Nas postagens
anteriores já havíamos abordado as diferentes representações e significados que
as ilustrações podem trazer ao texto. Na postagem de hoje, vamos trabalhar com
uma figura – o índio – e suas representações em histórias em quadrinhos e
livros infanto juvenis, observando as características de cada uma delas e quais
os efeitos de sentido que cada uma delas provoca. Para isso, nos baseamos em
trechos do artigo “Imagens da vida indígena:
uma análise de ilustrações em livros de literatura infantil contemporânea” de Verônica Simm e Iara Tatiana Bonin (2011).
Segundo as autoras:
“(...) de um modo geral, nas ilustrações estão
presentes alguns estereótipos, que serviriam para construir uma imagem
facilmente reconhecível. Em parte, esta representação simplificada e baseada
em estereótipos se vincula ao entendimento de que os leitores – crianças e
jovens – não disporiam de elementos mais complexos para “ler” uma imagem que
não fosse óbvia. Tal entendimento poderia explicar a simplificação de algumas
cenas da vida indígena (SIMM; BONIN, 2011, p.3).”
Desse modo, a representação indígena feita por Maurício de Souza, do
personagem Papa-Capim remete a imagem que todos temos de um índio, isto é,
“(...) um indiozinho que facilmente reconhecemos,
mesmo que o personagem não esteja inserido nos quadrinhos, ou no contexto da
floresta. A cor da pele, o corte de cabelo, a tanga ao estilo norte americano
são, por exemplo, os traços que distinguem este personagem (SIMM; BONIN, 2011,
p.3).”
Na figura acima, ilustrada por Maurício de Souza, o
Papa Capim e o outro personagem, apesar de estarem em cima de uma árvore, o que
retrata a realidade da vida indígena em contato direto com a natureza, observam
a cidade caracterizada pela presença de vários prédios. Isso mostra que, mesmo
com a chegada da modernidade, discutida pelos personagens no diálogo, o índio
não perde suas características principais: a tanga, o corte de cabelo, seus
adornos, a cor da pele, etc, o que compõe o estereótipo de índio presente na
sociedade.
Pensando em livros infanto juvenis, as
representações indígenas continuam sendo retratadas da mesma forma, por meio de
tais traços característicos. Para pensar essa questão, retomamos as capas de
três livros ilustrados por Inez Martins – Um Sonho que não Parecia Sonho,
Caçadores de Aventura, O Sumiço da Noite, todos de autoria de Daniel
Munduruku, destacadas abaixo:
Nos dois primeiros
livros, os índios continuam a ser representados de forma tradicional: na figura
1, deitado em uma rede e na figura 2, com instrumentos de caça e pesca (o arco
e flecha), além de manterem os traços característicos: a pintura, os adornos,
entre outros. Na terceira figura, esses traços se mantém,
“ (...) no entanto ele [o índio] é representado com dois
símbolos de poder, que estabelecem certo lugar hierárquico em relação aos
outros personagens: o cocar e um instrumento ritualístico (um recipiente no
qual se guarda os segredos da noite) (SIMM; BONIN, 2011, p.3)”
Com essa ilustração
percebemos que esse índio não é “tradicional”, ou seja, não é retratado com
base no senso comum, mas por meio de particularidades de uma tribo, pensando
nas suas especificidades.
Para finalizar,
destacamos que além da ilustração contribuir para a construção de sentidos no
texto, também auxilia na construção de identidades, e nesse caso de um
estereótipo – o índio. O que poderia ser feito em todas as obras que ilustram o
índio é considerar as diferentes tribos e a importância de cada uma,
valorizando a diversidade na cultura indígena em suas representações imagéticas
e sendo fiel as suas particularidades.
Referências:
SIMM, V.; BONIN, I. T. imagens da vida indígena: uma análise de
ilustrações em livros de literatura infantil contemporânea. Revista
Historiador. Nº 4. Ano 4. Dez, 2011.
GT6 - HQs e ilustração do livro infantojuvenil
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