O
livro Valentina foi escrito por Márcio Vassallo e publicado em 2007, pela
editora global. Vassallo participa sempre de mesas-redondas, em
encontros de mercado editorial, literatura e educação. Dentre as suas
obras podemos citar algumas infanto-juvenis: A Princesa Tiana e o sapo Gazé (1998), A fada afilhada (2001), A
Professora Encantadora (2010), Minha Princesa Africana (2011) e duas
de suas obras não-ficcionais: Mario Quintana - coleção Mestres da
Literatura (2005), Mães: o que elas têm a dizer sobre educação (2007). Selecionamos para a discussão neste artigo os aspectos mais relevantes
da obra e ressaltamos as características que a tornam tão atual e singular.
Porque o conto é atual
Valentina
é um conto atual por conter aspectos inovadores. Ele traz como personagem
central uma princesa que rompe com o modelo tradicional – ela é negra, tem
orelhas de abano, pernas compridas e usa óculos. Outra inovação é a abordagem
da questão social, visto que a história se passa em um morro do Rio de Janeiro,
na favela. Essa questão não é percebida pelo leitor através do texto verbal, mas devido às imagens
que representam a princesa e o espaço onde vive. Valentina é uma princesa simples que não se identifica
com o luxo e a beleza das princesas clássicas. As ilustrações de “traços
simples e fortes (...), são feitas a partir de papel reciclado, papel de
jornal, recortes, fotografia...”. (ROCHA, 2012). Essa composição pode ser
observada até mesmo na capa do livro, pois a coroa da princesa é de jornal.
Uma história narrada sob a perspectiva da protagonista: o olhar de
Valentina
Valentina não é uma menina com
um título de nobreza, ela não tem “sangue azul”. A garota é uma princesa
porque a fantasia é criada a partir de seu olhar com relação à sua
realidade e porque seus pais a tratam como tal, dentro de suas
limitações e possibilidades. Eles a protegem do mundo real. Ela mora em seu
“castelo” sem conhecer os problemas sociais, tais como a miséria e a
violência. Um exemplo disso aparece na expressão “dragões que cospem fogo”. O
autor usa uma metáfora para mostrar que os pais defendem a
"princesinha" dos bandidos e da violência existentes em algumas
favelas. Valentina vive longe dos perigos que o mundo pode oferecer.
Ela acredita ser uma princesa e não entende o motivo que faz seus pais
saírem de casa todos os dias, já que são o “rei” e a “rainha”. Então, curiosa,
a menina decide conhecer o tão falado “Tudo” que é a cidade do Rio de Janeiro.
Entretanto, o leitor só compreende a expressão “Tudo” no final da história.
Essa tomada de consciência ocorre por meio de uma página ilustrada com uma foto
em preto-e-branco da cidade do Rio de Janeiro. Nessa imagem, a favela está
pintada com aquarelas de cores que variam do amarelo ao marrom escuro e está situada
em um morro, distantante do grande centro capitalista da cidade do Rio de
Janeiro. Percebemos aí um contraste entre “Beira do Longe”, lugar distante onde
Valentina mora ,e o lugar chamado “Tudo”, que todos veneram como o melhor, o
mais agradável.
Ao descer do castelo, junto
com seus pais, ela descobre que lá embaixo, o “Tudo”, era bem diferente da sua
realidade. Todas as pessoas eram iguais, pois falavam e vestiam-se da mesma
maneira, além de ter os mesmos desejos. Essa descoberta ilustra uma sociedade
artificialmente homogênea. A garota conhece pessoas que agem da
mesma forma para serem aceitas, para se adequarem às convenções sociais.
O encantamento singular e a crítica social
:
O encantamento da história não está nos feitiços, magias ou metamorfoses, mas na ilusão criada pelos pais para preservar a pequena filha dos riscos de se viver nas condições que lhes restam por não pertencerem à burguesia do Rio de Janeiro, que na maioria das vezes é indiferente a essa questão. Valentina é uma narrativa curta que mostra alguns valores, como a crença no trabalho para prosperar na vida, conforme se depreende da seguinte frase:“(...) o rei e a rainha diziam que só saiam do castelo para a princesa ser alguém na vida”.
Podemos perceber, na frase acima, a forte presença da ideia de que é necessário trabalhar para possuir condições financeiras melhores e, consequentemente, ter uma vida mais tranquila.
O encantamento da história não está nos feitiços, magias ou metamorfoses, mas na ilusão criada pelos pais para preservar a pequena filha dos riscos de se viver nas condições que lhes restam por não pertencerem à burguesia do Rio de Janeiro, que na maioria das vezes é indiferente a essa questão. Valentina é uma narrativa curta que mostra alguns valores, como a crença no trabalho para prosperar na vida, conforme se depreende da seguinte frase:“(...) o rei e a rainha diziam que só saiam do castelo para a princesa ser alguém na vida”.
Podemos perceber, na frase acima, a forte presença da ideia de que é necessário trabalhar para possuir condições financeiras melhores e, consequentemente, ter uma vida mais tranquila.
A atitude dos pais de Valentina ao dizerem que saem de casa para que ela
seja “alguém na vida” reflete a visão de que quem mora na favela é
"ninguém", enquanto quem mora nos centros urbanos (tratados no conto
como "Tudo") é "alguém". Essa maneira de ver o mundo é rompida quando
Valentina diz que não quer ser ninguém, porque já é alguém. Na realidade, a
visão dos pais considera que só é reconhecido socialmente, com seus
valores, direitos e deveres, aqueles que “tem” poderes, uma condição
socioeconômica estável e pertencem à burguesia da cidade grande. Já a visão de
Valentina é de natureza ingênua, pois notamos, através da narrativa, que
Valentina não sabia o que significava realmente a expressão “ser alguém na
vida”.
A partir dessa narrativa, o autor critica a visão capitalista de que o
“belo” e o “encantado” se restringem somente a contextos burgueses. Observamos,
através dessa narrativa, que o autor trata a questão da existência da
desigualdade social, a divergência entre o mundo capitalista e a realidade das
pessoas marginalizadas, mas sem descartar a possibilidade de uma criança que
vive na periferia dos grandes centros urbanos - e que não tem conforto, luxo, e
nem riquezas - de viver seu próprio conto de fadas.
Verificamos que Márcio Vassallo aborda a
questão dos valores sociais, das diferenças étnicas e de crenças, entre
outros fatores que ajudam na reflexão sobre o respeito para com a diversidade
social e cultural do Brasil, já que a história se passa em ambientes
pertencentes à realidade de nosso país como a cidade do Rio de Janeiro e a
favela.
A seguir, temos um pequeno vídeo que trata da principal temática do
livro, vale a pena conferir!
Referências
ROCHA,
S. de O. Crítica de Valentina. Site Marcio Vassallo: 2012. Disponível em:
VASSALLO, M. Valentina. Ilustrações de Suppa. São Paulo: Editora Global, 2007.
GT 5: Contos de Fadas na Atualidade
Retirei a última parte do texto porque não havia nenhuma sugestão/indicação de atividade em classe conforme indicava o subtítulo. (prof. Marciano)
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