a leitura mais didática. No primeiro, normalmente, os desenhos são coloridos e feitos pelos próprios índios. Para eles, a ilustração é tão importante quanto a própria narrativa; é a narrativa. São utilizadas para representarem a cultura indígena.
 
Livros que não são escritos por índios costumam apresentar falha ao focar apenas na narrativa, alguns se esquecem da ilustração e acabam não representando a cultura com fidelidade.
 
A literatura indígena ainda está muito ligada à tradição oral. Os escritores, indígenas ou não, desejam representar suas tradicionais canções, narrativas orais por meio da literatura escrita, em suas línguas de origem ou pela própria língua portuguesa. A leitura de textos indígenas, principalmente de autoria indígena, deve ser orientada pelo contexto da oralidade. O leitor deve colocar-se como ouvinte, tornando a leitura mais dinâmica e prazerosa. Como exemplo dessas ilustrações a imagem a seguir:
 
 “Você está preparado para conhecer a história de Myrakãwéra? Yaguarê Yamã reúne a lenda dos parintins e dos maraguás, povos indígenas do Amazonas, para contar as incríveis aventuras dos curumins Ãgnáw e Ãgapany na região amaldiçoada de Myrakãwéra. Ninguém está a salvo dos temidos mortos-vivos e das formigas gigantes que aterrorizam o lugar!" (Yaguarê Yamã, disponível em: http://yaguareh.blogspot.com.br/)
 
Por outro lado, a ilustração tem a função de tornar a leitura do texto mais didática. Segundo SIMM; BONIN (2011), geralmente as imagens construídas dos índios são facilmente reconhecidas como tal, figuras esteriotipadas – cabelo preto, tanga, pele morena, rosto com pintura, cocar etc. Essa simplificação é explicada pela provável dificuldade enfrentada pelos leitores – jovens e crianças – com imagens mais complexas que necessitam de um conhecimento prévio para serem interpretadas. “[...] ao naturalizarmos as características de um sujeito em geral somos impelidos a atribuir estas mesmas características a todos os que identificamos como seus pares – a expressão coloquial ‘viu um índio, viu todos’, se aplica muito bem a esta simplificação.” (SIMM; BONIN, 2011, p. 90).
 
A seguir um exemplo de ilustração com essa função, ilustração de Inez Martins:

 
 

GT3

Fonte:

Anais do SILEL, v. 2, n. 2. Uberlândia: EDUFU, 2011. Disponível:

Mitos indígenas: a mulher que vira beija-flor


Os índios trazem consigo diversas histórias com mitos, que para eles, confundem-se com a realidade. Por muito tempo toda essa tradição era passada boca a boca pelos pajés e entre os demais indígenas da tribo. Hoje, eles têm a oportunidade de escrevê-las em livros. É o caso da comovente história de “A mulher que virou beija-flor para libertar sua filhinha”, em que Coaciaba, uma bela e jovem índia, ao perder o marido guerreiro, desfalece de saudades deixando sozinha a pequena filha do casal, que também não resistindo de tristeza, pede aos espíritos que a levem para junto da mãe e acaba morrendo, tornando-se uma linda flor lilás.  Os índios trazem consigo diversas histórias com mitos, que para eles, confundem-se com a realidade. Por muito tempo toda essa tradição era passada boca a boca pelos pajés e entre os demais indígenas da tribo. Hoje, eles têm a oportunidade de escrevê-las em livros. É o caso da comovente história de “A mulher que virou beija-flor para libertar sua filhinha”, relatada por Leonardo Boff (apud BORTOLIN, 2004). Nesta história, Coaciaba, uma bela e jovem índia, ao perder o marido guerreiro, desfalece de saudades deixando sozinha a pequena filha do casal, que também não resistindo de tristeza, pede aos espíritos que a levem para junto da mãe e acaba morrendo, tornando-se uma linda flor lilás.



A mãe fora, antes transformada em borboleta, um dia pousou na flor lilás e,  ouvindo lá dentro um choro, reconhece a voz da filha e tenta libertá-la. Não conseguindo, apela aos espíritos para ser transformada em beija-flor. Ao ser atendida, liberta a filha e ambas voam juntas, felizes até o céu.
 
Pode-se então notar nesse pequeno conto, os mitos que os indígenas ainda levam, de acreditar que os espíritos podem transformar os mortos em animais ou outros seres. Algumas tribos, ao enterrarem uma criança órfã, cobrem-na com flores lilás para que a mãe possa vir buscá-la. Esse conto torna-se de fácil compreensão por ter como tema o amor, que é universal. No entanto não é sempre assim. Apesar de os mitos serem expressões populares que estão presentes na sociedade, de um modo geral, os mitos indígenas são de mais difícil compreensão, uma vez que não conhecemos bem a cultura e valores desse povo. Para um melhor entendimento, em alguns casos, é necessário entrar em contato, estudar um pouco a cultura para perceber a riqueza de suas significações. Assim, além dos cantos, diálogos cerimoniais e outros discursos, os mitos fazem parte da forma de expressão oral dos indígenas e, alguns, como “A mulher que virou beija-flor para libertar sua filhinha”, foram escritos e publicados, apresentando a cultura indígena.



