Cecília Meireles, em seu poema Ou isto ou aquilo, dá um tratamento literário à poesia infantil e demonstra um profundo conhecimento de sua lógica. Nele, a conjunção alternativa não exclui, mas aproxima as oposições, colocando-as lado a lado, de modo que, ao final, elas se anulam enquanto opções e passam a construir um todo, com elementos equivalentes que se somam(PONDÉ, 1983, p. 98).
Na literatura infantil, as
histórias sempre suscitam o imaginário da criança, atingem um grau de curiosidade
envolvente para com o final da história, atiçam perguntas e questionamentos, despertam
interesses, estimulam criações no desenhar, no teatralizar, no musicar, no
brincar e causam emoções. Estes mesmos efeitos acontecem também com aquelas
crianças que se envolvem com a poesia, pois as brincadeiras infantis mostram
claramente esse gosto especial pelos ritmos, pela musicalidade, pelas
repetições, pelas aliterações, pelas onomatopeias, - que são também
características poéticas - enfim, por diversas figuras de linguagem - que
muitas vezes, mesmo sem reconhecê-las as crianças fazem uso frequente delas em
suas atividades - e recursos lúdicos que vão ordenando o próprio universo
infantil.
A poesia é um meio
privilegiado para despertar o amor pela língua materna e pela leitura. As
estrofes em algumas vezes curtas, a rima, o ritmo, a sonoridade, os sentimentos
que elas despertam e tudo o mais que ela envolve, permitem uma descoberta das
potencialidades da linguagem escrita. Essa descoberta, que tanto encanta aos
leitores, adquire assim um caráter lúdico. Brincar com os sons, descobrir novas
ressonâncias, ouvir e ler pequenas histórias em verso, memorizar os poemas
preferidos, desvendar imagens e sentimentos contidos na palavra, são situações
de adesão imediata naqueles que se envolvem com a poesia e que se deixam render
por ela.
No âmbito da poesia
infantil, Cecília Meireles é um nome que muito se destaca pela maneira como constrói
seus versos e pela valorização que dá à leitura. Ela envolve em
seus escritos um desejo de verdade e figuras de fantasia que envolvem a criança.
"Ah, tu, livro despretensioso, que, na sombra de uma prateleira, uma criança livremente descobriu, pelo qual se encantou, e, sem figuras, sem extravagâncias, esqueceu as horas, os companheiros, a merenda... tu, sim, és um livro infantil, o teu prestígio será, na verdade, imortal" (MEIRELES, 1979).
Para iniciarmos nossa viagem pela poesia infantil de Cecília Meireles, apresentamos nesta postagem
um poema que agrada tanto crianças quanto adultos:
OU ISTO OU AQUILO
Cecília Meireles
Ou se calça a luva e
não se põe o anel,
Ou se põe o anel e não se calça a luva!
Ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não
fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que
não se possa
Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e
não compro o doce,
Ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou
isto ou aquilo...
E vivo escolhendo o dia inteiro!
E vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não
sei se estudo,
Se saio correndo ou fico tranqüilo.
Se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui
entender ainda
Qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Qual é melhor: se é isto ou aquilo.
Neste poema, a
problemática da dúvida e da decisão diante das possibilidades é colocada em
evidência de uma forma sutil. São elas, dúvida e incerteza, as questões básicas
de escolha que se fazem presentes no universo da criança, e ao lê-las, a
criança se identifica com o que foi apresentado, remetendo para próprias
situações já vividas, onde a faz pensar que não é a única que passa pelas mesmas incertezas. Pode lembrar-se também de situações presenciadas, onde leva a ideia de as ‘sérias
decisões da vida adulta’, pois afinal de contas, é muito difícil ter de escolher, independente se você é criança ou não!
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No link que segue é possível
encontrar o livro “Ou isto ou aquilo”, de Cecília Meireles, na íntegra: http://pt.scribd.com/doc/27795683/Cecilia-Meireles-Ou-Isto-Ou-Aquilo
Referências:
PONDÉ, Maria da Graça
Fialho. Poesia para Crianças: a
Mágica da Eterna Infância. In: KHEDÉ, Sônia Salomão (Org.). Literatura Infanto-juvenil: um Gênero Polêmico.
Petrópolis: Vozes, 1983.
MOISÉS, Massaud. A Criação Literária. Poesia. 13.
ed. São Paulo: Cultrix, 1997.
GT1: Poesia Infantil
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ResponderExcluiremail : dralaura13@gmail.com