Nesta postagem optamos por
abordar o conto “A princesinha boca-suja”, de autoria de Cláudio Fragata, por vários aspectos que o torna
inovador e que permite que o encanto e a magia não estejam voltados apenas para
o belo, o delicado e o perfeito, mas também aos elementos que dão ao conto um
tom humorístico, que rompe com os paradigmas dos contos de fadas tradicionais.
Esses aspectos rompem com
a estrutura tradicional dos contos proposta por V. Propp com relação à situação
introdutória, pois, não apresenta o surgimento de um problema que abale a
felicidade inicial, ou ainda, um herói que resolva tais problemas enfrentando
obstáculos ou provações. O único ponto que se mantém “fiel” é o final ditoso
“Foram felizes para sempre”, embora, o casal brigue de vez em quando.
É uma história que se inicia
pela célebre expressão “Era uma vez...”, o desejo de um rei e de uma rainha de
ter um filho ou uma filha para herdar o trono. Desejo esse que perdurou durante
muito tempo. Certo dia nasceu uma bela menina, a qual recebeu o nome de
Formosura devido sua imensa beleza. Para comemorar seu nascimento o rei e a
rainha organizaram uma grande festa, em que os convidados eram as fadas, os
nobres etc..
Neste momento o narrador que se mantinha, de certa forma, neutro, apenas como observador, manifesta-se através de uma intromissão na qual dialoga com o leitor. Ele diz:
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Até aqui, a
história de Formosura é meio parecida com a da Bela Adormecida, você notou?
Isso não tem nada de mais. Todos os contos de fadas são um pouco parecidos uns
com os outros. Mas as duas histórias se parecem só até este ponto. Daqui em
diante, as coisas vão ficando bem diferentes.(FRAGATA, 2007)
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É
também a partir deste ponto que o narrador relata elementos que exemplificam o
quanto o conto é uma história inovadora:
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Os pais da
Bela Adormecida se esqueceram de convidar a fada má, e deu no que deu. Ela
apareceu sem ser convidada e estragou a festa. Já os pais
de Formosura não quiseram cair na mesma cilada. O nome da fada má estava em
primeiríssimo lugar na lista de convidados, que o rei e a rainha não eram bobos
nem nada. A fada má trouxe até um vaso de cacto para Formosura. Era um presente
bem esquisito para um bebê, mas trouxe. Ninguém jamais pôde dizer que ela veio
de mãos abanando. (FRAGATA, 2007)
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Em um conto de fadas tradicional, não apareceria
esse tratamento pacífico entre os personagens caracterizados como bons e a
bruxa má, já que a bruxa deveria ser afastada por manifestar sentimentos de
ódio, de raiva e/ou inveja das princesas belas e encantadas, e, dessa forma, a princesa
doce e amável poderia de alguma forma ser atingida pela maldade da bruxa.
Outro aspecto que acreditamos ser
o mais relevante do conto que o caracteriza como inovador está presente no fato
de a princesinha pronunciar palavras que não poderiam ser ditas por uma pessoa
que ocupa um lugar de destaque na sociedade.
Desse modo, percebemos que a protagonista
se revela uma jovem muito moderna, que não se atém às formalidades que todos
julgam ser as corretas, até porque, todos falam, mesmo que seja no seu íntimo,
coisas como “xixi”, “meleca”, “bobão”, “titica” entre outras.
A partir, dessa marcante característica da
princesinha (atitude nas palavras) podemos ver a apresentação dae sua identidade,
assim diferenciando e permitindo a sua existência (AXER, 2004).
Essa história, então, forma um estereótipo
em que o sujeito é rotulado por seu jeito diferente de ser e
agir, de modo que as suas demais características ficam apagadas, desvalorizadas. Mas
uma literatura que aborda uma nova perspectiva em sua temática amplia e renova
a percepção do leitor (cf. Zilberman apud
Axer, 2004).
No fim
da história, a princesinha boca-suja encontra um príncipe que a aceita do jeito
que é e assim eles são felizes para sempre, mesmo com brigas que aconteciam de
vez em quando.
Por
essas características presentes no texto de Cláudio Fragata, percebemos uma
adaptação do gênero às novas demandas, afinal, por ser um
livro datado de 2007, os seus leitores, principalmente as crianças, querem um
assunto mais próximo de sua realidade.
Através
desse conto, é possível fazer uma reflexão no processo de ensino-aprendizagem
que aborde a questão das diferenças entre as pessoas, desfazendo, assim, os
preconceitos, uma vez que, a principal mensagem da história está centrada em
mostrar e valorizar as características individuais, rompendo com valores
pré-determinados pela sociedade.
Referências:
AXER, B. Questionando as marcas identitárias nas histórias infantis. Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, 2004.
FRAGATA, C. A princesinha boca-suja. Ed. Scipione: 2007
PROPP, Vladimir I. Morfologia do Conto Maravilhoso. Editora: CopyMarket.com,
2001.
GT5 - Contos de fada na atualidade
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Bom texto! Fiz alguns ajustes, deem uma olhada. Em tempo: vocês esqueceram de assinar (vejam se informei o GT correto) e informar quem é a autora (ou o autor) da obra. Vejam pontilhado destacado em amarelo e preencham com a informação. (prof. Marciano)
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