GT3

Fonte:
 
BORTOLIN, Suely. A presença do indígena na literatura infanto-juvenil brasileira. Outubro de 2004. Disponível em:


domingo, 25 de agosto de 2013

Literatura infantil indígena: questões de identidade e representação

 De acordo com o Censo 2012, no Brasil vivem cerca de 896 mil índios advindos de 305 etnias das quais 180 ainda preservam suas línguas nativas.

Dados do Núcleo de escritores e Artistas Indígenas, órgão vinculado ao Instituto Indígena Brasileiro para Propriedade Intelectual, mostram que desse total apenas 35 ocupam a profissão de escritores.  Ainda segunda a Instituição, estima-se a publicação de pouco mais de 200 títulos, entre produções impressas por universidades e nas aldeias. A cultura indígena ainda é pouco conhecida e respeitada no Brasil, uma vez que, não é dada nas escolas a devida atenção que merece. Diante disso, faz-se necessário entender que, diferente do que pensam e abordam algumas pessoas, os índios não são tribos canibais e possuem sua cultura, que outrora era apenas passada pelos pajés e índios anciãos, e hoje é escrita e publicada em livros.
 
Daniel Munduruku, principal nome do movimento de autores indígenas, e Olívio Jekupé são exemplos de escritores que nasceram em aldeias e hoje escrevem literatura infanto-juvenil de temática indígena.

“Somos parte de uma teia que se inscreve dentro de cada pessoa. Somos PARTE, não donos. É isto que essa literatura que escrevemos traz de novidade: ela lembra que não podemos ser arrogantes, nos considerando o ápice da natureza. A educação só fará sentido se contribuir para que as crianças pensem uma forma nova de mantermos o planeta vivo. É isso que, de certa forma, os povos indígenas brasileiros continuam a nos ensinar”, diz Daniel Munduruku.

Para Olívio Jekupé, a história oral sempre foi e será importante, e tem a consciência de que a escrita juntamente com essa tradição, ajudará a fortalecer e a eternizar as origens culturais dos povos indígenas.  
 

Os livros indígenas apresentam histórias com as lendas e convívios com a natureza que é do domínio das tribos. E também de alguns mitos e costumes que hoje são praticados por nós, mas que iniciaram nas atitudes dos índios.

Fontes
Acesso em 8/08/2013
 
GT 3

domingo, 28 de outubro de 2012

A representação do índio nas ilustrações da literatura infatil indígena


Nas postagens anteriores já havíamos abordado as diferentes representações e significados que as ilustrações podem trazer ao texto. Na postagem de hoje, vamos trabalhar com uma figura – o índio – e suas representações em histórias em quadrinhos e livros infanto juvenis, observando as características de cada uma delas e quais os efeitos de sentido que cada uma delas provoca. Para isso, nos baseamos em trechos do artigo “Imagens da vida indígena: uma análise de ilustrações em livros de literatura infantil contemporânea” de Verônica Simm e Iara Tatiana Bonin (2011).
        Segundo as autoras:

“(...) de um modo geral, nas ilustrações estão presentes alguns estereótipos, que serviriam para construir uma imagem facilmente reconhecível. Em parte, esta representação simplificada e baseada em estereótipos se vincula ao entendimento de que os leitores – crianças e jovens – não disporiam de elementos mais complexos para “ler” uma imagem que não fosse óbvia. Tal entendimento poderia explicar a simplificação de algumas cenas da vida indígena (SIMM; BONIN, 2011, p.3).”

            Desse modo, a representação indígena feita por Maurício de Souza, do personagem Papa-Capim remete a imagem que todos temos de um índio, isto é,

“(...) um indiozinho que facilmente reconhecemos, mesmo que o personagem não esteja inserido nos quadrinhos, ou no contexto da floresta. A cor da pele, o corte de cabelo, a tanga ao estilo norte americano são, por exemplo, os traços que distinguem este personagem (SIMM; BONIN, 2011, p.3).”

 
Na figura acima, ilustrada por Maurício de Souza, o Papa Capim e o outro personagem, apesar de estarem em cima de uma árvore, o que retrata a realidade da vida indígena em contato direto com a natureza, observam a cidade caracterizada pela presença de vários prédios. Isso mostra que, mesmo com a chegada da modernidade, discutida pelos personagens no diálogo, o índio não perde suas características principais: a tanga, o corte de cabelo, seus adornos, a cor da pele, etc, o que compõe o estereótipo de índio presente na sociedade.
Pensando em livros infanto juvenis, as representações indígenas continuam sendo retratadas da mesma forma, por meio de tais traços característicos. Para pensar essa questão, retomamos as capas de três livros ilustrados por Inez Martins – Um Sonho que não Parecia Sonho, Caçadores de Aventura, O Sumiço da Noite, todos de autoria de Daniel Munduruku, destacadas abaixo:

 


 
       
Nos dois primeiros livros, os índios continuam a ser representados de forma tradicional: na figura 1, deitado em uma rede e na figura 2, com instrumentos de caça e pesca (o arco e flecha), além de manterem os traços característicos: a pintura, os adornos, entre outros. Na terceira figura, esses traços se mantém,

