terça-feira, 2 de outubro de 2012

Os protagonistas da literatura juvenil brasileira contemporânea premiada


Em seu PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica) recém encerrado, a aluna Mariana Cristine Gonçalles (Letras/UEM) sob orientação da Dra. Mirian Hisae Y. Zappone desenvolveu o projeto de pesquisa intitulado "Imagens do adolescente na Literatura juvenil brasileira contemporânea premiada".  Ela estudadou 10 romances juvenis premiados pelas instituições Câmara Brasileira do Livro e Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil entre os anos de 2006 a 2010 com o objetivo de delinear o perfil social (sexo, orientação sexual, cor, religião, classe social, idade) dos seus protagonistas e discutir as mudanças observadas na temática e na caracterização dos mesmos com relação à literatura juvenil tradicional, anterior aos anos 70 - momento em que ocorre uma intensa renovação do gênero. As obras estudadas foram:

1.    Heroísmo de Quixote, de Paula Mastroberti, editora Rocco;

2.   Ciumento de Carteirinha, de Moacyr Scliar, editora Ática;
 
3.   O Barbeiro e o judeu da prestação contra o Sargento da Motocicleta, de Joel Rufino dos Santos, editora Moderna Ltda;
 
4.   Cidade dos Deitados, de Heloísa Prieto, editora Cosac Naify;

5.   Avó dezanove e o segredo do soviético, de Ondjaki, Companhia das Letras;
 
6.   Lis no peito: um livro que pede perdão, de Jorge Miguel Marinho, editora Biruta;
 
7.   O rapaz que não era de Liverpool, de Caio Riter, editora SM;
 
8.   Era no tempo do rei: um romance da chegada da corte, de Ruy Castro, editora Objetiva;
 
9.   O fazedor de velhos, de Rodrigo Lacerda, editora Cosac Naify; e

10.             A espada e o novelo, de Dionisio Jacob, editora SM.
 
Os resultados “foram submetidos ao programa Sphinx 5.1 – Versão Léxica, que gerou tabelas e gráficos com os dados quantitativos, posteriormente confrontados com os qualitativos”.
Os resultados quantitativos apontam para o fato de que “a literatura juvenil brasileira contemporânea premiada inova em diversos aspectos, como temas denunciadores e algumas características referentes à representação dos personagens”, mas considera também que “permanecem muitas ideologias conservadoras e tradicionais, que apresentam os valores das classes dominantes”. Analisando-se os resultados estatísticos, percebe-se que predominam – em um total de 11 protagonistas – personagens adolescentes e/ou jovens (7), brancos (7), heterossexuais (9) do sexo masculino (10), católicos (5, sendo 3 sem indício) e não pobres (5 da classe média e 3 da elite).
Com respeito aos resultados qualitativos, o relatório da pesquisa não aprofunda a discussão ao que diz respeito à permanência de “ideologias conservadoras e tradicionais”, mas é muito provável que a jovem pesquisadora se refira à hegemonia das características vistas, que apontam para um modelo de protagonista – que por sua vez prevê um perfil similar de leitor – masculino, branco, heterossexual, católico e de classe média ou alta, pois também conclui sobre a necessidade de a literatura juvenil brasileira retratar “mais realidades e culturas, de forma a inserir no universo ficcional para jovens as diferenças, incrementando seu conhecimento de mundo e do próprio ser humano”.
Conforme sua pesquisa parece demonstrar, há novidades boas nestas obras premiadas, tais como a incorporação de protagonistas jovens, uma redução da assimetria entre narrador e leitor, a inclusão de temas novos e polêmicos - tais como as drogas e a marginalidade/criminalidade -, mas o perfil dos protagonistas e dos leitores destas obras privilegia os privilegiados, ou seja, a identidade social dos jovens pertencentes à elite e que se enquadram nos valores dominantes na sociedade. Tais resultados levantam a seguinte questão: estarão as duas instituições consagradoras do gênero privilegiando este perfil ou este perfil acaba por ser destacar entre as obras premiadas devido à maioria esmagadora das obras que circulam no mercado privilegiá-lo? Eis uma boa questão a ser investigada.

prof. Marciano Lopes

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