O conto “Uma ideia toda azul”, de
Marina Colasanti, foi publicado em 1979 e está inserido em um livro de dez
contos intitulado com o mesmo nome. É
uma obra que se caracteriza, em geral, por falar sobre fadas, unicórnios,
cisnes, reis e princesas. Nessa, apesar de ser importante, a fantasia não é
essencial como nos contos de fadas tradicionais.
Colasanti ao realizar essa produção
apresenta “aquela coisa intemporal chamada inconsciente”, ou seja, ela busca
nessas histórias, assim como nas outras que compõem o livro “Uma ideia toda
azul”, situações que encontram soluções na fantasia e/ou no real.
Nesta
postagem enfatizaremos a análise do conto sem abordar todo o conteúdo do livro.
Para isso, apresentaremos, primeiramente, a ideia central da história e,
posteriormente, uma breve análise que considerará os aspectos inovadores
expostos pela autora e o motivo que o leva a enquadrar-se no conto de fadas.
O conto
é enriquecedor e cheio de sentido, fala de um
rei que um dia teve uma ideia e não era
uma ideia qualquer, não! Era uma ideia "toda azul" que brinca com o
rei no jardim e até dorme feito gente. Mas o rei achava que poderia ser perigoso ter uma ideia assim “tão azul” e decide não deixá-la
solta por aí. Então, ele a tranca num quarto e pendura a chave, que fica em uma
pesada corrente, no próprio pescoço. O tempo passa e o rei, já velho, retorna
ao quarto para libertar a ideia, mas percebe que não poderia colocá-la em
prática, pois ele mesmo não consegue mais brincar. Por isso, ele “fecha para
sempre a porta”.
A autora mescla elementos reais (a existência de um rei, ministros e repartições) e imaginários (um rei que brinca com uma ideia possível de ser tocada e colocada, na cama, para dormir). O mais interessante desse conto, é que ele possibilita ao leitor desfrutar de uma narrativa sem se preocupar, sem se deter em algo real ou irreal; o leitor é convidado a criar suas sugestões, impressões, os sentidos que o texto pode lhe oferecer.
Outro
aspecto relevante é quanto à intenção desse conto. Ele aborda o real através dos
valores presentes nos seres humanos como: os medos, os mistérios da alma, os
sentimentos, os desejos de uma realidade interna por meio de uma linguagem do
inconsciente, os sonhos, as fantasias e o imaginário.
Desse
modo, percebe-se que “Em seus contos de fadas, Marina Colasanti prefere
trabalhar com temas existencialistas, que refletem as angústias mais profundas
dos seres de qualquer lugar e qualquer tempo” (ESCOBAR, 2010, p.24).
Ela traz
em seus trabalhos a inovação dos enredos. Como no caso de “Uma ideia toda
azul”, em que apresenta um rei que não faz uso das ideias para governar seu
reino e a falta de êxito do mesmo, elementos esses que fazem parte do real e o
elemento fantástico com a personificação da ideia.
(...) ao contar uma história, sobretudo
uma história fantástica ou maravilhosa, o narrador apenas narra, sem garantir
que aquilo tenha acontecido, mas cuidando de fundir o possível com o
impossível, de modo, a manter o tênue equilíbrio da verossimilhança e permitir
que o leitor estabeleça a seu próprio critério os limites entre o real e o
irreal. Ninguém empurra o leitor para fazê-lo entrar no jogo. (COLASANTI apud
ESCOBAR, 2010, p.16).
Além dessa inovação no enredo, Marina
Colasanti apresenta uma simbologia atribuída à cor azul que simboliza a cor do espírito e
do pensamento, representa a lealdade, a fidelidade, a personalidade e a
sutileza. Simboliza também o ideal e o sonho. A estas noções estão associadas também a ideia do inconsciente tratada
pela autora no decorrer do conto.
Apesar desses aspectos (inovadores)
apresentados até aqui, o conto de Colasanti pode ser considerado pertencente ao
gênero conto de fadas, pois traz uma narrativa curta e linear, com conflitos,
embora psicológicos, e as ações são desencadeadas por meio da fantasia, contudo,
como dito anteriormente, os conflitos e ações podem sofrer interferências do
real.
Percebemos então, as características
marcantes e relevantes para os contos de fadas destacadas na obra da autora:
(...) podemos entender que Marina, com a literatura, não pretende ficar
na periferia do ser humano, mas atingi-lo em suas estruturas mais profundas,
naquelas que perduram, pois não dependem de um tempo determinado. Essa ideia é
reforçada quando Colasanti diz que numa época de transformações rápidas muda a
realidade externa, mas, a nossa realidade interior, feita de medos e fantasias,
se mantém inalterada. Diz ainda, que é com essa realidade interior que dialogam
as fadas, interagindo simbolicamente em qualquer idade e em todos os tempos.
(LÓPEZ, 2007, p.417).
Concluímos,
dessa forma, que a escritora trata, nesse conto, de valores universais
pertinentes à realidade da humanidade sem perder a magia do encantamento.
REFERÊNCIAS:
LÓPEZ, Gilda Teresa Contreras. As
fadas voltam: uma ideia toda azul. In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS
E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais...Maringá, 2009, p. 411-421. Disponível
em: http://www.ple.uem.br/3celli_anais/trabalhos/estudos_literarios/pdf_literario/044.pdf>
ESCOBAR, Eliane Correa da Cruz. O
fantástico na obra de Marina Colasanti. Juiz de Fora: Centro de ensino superior
de Juiz de Fora, 2010. Disponível em<http://web2.cesjf.br/node/8133
GT 5: Contos de Fadas na Atualidade
O texto é muito vago a respeito do livro apresentado, seria interessante uma abordagem/análise mais detalhada dele. Ainda: o que torna a obra pertencente ao gênero "Conto de fadas"? Por fim: caiu com a última reforma da língua portuguesa, o acento aberto nos ditongos finais de palavras,, tais como geleia, ideia, plateia, etc. (prof. Marciano)
ResponderExcluirPS: alterei a fonte conforme as normas/regras do blog (leiam-nas com atenção!) e o título, tornando-o mais informativo e objetivo.