 “ (...) no entanto ele [o índio] é representado com dois símbolos de poder, que estabelecem certo lugar hierárquico em relação aos outros personagens: o cocar e um instrumento ritualístico (um recipiente no qual se guarda os segredos da noite) (SIMM; BONIN, 2011, p.3)”

         Com essa ilustração percebemos que esse índio não é “tradicional”, ou seja, não é retratado com base no senso comum, mas por meio de particularidades de uma tribo, pensando nas suas especificidades.
         Para finalizar, destacamos que além da ilustração contribuir para a construção de sentidos no texto, também auxilia na construção de identidades, e nesse caso de um estereótipo – o índio. O que poderia ser feito em todas as obras que ilustram o índio é considerar as diferentes tribos e a importância de cada uma, valorizando a diversidade na cultura indígena em suas representações imagéticas e sendo fiel as suas particularidades.



Referências:

SIMM, V.; BONIN, I. T. imagens da vida indígena: uma análise de ilustrações em livros de literatura infantil contemporânea. Revista Historiador. Nº 4. Ano 4. Dez, 2011.

 
GT6 - HQs e ilustração do livro infantojuvenil



quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Kaká Werá Jecupé: uma importante personalidade indígena

Kaká Werá Jecupé é um importante nome da cultura e da literatura indígena, não só infantil. O escritor concedeu uma grande entrevista, na qual ele fala sobre sua vida e sua história, para o site "Museu da pessoa". Clique aqui e confira a entrevista na íntegra.
Na entrevista, é possível perceber as facetas de Kaká Werá Jecupé. O autor de "As fabulosas fábulas de Iauaretê", também tem uma grande preocupação com o meio ambiente e é presidente do Instituto Arapoty, no vídeo abaixo é possível conhecer mais sobre os projetos ambientais que ele coordena:


A preocupação ambiental não é o único foco do projeto que o escritor coordena, o Instituto Arapoty também possui uma preocupação cultural e literária. Assim, foi criado o projeto Fábulas de Iauaretê. O projeto é baseado no livro "As Fabulosas Fábulas de Iauaretê" e contempla palestra do escritor, contação de histórias da Cia Duberrô e oficinas culturais. No vídeo a seguir podemos saber um pouco mais sobre o projeto que nasceu na literatura infantil indígena: 



Grupo 1: Literatura infantil indígena

"As fabulosas fábulas de Iauaretê"- Kaká Werá Jecupé

Kaká Werá Jecupé nasceu em 1º de fevereiro de 1964, no distrito de Parelheiros, em São Paulo (SP), é de origem tapuia. Além de escritor, também é empreendedor social e fundador do Instituto Arapoty.

Kaká Werá Jecupé escreveu livros para o público adulto, para o público infantil escreveu "As fabulosas fábulas de Iauaretê" - a onça que virou guerreiro kamaiurá, casou com Kamakuã, a bela, que gerou Iauaretê-mirim, que perseguiu o pássaro Acauã para conseguir a pena mágica e voar até Jacy-Tatá, a mulher-estrela, senhora do segredo dos poderes dos pajés - e conta os melhores momentos de uma das mais divertidas lendas do ideário Guarani: as aventuras da onça Iauaretê e de seus filhos, Juruá e Iauaretê-mirim.  Além disso, as ilustrações foram feitas por e Sawara, filha de 11 anos do autor.  As fábulas da obra abordam temas como medo, coragem, dúvida, amor, morte, paz, oportunidade, erros e acertos que vivenciamos, divertindo e emocionando adultos e crianças.



Referências:


Grupo 1: Literatura infantil indígena

A lenda da Vitória-Régia

A literatura infantil indígena tem como um de seus pilares as lendas. Essas lendas, muitas vezes, são utilizadas pelas escolas para trabalhar  o imaginário infantil e disseminar a cultura indígena e, consequentemente, brasileira. Assim, é comum encontrar vídeos que contam essas lenda voltados para o público infantil. 
A lenda da Vitória-Régia é pertencente a cultura dos índios da Amazônia, pois a planta é típica da região. Apesar de algumas mudanças de enredo, as lendas têm a mesma essência: a índia que mergulha no mar para se aproximar da lua e acaba se transformando na planta. 
Essa lenda, que foi preservada no decorrer do tempo pela tradição oral dos índios, atualmente chega até nós e até nossas crianças por meio de vídeos, como os que seguem abaixo:



Grupo 1: Literatura infantil indígena

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Eliane Potiguara - autora indígena conhecida no Brasil e no Mundo.

A literatura indígena no Brasil surgiu como forma de conscientização para que a cultura e crença desses povos não fossem esquecidas com o tempo. Essa literatura passou a ser incentivada através da Educação Indígena, para que os próprios indígenas sejam realmente os interlocutores de suas culturas. Tendo como base essa iniciativa, o número de escritores indígenas aumentou no Brasil, entre eles, podemos citar: Daniel Munduruku, Kaka Werá Jecupé, Ataneia Feijó, dentre outros. Na imagem abaixo podemos ver alguns dos escritores citados.

