quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Parafraseando Bandeira: "Vou-me embora para Gaia!"




Vou-me embora para Gaia!
                     (Marciano Lopes)

Ah! Vou-me embora pra Gaia
Que lá é a maior gandaia!

Lá furtarei muito doce
Na padaria que eu escolher.
Brincarei a qualquer hora
De médico e esconde-esconde
Futebol e vídeo-game.
Soltarei meu papagaio
Com bandeirola e cerol
Sem que a ninguém ele mate
Nem se enrosque no farol.

Vou-me embora para Gaia
Que aqui tudo é muito chato.
Tem “fessora” carrancuda
Bicho de pé carrapato.
Hora pra acordar zoar brincar
Tomar leite e coca-cola
Ver TV e navegar...
Vou-me embora para Gaia
Que lá é a maior gandaia!

E como farei bagunça!
Lá andarei de bicicleta
Patins skate patinete.
Montarei em moto e pônei.
Mascarei goma e chiclete.
E no chafariz da praça
Tomarei banho de chuva
Fazendo pipi com graça.
Vou-me embora para Gaia!

Lá tem sapo de três olhos.
Elfos gnomos duendes.
Macaquinhos saltitantes
E geninhos sorridentes.
Mas o mais legal de tudo
Eu só vou falar agora:
Lá tem lindas princesinhas
Pra namorar noite e dia
Com a bênção das fadinhas!

E quando eu estiver cansado
Cansado que não tem jeito
Quando de noite me der
Vontadinha de nanar
– lá sou amigo do rei –
Chamarei minha mamãe
Pra contar novas estórias
Do livro que escolherei.

Ah! Vou-me embora pra Gaia
Que lá é a maior gandaia!


“Nem tudo é o que parece ser” – Ruth Rocha em "A Coisa"


O ditado acima parece ter inspirado Ruth Rocha quando escreveu A coisa. Este livro conta a aventura de Alvinho, personagem principal, o qual, um dia, resolve procurar uns patins no velho porão da casa do avô. Quando chega lá e se depara com uma “coisa”, volta correndo, com medo e conta à família o que viu, achando que era um fantasma, monstro ou algo assim. Não acreditando, o avô resolve checar o que era aquilo que seu neto havia visto e retorna do porão com medo também, dizendo que havia visto algo estranho, sem definição, a qual também chamava de “coisa”. Então, a família passa a acreditar em Alvinho e seu avô, e decidem olhar também o que era essa “coisa”. Tio Gumercindo vai ao porão e volta assustado, assim como os outros. A única que se mostrava tranquila era Dona Julinha, avó de Alvinho, que decide desvendar o mistério, indo até o porão, com muito cuidado e mostrando que, na verdade, a “coisa” era um espelho meio coberto com lençol, o que causava a falsa impressão de ser um fantasma.




O livro é bem humorado, com muita ilustração e linguagem fácil. Podemos encontrar, por trás do fato engraçado, a “lição” de que nem tudo que parece ser é, na verdade, o que parece. Em outras palavras: as aparências enganam. A principal mensagem encontrada no livro é a de que nem todas as pessoas conseguem ver as coisas da mesma forma, como evidenciamos nas descrições dos personagens sobre a “coisa”:

“- Fantasma! Uma coisa horrível! Um monstro de cabelo vermelho e uma luz medonha saindo da barriga! (Alvinho)

“- A Coisa! – ele gritava. – A Coisa! É pavorosa! Muito alta, com olhos brilhantes, como se fossem de vidro! E na cabeça uns tufos espetados pra todos os lados! ( Avô de Alvinho)

“- A Coisa! É uma Coisa! Com uma cabeça muito grande, um fogo na boca.” (Tio Gumercindo)



Referências Bibliográficas:

ROCHA, Ruth. A Coisa. 2ª Ed. São Paulo: FTD, 1997.

