Em seu PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica) recém encerrado, a aluna Mariana Cristine Gonçalles (Letras/UEM) sob orientação
da Dra. Mirian Hisae Y. Zappone desenvolveu o projeto de pesquisa intitulado "Imagens do adolescente na Literatura juvenil brasileira contemporânea
premiada". Ela estudadou 10 romances juvenis premiados
pelas instituições Câmara Brasileira do Livro e Fundação Nacional do Livro
Infantil e Juvenil entre os anos de 2006 a 2010 com o
objetivo de delinear o perfil social (sexo, orientação sexual, cor, religião,
classe social, idade) dos seus protagonistas e discutir as mudanças observadas
na temática e na caracterização dos mesmos com relação à literatura juvenil tradicional, anterior aos anos 70 - momento em que ocorre uma intensa renovação do gênero. As obras estudadas foram:
1. Heroísmo de Quixote, de Paula
Mastroberti, editora Rocco;
2. Ciumento de
Carteirinha,
de Moacyr Scliar, editora Ática;
3. O Barbeiro e o
judeu da prestação contra o Sargento da Motocicleta, de Joel Rufino
dos Santos, editora Moderna Ltda;
4. Cidade dos Deitados, de Heloísa
Prieto, editora Cosac Naify;
5. Avó dezanove e o
segredo do soviético,
de Ondjaki, Companhia das Letras;
6. Lis no peito: um
livro que pede perdão,
de Jorge Miguel Marinho, editora Biruta;
7. O rapaz que não era
de Liverpool,
de Caio Riter, editora SM;
8. Era no tempo do
rei: um romance da chegada da corte, de Ruy Castro, editora Objetiva;
9. O fazedor de velhos, de Rodrigo
Lacerda, editora Cosac Naify; e
10.
A espada e o novelo, de Dionisio Jacob, editora SM.
Os resultados “foram
submetidos ao programa Sphinx 5.1 – Versão Léxica, que gerou tabelas e gráficos
com os dados quantitativos, posteriormente confrontados com os qualitativos”.
Os resultados quantitativos apontam para o fato de que “a literatura juvenil
brasileira contemporânea premiada inova em diversos aspectos, como temas
denunciadores e algumas características referentes à representação dos
personagens”, mas considera também que “permanecem muitas ideologias conservadoras
e tradicionais, que apresentam os valores das classes dominantes”.
Analisando-se os resultados estatísticos, percebe-se que predominam – em um
total de 11 protagonistas – personagens adolescentes e/ou jovens (7), brancos (7),
heterossexuais (9) do sexo masculino (10), católicos (5, sendo 3 sem indício) e
não pobres (5 da classe média e 3 da elite).
Com respeito aos resultados
qualitativos, o relatório da pesquisa não aprofunda a discussão ao que diz respeito à
permanência de “ideologias conservadoras e tradicionais”, mas é muito provável
que a jovem pesquisadora se refira à hegemonia das características vistas, que apontam para um
modelo de protagonista – que por sua vez prevê um perfil similar de leitor –
masculino, branco, heterossexual, católico e de classe média ou alta, pois
também conclui sobre a necessidade de a literatura juvenil brasileira retratar
“mais realidades e culturas, de forma a inserir no universo ficcional para
jovens as diferenças, incrementando seu conhecimento de mundo e do próprio ser
humano”.
Conforme sua pesquisa parece demonstrar, há novidades boas nestas obras premiadas, tais como a incorporação de protagonistas jovens, uma redução da assimetria entre narrador e leitor, a inclusão de temas novos e polêmicos - tais como as drogas e a marginalidade/criminalidade -, mas o perfil dos protagonistas e dos leitores destas obras privilegia os privilegiados, ou seja, a identidade social dos jovens pertencentes à elite e que se enquadram nos valores dominantes na sociedade. Tais resultados levantam a seguinte questão: estarão as duas instituições consagradoras do gênero privilegiando este perfil ou este perfil acaba por ser destacar entre as obras premiadas devido à maioria esmagadora das obras que circulam no mercado privilegiá-lo? Eis uma boa questão a ser investigada.
prof. Marciano Lopes
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