Autores indígenas reunidos. Entre eles: Daniel Munduruku e Eliane Potiguara. Imagem disponível em: http://www.elianepotiguara.org.br/autoresindigenas.html


Além de Daniel Munduruku citado anteriormente em nossas postagens temos também outra autora indígena bem conhecida que é Eliane Potiguara. Ela é escritora, professora, tem 54 anos, é Conselheira do Inbrapi (Instituto Indígena de Propriedade Intelectual) e Coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na Internet e o Grumin/Rede de Comunicação Indígena. Atualmente, Eliane foi indicada para o Projeto internacional Mil Mulheres Para o Prêmio Nobel da Paz. Ela é uma das quatro indígenas entre as 52 brasileiras indicadas ao prêmio.

Eliane é formada em Letras (Português – Literatura), licenciada em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, participou de vários seminários sobre Direitos Indígenas na ONU, organizações governamentais e ONGs nacionais e internacionais. Portanto, Eliane Potiguara é uma representante nacionalmente e internacionalmente bem conhecida por defender e divulgar a cultura indígena. Segue abaixo um retrato da autora.

Autora indígena: Eliane Potiguara na mesa Vozes Livres em Berlim.




Uma obra bem interessante que conta a história de amor de um casal indígena que se separou na época da colonização brasileira, causando as maiores violências e destruições étnicas. Ao viajarem pelos cinco séculos em busca de um e outro, eles conhecem todas as Américas e suas histórias. O romance poético fala de amor, relações humanas, paz, identidade, história de vida, mulher, ancestralidade e família. O livro descreve os valores contidos pelo poder dominante e, quando resgatados, submergem o selvagem. Discorre, também, sobre a luta do movimento indígena, fala sobre o papel fundamental da mulher indígena no contexto cultural e a sua real contribuição na sociedade brasileira. Portanto, em sua história traçou o destino dos povos indígenas com consciência e determinação, buscando assim, a construção de um novo homem e de uma nova mulher mostrando que os princípios indígenas podem contribuir para o futuro do Brasil.

Para quem tiver mais interesse sobre a história, e sobre a vida de Eliane Potiguara é só acessar o site: http://www.elianepotiguara.org.br/home.html ou para quer quiser ler a referência das obras estão disponíveis no site: http://www.elianepotiguara.org.br/autoresindigenas.html

Mas, para quem tiver mais interesse ainda e quiser ler tudo sobre ela é só entrar no blog da autora que é: http://elianepotiguara.blogspot.com/

Boa leitura a todos.
Espero que tenham gostado.

Imagens usadas disponiveis em:


Eliane Potiguara lançou três livros, “Akajutibiró: terra do índio Potiguara”; A Terra é a Mãe do índio” e em 2005 a autora lançou um romance poético que se chama "METADE CARA, METADE MÁSCARA".

Postado por GT1-Literatura Infantil Indígena

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A Escrita Indígena no Brasil

    No artigo publicado no link abaixo, de autoria de Lynn Mario T. Menezes de Souza, surge uma discussão sobre a passagem da língua oral para a escrita.
O autor levanta questões como a de que, originalmente, a história era para ser contada para um grupo de pessoas, o que exige uma certa performasse por parte do narrador. Assim, o ato de contar histórias se torna uma questão social, enquanto a leitura elimina essa função.
 
    Outra questão discutida é sobre a autoria. Souza afirma que os textos de tradição autoral tendem a apresentar uma autoria coletiva, pois todos participam do processo de produção, até mesmo os que apenas ouvem, pois suas reações direcionam a história.
 
    Ainda são discutidos no artigos questões como o tempo da narrativa e a padronização da história. Souza defende a ideia de que a padronização que surge através da passagem do texto oral para a escrita é um crime para a história original, pois mantém a narrativa sempre a mesma.
 
    Enfim, um artigo bem escrito que demonstra alguns problemas a respeito da descaracterização da cultura indígena. Vale a pena ser lido.
 


Grupo 1: Literatura Infantil Indígena

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Daniel Munduruku Estreia Coluna em Revista Digital

 
  O escritor indígena Daniel Munduruku iniciou neste mês de outubro sua nova coluna na Revista Digital Emília. Criada a partir da iniciativa de um grupo de profissionais ligados à área editorial, interessados em promover, por meio democrático, a prática de leitura de textos literários em crianças e jovens, além disso, busca oferecer  um meio de discussão e reflexão sobre questões ligadas a literatura infanto-juvenil.
 
  Em sua primeira publicação, Daniel Munduruku escreveu sobre a língua como técnica para a transformação da memória ancestral em identidade. Segundo o autor, os povos indígenas são detentores de conhecimentos ancestrais, no entanto suas tradições eram passadas por meio da fala, palavra e oralidade, obrigando as novas gerações a por em ação a memória. Sendo assim, discute que  a memória dos povos indígenas dominados abriga repertórios que serão atualizados com novos acontecimentos, pois  possibilitará novos sentidos, abrigando novos elementos que serão repetidos em um movimento cíclico ao longo da história.  
 
  Munduruku, por fim, observa que o papel da literatura indígena é ser portadora da boa notícia do (re)encontro entre essa memória ancestral,  negada pelos povos invasores e a memória ancestral 'atualizada'.
 