GT 2 – Autores Consagrados

Uma análise das ilustrações no livro “O ratinho, o morango vermelho maduro e O Grande Urso Esfomeado”, de Don e Audrey Wood



As ilustrações podem adquirir diversas funções para completar o sentido do texto verbal. De acordo com Camargo (apud ABREU, 2010), podemos destacar duas funções, a expressiva e a descritiva, que são extremamente importantes para a análise das ilustrações. Na postagem de hoje, abordaremos essas duas funções, analisando o livro O ratinho, o morango vermelho maduro e O Grande Urso Esfomeado, de Don e Audrey Wood,  com ilustrações de Don Wood e distribuído pela fundação Itaú Social.


  Segundo Abreu (2010), na função descritiva, a ilustração tem o papel de descrever os personagens, os objetos, o ambiente, as situações, etc. Esta descrição pode ser feita fielmente aos caracteres extraídos do texto, ou, pode caracterizar as personagens a partir de perspectivas imaginativas do ilustrador, que pode ser observado na obra em destaque.


Na figura acima, podemos observar a apresentação de um ratinho e do lugar onde ele vive. Notamos que a ilustração foi elaborada com base na visão do ilustrador, pois geralmente a visão que temos de um rato não é de um animal limpo, amável, que vive num lugar bonito e agradável, como é retratado na imagem em destaque, mas sim de um animal sujo, nojento, que vive em esgotos, em meio ao lixo e a sujeira.


Também nessa ilustração, podemos notar que o ilustrador expõe suas impressões pessoais na figura, por meio das imagens do rato e do morango. O rato novamente é retratado com um animal dócil e inofensivo e nessa imagem ele aparece com um morango. Na maioria das vezes, esse não é um tipo de alimento comum à esses animais, que geralmente ingerem alimentos podres e restos de comida e não um morango bonito e vistoso como é retratado na imagem acima. Além dessa ilustração conter uma função descritiva, também apresenta a função expressiva:

 A ilustração pode [também] comunicar um sentimento, uma emoção. Estes podem ser expressos principalmente através de movimentos e expressões faciais de personagens, e pelos recursos gráficos que passam a transmitir certos sentimentos (CAMARGO apud ABREU 1998, p. 36).


               

        Na ilustração acima, observamos a expressão facial de satisfação do personagem ratinho, pois vai se alimentar do morango vermelho e maduro. Notamos nessa ilustração que há um complemento do sentido por meio da imagem com o texto verbal.


        Na ilustração acima também podemos notar a função expressiva, pois observamos, que depois de toda a dificuldade em colher o morango, ele agora se sacia com muito prazer. A imagem retrata todo o cuidado que o ratinho teve para organizar essa refeição: as velas, a toalha, o guardanapo que ele usa, dentre outros elementos, expressam o sentimento de conquista e felicidade que o personagem tem em comer o morango. A onomatopeia “HUMM” também contribui para a construção desse sentido.

        Por fim, destacamos, novamente, a importância das ilustrações para instaurar sentidos que o texto verbal não é capaz de reproduzir totalmente. No livro analisado, essas imagens por serem extremamente coloridas, grandes e chamativas, motivam o leitor a se interessar pela leitura e a instigar sua curiosidade. Dessa forma, concluímos que as funções descritiva e expressiva tem o papel de ressaltar toda essa vivacidade representada na obra em questão. 

 
Referências:

ABREU, A. P. B. Revelações que a escrita não faz: a ilustração do livro infantil. Revista eletrônica do grupo de pesquisa em cinema e literatura. Vol. 1, nº 7, Ano VII, Dez/2010, p. 328 – 341.

WOOD, D. O ratinho, o morango vermelho maduro e O Grande Urso Esfomeado. Tradução de Gilda de Aquino. 2. ed. São Paulo: Brinque-Book, 2012.

Grupo 06 - Ilustração do livro infantojuvenil

A ilustração da obra de Monteiro Lobato ao longo do tempo



Monteiro Lobato é um dos autores consagrados da literatura infantojuvenil brasileira e um dos que mais contribuíram para ela. Qual adulto ou qual criança nunca ouviu falar do “Sítio do Picapau Amarelo”, das peripécias da Emília e das aventuras de Pedrinho e Narizinho? Nessa postagem vamos analisar, especificamente, a ilustração no livro “A chave do tamanho”, escrita pelo autor, e as várias capas que representam as suas diferentes edições.

