quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Real e o Fantástico no conto "Uma ideia toda azul", de Marina Colasanti


O conto “Uma ideia toda azul”, de Marina Colasanti, foi publicado em 1979 e está inserido em um livro de dez contos intitulado com o mesmo nome.   É uma obra que se caracteriza, em geral, por falar sobre fadas, unicórnios, cisnes, reis e princesas. Nessa, apesar de ser importante, a fantasia não é essencial como nos contos de fadas tradicionais.

   Colasanti ao realizar essa produção apresenta “aquela coisa intemporal chamada inconsciente”, ou seja, ela busca nessas histórias, assim como nas outras que compõem o livro “Uma ideia toda azul”, situações que encontram soluções na fantasia e/ou no real.
Nesta postagem enfatizaremos a análise do conto sem abordar todo o conteúdo do livro. Para isso, apresentaremos, primeiramente, a ideia central da história e, posteriormente, uma breve análise que considerará os aspectos inovadores expostos pela autora e o motivo que o leva a enquadrar-se no conto de fadas.

O conto é enriquecedor e cheio de sentido, fala de um rei que um dia teve uma ideia e não era uma ideia qualquer, não! Era uma ideia "toda azul" que brinca com o rei no jardim e até dorme feito gente. Mas o rei achava que poderia ser perigoso ter uma ideia assim “tão azul” e decide não deixá-la solta por aí. Então, ele a tranca num quarto e pendura a chave, que fica em uma pesada corrente, no próprio pescoço. O tempo passa e o rei, já velho, retorna ao quarto para libertar a ideia, mas percebe que não poderia colocá-la em prática, pois ele mesmo não consegue mais brincar. Por isso, ele “fecha para sempre a porta”.

A autora mescla elementos reais (a existência de um rei, ministros e repartições) e imaginários (um rei que brinca com uma ideia possível de ser tocada e colocada, na cama, para dormir). O mais interessante desse conto, é que ele possibilita ao leitor desfrutar de uma narrativa sem se preocupar, sem se deter em algo real ou irreal; o leitor é convidado a criar suas sugestões, impressões, os sentidos que o texto pode lhe oferecer.


Outro aspecto relevante é quanto à intenção desse conto. Ele aborda o real através dos valores presentes nos seres humanos como: os medos, os mistérios da alma, os sentimentos, os desejos de uma realidade interna por meio de uma linguagem do inconsciente, os sonhos, as fantasias e o imaginário.

Desse modo, percebe-se que “Em seus contos de fadas, Marina Colasanti prefere trabalhar com temas existencialistas, que refletem as angústias mais profundas dos seres de qualquer lugar e qualquer tempo” (ESCOBAR, 2010, p.24).

Ela traz em seus trabalhos a inovação dos enredos. Como no caso de “Uma ideia toda azul”, em que apresenta um rei que não faz uso das ideias para governar seu reino e a falta de êxito do mesmo, elementos esses que fazem parte do real e o elemento fantástico com a personificação da ideia.

(...) ao contar uma história, sobretudo uma história fantástica ou maravilhosa, o narrador apenas narra, sem garantir que aquilo tenha acontecido, mas cuidando de fundir o possível com o impossível, de modo, a manter o tênue equilíbrio da verossimilhança e permitir que o leitor estabeleça a seu próprio critério os limites entre o real e o irreal. Ninguém empurra o leitor para fazê-lo entrar no jogo. (COLASANTI apud ESCOBAR, 2010, p.16).

Além dessa inovação no enredo, Marina Colasanti apresenta uma simbologia atribuída à cor azul que simboliza a cor do espírito e do pensamento, representa a lealdade, a fidelidade, a personalidade e a sutileza. Simboliza também o ideal e o sonho. A estas noções estão associadas também a ideia do inconsciente tratada pela autora no decorrer do conto.

Apesar desses aspectos (inovadores) apresentados até aqui, o conto de Colasanti pode ser considerado pertencente ao gênero conto de fadas, pois traz uma narrativa curta e linear, com conflitos, embora psicológicos, e as ações são desencadeadas por meio da fantasia, contudo, como dito anteriormente, os conflitos e ações podem sofrer interferências do real.

Percebemos então, as características marcantes e relevantes para os contos de fadas destacadas na obra da autora:
 
(...) podemos entender que Marina, com a literatura, não pretende ficar na periferia do ser humano, mas atingi-lo em suas estruturas mais profundas, naquelas que perduram, pois não dependem de um tempo determinado. Essa ideia é reforçada quando Colasanti diz que numa época de transformações rápidas muda a realidade externa, mas, a nossa realidade interior, feita de medos e fantasias, se mantém inalterada. Diz ainda, que é com essa realidade interior que dialogam as fadas, interagindo simbolicamente em qualquer idade e em todos os tempos. (LÓPEZ, 2007, p.417).

Concluímos, dessa forma, que a escritora trata, nesse conto, de valores universais pertinentes à realidade da humanidade sem perder a magia do encantamento.

REFERÊNCIAS:

LÓPEZ, Gilda Teresa Contreras. As fadas voltam: uma ideia toda azul. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais...Maringá, 2009, p. 411-421. Disponível em: http://www.ple.uem.br/3celli_anais/trabalhos/estudos_literarios/pdf_literario/044.pdf>

ESCOBAR, Eliane Correa da Cruz. O fantástico na obra de Marina Colasanti. Juiz de Fora: Centro de ensino superior de Juiz de Fora, 2010. Disponível em<http://web2.cesjf.br/node/8133

GT 5: Contos de Fadas na Atualidade



Um comentário:

  1. O texto é muito vago a respeito do livro apresentado, seria interessante uma abordagem/análise mais detalhada dele. Ainda: o que torna a obra pertencente ao gênero "Conto de fadas"? Por fim: caiu com a última reforma da língua portuguesa, o acento aberto nos ditongos finais de palavras,, tais como geleia, ideia, plateia, etc. (prof. Marciano)
    PS: alterei a fonte conforme as normas/regras do blog (leiam-nas com atenção!) e o título, tornando-o mais informativo e objetivo.

    ResponderExcluir