  Nesse contexto, portanto, o autor utiliza de mecanismos diversos para prender a atenção do leitor, um deles é a presença de um  pequeno poema para finalizar seu texto, nos deixando instigados a ler as próximas publicações.
Ficaremos atentos!
________________________
Para a leitura completa da coluna de Munduruku e da Revista Emília seguem os links abaixo: Coluna de Daniel Munduruku / Revista Emilia

( Foto retirada de : http://flipzona.wordpress.com/2011/07/08/um-pouco-sobre-daniel-munduruku-e-heloisa-prieto/ - acesso em 31/10/11)


Grupo 1: Literatura Infantil Indígena

domingo, 30 de outubro de 2011

“Histórias Que Eu Ouvi e Gosto de Contar”

Obra original: MUNDURUKU, Daniel; Ilustrações, CAMPOS, Rosinha. “Histórias que eu ouvi e gosto de contar”. São Paulo. Callis, 2004 Resenhado por Jéssica Fernanda de Oliveira Silva.

  Daniel Munduruku é índio da nação Munduruku, formado em Filosofia pela UNISAL–Lorena, já trabalhou com crianças carentes, lecionou em escolas públicas e particulares, atuou no cinema e em comerciais pra tevê. Também escreveu premiados livros pra crianças e jovens, entre eles Coisas de índio, pela editora Callis e O segredo da chuva, pela Ática. Além disso, é diretor- presidente do Instituto Brasileiro para Propriedade Intelectual (INBRAPI), atualmente vive em São Paulo e é casado com Tania Mara e tem três filhos.

  Com tantos pontos a favor, Daniel é um dos mais conhecidos e se não mais importante escritor indígena. Sendo assim, nasceu mais um livro de Munduruku: “Histórias que eu ouvi e gosto de contar”, em que o autor busca recontar as histórias reais que ouviu, tanto de familiares quanto de amigos, sobre os mitos e crenças que permeiam a vida indígena até hoje. Para tanto, em um capítulo intitulado “Umas palavrinhas soltas”, o escritor explica ao seu leitor o que o levou a escrever esse livro, levando-o a perceber que esse resgate de cultura é de extrema importância para índios e, principalmente, para todo o povo brasileiro, que muitas vezes criticou e desacreditou nas tradições milenares do povo indígena. Assim, para dar um ar ainda mais verdadeiro em suas narrativas, ele intercala o mito contado por gerações e o mito vivido por algum indígena que são apresentados em quatro narrativas.
 
  Matinta Perera é a primeira história que o professor apresenta, é uma narrativa antiga contada por sua avó, a qual uma criatura muito poderosa sempre estava disposta a fazer maldade com quem a desobedecia, normalmente aparecia em noites sem lua e produzindo um estrondoso grito que assustava a todos, nessas ocasiões era preciso correr pra casa e quando ela chegasse, precisavam apenas dar o que pedia, nessas ocasiões pedia apenas fumo. Para dar mais credibilidade a sua história, o autor relata em seguida o que sua irmã viveu com a Matinta Perera, um caso muito parecido com o narrado por sua avó e que fez Daniel acreditar ainda mais nos espíritos da floresta. O Boto Tucuxi é a segunda narrativa contada pelo artista, essa ele ouviu do amigo Ely que mora em Manaus e estudou com Daniel na universidade. Essa história consiste na transformação do Boto Tucuxi em homem e vice-versa. Ely relatou que presenciou a cena de transformação do Boto em uma noite de grande festa numa cidade pequena. Uma bela moça, por quem Ely se encantou, estava à espera de seu namorado Boto, esse por sua vez apareceu, dançou a noite toda com a garota e ao amanhecer foi embora, isso tudo acompanhado pelo olhar atento dele. Ao final, o protagonista admite estar acreditando ainda mais na magia da Mãe- Terra.
 
  A terceira história traz o mito do “O Vira- Porco”, uma narrativa que Munduruku ouviu de seu amigo Ozias da tribo Satarê- Mawé que fala de um homem que virava porco em noites de lua cheia. Ozias conta que muitos não acreditavam na história, pois ninguém havia presenciado a transformação, no entanto ele e seus amigos puderam provar que se tratava de uma história real. Relata que houve um baile na cidade e ele e seus amigos se aventuraram a ir, depois de muito dançarem resolveram ir embora e durante a caminhada perceberam que algo estava seguindo-os. Em um ato desesperado correram para o barco que haviam deixado na beira do rio, mas o curumim Aroldo cansou e ficou para trás, os outros dois apenas sentiram a falta do garoto quando chegaram ao barco, nesse momento decidiram voltar para procurar o menino. Entretanto, Amarildo, um dos amigos, não aguentou tanta apreensão e disse que voltaria para o barco; Ozias conseguiu encontrar o pequeno que lhe fez um sinal apontando para a criatura, ele a seguiu com os olhos e percebeu que ele estava de olho em Amarildo. Nesse momento, montam um plano pra despistar o monstro e salvarem suas vidas, o plano dá certo e eles acabam conseguindo fugir, deixando para trás o corpo do vira- porco ferido. O amigo narra ainda que, no dia seguinte, apareceu um homem com uma flecha enterrada no abdome e que depois de medicado nunca mais foi visto.
 