Nas edições dos textos de Monteiro Lobato, por exemplo, dos anos de 1940 a 1960, percebe-se a presença de imagens, além do trabalho da capa, que acompanham o desenvolvimento do texto. Nesse caso, temos ilustrações em preto e branco (com as técnicas de xilogravura, de gravura em metal ou de litografia) esporádicas ao longo dos livros, mas que já apontam para a leitura que os ilustradores realizam das obras em questão (GOMES, 2010, p. 215).

           
            Apesar da importância das ilustrações nos livros de literatura infantojuvenil, principalmente nas capas, encontramos uma edição mais antiga do livro “A chave do tamanho” que não as apresenta, salvo uma pequena imagem da personagem Emília na capa, como podemos perceber na imagem abaixo:





            Também encontramos outras edições desse livro, mas que já possuem ilustrações em sua capa, respectivamente, em 1960, 1986 e 2008:




            
            Na edição mais antiga, sem ilustrações na capa, percebemos, mesmo que pequena, a presença da personagem Emília. Não observamos, porém, a presença de elementos que chamem a atenção da criança para a leitura, como exemplo, cores, recursos gráficos, outros personagens, como se observa nas outras capas. Nas capas de 1960 e 1986, há um enfoque sobre o personagem Visconde de Sabugosa, que aparece no centro das duas capas, colorido e de forma expressiva. Já na capa de 2008, o enfoque é voltado para a Emília, a natureza e outros personagens, sendo uma capa bem mais atrativa e colorida. Essas diferentes ilustrações podem nos mostrar que com o passar dos anos, a depender da época, mudam-se os valores e também as ilustrações.


Análise dos personagens Visconde e Rabicó:
Um contraponto entre 1986 e 2008


         Agora analisaremos, especificamente, as ilustrações dos personagens destacados presentes na edição do livro de Monteiro Lobato em 1986, comparando-as com ilustrações mais atuais. No ano de 86 as ilustrações foram produzidas por Manoel Vitor Filho, já no ano de 2008, pela Editora Globo:

(1986)   

   
(2008)
 

Notamos que há uma diferença gritante em relação as duas ilustrações acima. Na primeira, o personagem Visconde de Sabugosa é apresentado em preto e branco e com o tamanho real de um sabugo de milho. Em contrapartida, no ano de 2008, esse personagem é retratado com cores e do  tamanho de um adulto.

Em relação ao personagem Marquês de Rabicó também observamos essas diferenças:

(1986)
(2008)
          
Novamente, percebemos uma grande transformação na representação desse personagem. Em 1986, o personagem Rabicó possui aparência do animal porco, era quadrúpede e não usava roupas. No entanto, no ano de 2008, o personagem passa a apresentar características humanas, como o uso de roupas, na forma de andar e também na sua aparência. Dessa forma, nas palavras de Camargo:

“Se entendemos que a ilustração é uma imagem que acompanha um texto e não seu substituto; e se entendemos que a relação entre ilustração e texto não é de paráfrase ou tradução, mas de coerência, então abre-se para o ilustrador um amplo leque de possibilidades de convergência com o texto, convergência esta que não limita a exploração de linguagem visual, mas, ao contrário, pode incentivá-la (CAMARGO apud GOMES, 2010, p.218).”



Podemos então concluir que os ilustradores estão sempre buscando aperfeiçoar sua forma de representar por meio da imagem os sentidos do texto. Um mesmo texto pode ser ilustrado de diferentes formas, influenciado pela época, pelos valores, pela cultura, mostrando que ilustração e sociedade estão sempre relacionadas.


Referências:

GOMES, M. Lendo imagens: ilustrações das obras de Monteiro Lobato. Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo. Passo Fundo, v. 6, n. 2, p. 215-226. Jul./dez. 2010

LOBATO, M. A chave do tamanho. 29. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.

Grupo 06 - Ilustração do livro infantojuvenil