  Por fim, o autor apresenta a história “A mulher do cemitério”, essa contada por outro amigo chamado Khitaulu, mas em português é conhecido como René. Ele narra que certo dia saiu acompanhado de seu filho pra trabalharem na roça, depois de um determinado tempo pararam para tomar um lanche e René resolveu ir se refrescar em um rio que corria próximo a sua lavoura. Durante o trajeto escutou uma voz de mulher vinda do mato e resolveu ver o que era, porém, cada vez mais se afastava de onde estava e sem que percebesse caminhou por longas horas. Chegando a lugar desconhecido se deparou com uma mulher muito clara que chegava a irradiar luz; a mulher a travessou o corpo de René e lhe disse que ele só teria sua liberdade depois de enterrá-la em uma cova individual, ele apenas precisaria achar um colar de dentes de macaco que estava no pescoço dela. Ele procurou por horas, revirando todas as covas, até que conseguiu encontrar e separou o corpo da mulher dos demais. A mulher lhe agradeceu e lhe contou sua história. René conta que, não se sabe como, foi encontrado a vinte quilômetros de seu roçado e como tudo tinha acontecido ninguém sabia. Alguns saíram para procurar o tal lugar, entretanto nada foi encontrado.
 
  Diante do exposto, podemos perceber que o livro de Munduruku é envolvente e cheia de mistérios, deixa o leitor curioso sobre o que acontecerá com os personagens durante a história, levando- nos a um ponto de tensão que não se espera de uma narrativa infantil. Outro ponto interessante é a intertextualidade existente, se é que podemos chamar de intertexto, pois muitas dessas narrativas conhecemos de outra maneira, pelo que chamamos e conhecemos por folclore, termo que Daniel considera uma forma mascarada de manter viva a tradição, pois muita gente não entende a diversidade que existe no mundo e, principalmente, em um país tão rico culturalmente como o Brasil. Assim, é de extrema importância que nós futuros professores de Língua Portuguesa levemos para sala de aula as narrativas indígenas, porque precisamos criar em nossos alunos senso crítico e conhecimento de outras culturas, despertando- os pra um mundo diversificado e cheio de bons escritores.


Grupo 1: Literatura Infantil Indígena

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Iarandu, o cão falante

  Olívio Jekupé é um escritor pertencente ao tronco tupi-guarani. Além disso, ele tem realizado palestras em diversos estados do país, e também na Itália, e ministra cursos em que aborda a importância da literatura escrita pelo índio, entre outros temas, como a importância das escolas nas aldeias. O escritor paranaense de contos, poesias e romances mora na aldeia Krukutu, Parelheiros (SP) e algumas de suas obras são: Verá o contador de história, Iarandu o cão falante, Xerekó arandu a morte de kretã, Arandu ymanguaré, O saci verdadeiro, Itália e Literatura escrita pelos povos indígenas.
 
  Iarandu, o cão falante têm um enredo muito interessante, pois conta a história de um pequeno índio guarani, Popyguá, que ganha um cão e lhe dá o nome de Iarandu. Um dia, ao chegar da escola,o menino ouve uma voz que pergunta como foi a aula e se surpreende ao perceber que a voz é de seu cão. A partir disso, o menino tem que guardar esse segredo e a magia da amizade entre os dois toma conta do livro. 
 
  Diferente de outros livros de literatura infantil indígena, essa obra de Olívio Jekupé traz elementos da cultura indígena mais atuais, como a aldeia que fica próxima a cidade e por isso não possui tanto espaço para o pequeno guarani brincar com seu cão e o cotidiano do criança da aldeia que também apresenta o ambiente escolar.  
 
  A leitura do livro é realmente uma viagem e atesta a afirmação que Daniel Muduruku, outro grande escritor indígena, faz na introdução do mesmo livro "Olívio faz o sonho virar realidade e nos mostra que podemos e devemos estar atentos para os mistérios que a vida pode nos proporcionar."



REFERÊNCIA
 
JEKUPÉ, Olivio. Iarandu, o cão falante. Ed. Peiropolis. São Paulo: 2002. Disponível em: http://oliviojekupe.blogspot.com/

Grupo 1: Literatura Infantil Indígena

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Mitos e Cidades Brasileiras na Lit. Inf. Indígena

  Os livros “Os óculos do pajé” de Niminon Suzel Pinheiro e “O curumim que virou gigante” de Joel Rufino dos Santos retratam mitos indígenas com uma linguagem simples e clara, própria para agradar as crianças e facilitar a compreensão da história. 

  “Os óculos do pajé” é a história de um pajé que estava desesperado, pois os índios de sua tribo Guarani estavam sofrendo com a gripe e o sarampo. Em sonho, o pajé recebe óculos com a qual ele pode enxergar o invisível, porém ninguém vê os óculos do pajé, só ele. Então, os óculos proporcionam ao pajé e ao seu neto, a visão de caos em que o homem branco vive: enchentes, doenças e o calor. Quando os dois enxergam uma árvore chorando, o pai do mato revela aos dois que aquilo que viram era fruto da ganância do homem branco que não respeita a natureza. 
 
  Nesse ponto, podemos perceber uma preocupação em transmitir um ensinamento às crianças por meio do livro: a educação ambiental e a preservação da natureza.Depois da visão, pajé e neto voltam para a tribo. No caminho, encontram um homem branco que estava procurando a aldeia. Eles vão juntos para a tribo e lá, o pajé diz que os índios vão para o leste, porém o homem branco os convida para morar na aldeia Araribá. Nesse momento, o pajé sopra a fumaça da fogueira e a fumaça forma um grande óculos. Todos podem ver o oeste, onde a terra se incendeia e os homens morrem juntamente com as plantas e animais. Em contrapartida, no leste todos vislumbram uma floresta muito bonita repleta de animais em harmonia com a aldeia indígena. Diante da visão, os índios agradecem a oferta do homem branco e decidem ir para o leste. Ao partirem, entretanto, esquecem o Santo São José na cabana, anos mais tarde um mineiro encontra o santo na cabana e no local é fundada a cidade de São José do Rio Preto.
 
  “O curumim que virou gigante” tem um enredo menor que conta a trajetória de Tarumã, um curumim que desejava ter uma irmã. Os pais nunca realizaram o desejo do filho, então o menino passou a imaginar como seria a irmã. O problema é que o pequeno índio falou para os amigos sobre a irmã, assim todos queriam conhecê-la e ele inventava vivia inventando desculpas para explicar o fato de nunca mostra-la a ninguém. 
 
  Todos os amigos de Tarumã duvidavam dele e por isso ele decidiu sair andando pelo mundo. Até que na beira do mar, ele deitou de costas e virou um gigante. Segundo o mito, quando você chega ao Rio de Janeiro, pode ver o curumim: o Morro do Corcovado é Tarumã deitado olhando uma estrela que é a irmã que ele tanto desejava.
 
  Os dois livros abordam mitos acerca de cidades brasileiras. Isso é muito interessante para aumentar a bagagem cultural das crianças, além de estimular a fantasia e a imaginação. 
 
  “Os óculos do pajé” , apesar de seu cunho educativo, é muito rico na descrição de costumes e crenças indígenas. “O curumim que virou gigante” focaliza apenas a lenda, sem adentrar nos costumes do povo. No entanto, os dois livros são modelos claros do que há de mais comum na literatura infantil indígena: narrativas ancoradas em lendas desse povo.



 


REFERÊNCIAS
 
PINHEIRO, Niminon Suzel. Os óculos do pajé. Ed. Ativa. São José do Rio Preto, 2003.
 
SANTOS, Joel Rufino. O curumim que virou gigante. Ed. Ática. São Paulo, 1985.

Grupo 1: Literatura Infantil Indígena

domingo, 2 de outubro de 2011

Contos Indígenas por Daniel Munduruku

     
 "Contos Indígenas Brasileiros nos mostra que a palavra cria, enfeitiça, embriaga, gera monstros, faz heróis, remete-nos para nossa própria memória ancestral e dá sentido ao nosso estar no mundo." (Daniel Munduruku).
 
  A seguir um texto que fala como foi que o povo indígena e outros animais tiveram a posse do fogo.



O ROUBO DO FOGO
Povo Guaraní (Mito Guarani)

  Em tempos antigos os Guarani não sabiam acender fogo. Na verdade eles apenas que existia o fogo, ma comiam alimentos crus, pois o fogo estava em poder dos urubus.   
  O fogo estava com estas aves porque foram elas que primeiro descobriram um jeito de se apossar das brasas da grande fogueira do sol. Numa ocasião, quando o sol estava bem fraquinho e o dia não estava muito claro, os urubus foram até lá e retiraram algumas brasas as quais tomavam conta com muito cuidado e zelo. Era por isso que somente estas aves comiam seu alimento assado ou cozido e nehum outro da floresta tinha este privilégio.  
 
  É claro que todos os urubus tomavam conta das brasas como se fosse um tesouro precioso e não permitiam que ninguém delas se aproximasse. Os homens e os outros animais viviam irritados com isso. Todos queriam roubar o fogo dos urubus, mas ninguém se atrevia a desafiá-los.   
 
  Um dia, o grande herói Apopocúva retornou de uma longa viagem que fizera. Seu nome era Nhanderequeí, Guerreiro respeitado por todo o povo, decidiu que iria roubar o fogo dos urubus.Reuniu todos os animais, aves e homens da floresta e contou o plano que tinha para enfrentar os temidos urubus, guardiões do fogo. Até mesmo o pequeno curucu, que fora convidado, compareceu dizendo que também tinha muito interesse no fogo.   
 
  Todos já reunidos, Nhanderequeí expos seu plano:   
 
  - Todos vocês sabem que os urubus usam fogo para cozinhar. Eles não sabem comer alimento cru. Por isso vou me fingir de morto bem debaixo do ninho deles. Todos vocês devem ficar escondidos e quando eu der uma ordem, avancem para cima deles e os espantem daqui. Dessa forma, poderemos pegar o fogo para nós.
 
  Todos concordaram e procuraram um lugar para se esconder. Não sabiam por quanto tempo iriam esperar. Nhanderequeí deitou-se. Permaneceu imóvel por um dia inteiro.    
  
  Os urubus, lá do alto, observaram com desconfiança. Será que aquele homem estava morto mesmo ou estava apenas querendo enganá-los? Por via das dúvidas preferiram aguardar mais um pouco.   
 
  O herói permaneceu o segundo dia do mesmo jeito. Sequer respirava direito para não criar desconfianças nos urubus que continuavam rodenado seu corpo. Foi no fim do tereceiro dia, no entanto, que as aves baixaram as guardas. Ficavam imaginando que não era possível uma pessoa fingir-se de morta por tanto tempo. Ficavam confabulando entre si:
 
  - Olhem, meus parentes urubus - dizia o chefe urubu - nenhum homem pode fingir-se de morto assim. Já decidi: vamos comê-lo. Podem trazer as brasas para fazermos a fogueira.   
 
  Um grande alarido se ouviu. Os urubus aprovaram a decisão de seu chefe, e por isso imediatamente partiram para buscar as brasas. Trouxeram e acenderam uma fogueira bonita e vistosa.
 
  O chefe dos urubus ordenou, então, que trouxessem a comida para ser assada. Um verdadeiro batalhão foi até a presa e a trouxe em seus bicos e garras. Eles acharam o corpo do herói um pouco pesado, mas isso consideraram bom, assim daria para todos os urubus.   
 
  Eles colocaram Nhanderequeí sobre o fogo, mas graças a uma resina que ele passou pelo corpo, o fogo não o queimava. Num certo momento, o herói se levantou do meio das brasas dando um grande susto nos urubus, que atônitos, voaram todos. Nhanderequeí aproveitoú-se da surpresa e gritou a todos os amigos qque estavam escondidos para que atacassem os urubus e salvassem alguma daquelas brasas ardentes.
 
  Os urubus, vendo que se tratava de uma armadilha, se esforçaram o máximo que piuderam para apagar as brasas, engolí-las e não permitirem que aqueles seres tomassem posse delas. Fois uma correria geral. Acontece, no entanto, que na pressa de salvar o fogo, quase todas as brasas se apagaram por terem sido pisoteadas.   
 
  Quando tudo se acalmou, Nhanderequeí chamou a todos e perguntou quantas brasas haviam conseguido. Uns olhavam para os outros na tentativa de saber quem havia salvo alguma brasinha, mas qual foi a tristeza geral ao se depararem com a realidade: niguém havia salavado uma pedrinha sequer.   
 
  - Só temos carvão e cinzas - disse alguém no meio da multidão.  - E para que nos há de servir isso? - falou Nhanderequeí. - Nossa batalha contra os urubus de nada valeu!  Acontece que, por trás de todos, saiu o pequeno curucu, dizendo:   
 
  - Durante a luta os urubus se preocuparam apenas com os animais grandes e não notaram que eu peguei uma brasinha e coloquei na minha boca. Espero que ainda esteja acesa. Mas pode ser que...   
 
  - Depressa. Pare de falar, meu caro curucu. Não podemos perder tempo. Dê-me esta brasa imediatamente - disse Nhanderequeí, tomando a brasa em suas mãos e assoprando levemente.   
 
  Todos os animais ficaram atentos às ações do herói que tratava com muito cuidado aquele pequeno luzeiro. Pegou-o na mão e colocou um pouquinho de palha e assoprou novamente. Com isso ele conseguiu um pequeno riozonho de fumaça. Isso foi o bastante para incomodar os animais, que logo disseram:     - Se o fogo sempre faz fumaça, não será bom para nós. Nós não suportamos fumaça.
 
  Dizendo isso, os bichos foram embora, deixando o fogo com os homens e com as aves.   
 
  Nhanderequeí soprou de novo. Ele fazia com todo cuidado, com todo jeito. Logo em seguida à fumaça, aconteceu um cheiro de quimado. Isso foi o bastante para que as aves se incomodassem e dissessem:   
 
  - Nós não gostamos desse cheiro que sai do fogo. Isso não é bom para as aves. Fiquem vocês com este fogo.
 
  Dizendo isso, Nhanderequeí soprou ainda mais forte e, finalmente, as chamas apareceram no meio da palha e do carvão que sustentaram o fogo aceso para sempre. 
 
  Percebendo que tudo estava sob controle, o herói ordenou que seus parentes encontrassem madeiras canelinha, criciúma, cacho de coqueiro e cipó-de-sapo e as usassem sempre toda vez que quisessem acender e conservar o fogo. Além disso, o corajoso herói ensinou os Apopocúva a fazer um pilãozinho onde guardar as brasas e assim conservar o fogo para sempre.  
  
  Dizem os velhos desse povo que até os dias de hoje os Apopocúva guardam o pilãozinho e aquelas madeiras.


REFERÊNCIA
 
Munduruk, Daniel. Contos Indígenas Brasileiros/ Daniel Munduruku; ilustrações Rogério Borges. - 2. ed. - São Paulo: Global, 2005.

Grupo 1: Literatura Infantil Indígena