domingo, 30 de outubro de 2011

Cecília Meireles


“Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta”

“Esta menina
Tão pequenina
“Quer ser bailarina”





       Provavelmente, em algum “instante” de nossa vida escolar, quando “pequeninos” ou não, por “motivos” meramente escolares ou porque acreditávamos (e/ou ainda acreditamos) na beleza dos sonhos de sermos “bailarinos” de nossas vidas (mesmo tão pequeninos diante da imensidão do mundo), pudemos ter tido contato com esses famosos versos, que de tão harmônicos e melódicos, remete-nos, sem margem de dúvida, a uma poeta que soube muito bem materializar em linguagem poética, aquilo que muitas vezes só pode ser depreendido, sentido, vivido, por meio de experiências concretas.

Dados Biográficos

Cecília Meireles nasceu no dia 07 de novembro de 1901 e faleceu no dia 9 de novembro de  1964. Órfã de pai e de mãe muito cedo, foi criada pela avó.
 
Darcy Damasceno (2003), em uma nota biográfica sobre Meireles, expõe que a poetiza tem uma boa recordação da infância e que, como aprendeu a lidar com a morte desde cedo, foi desenvolvendo os sentimentos que permeiam as principais teses diluídas em seus poemas, como a transitoriedade da vida. Damasceno apresenta um fragmento de entrevista de Cecília no qual a poetiza enfatiza sentimentos oriundos da infância que a acompanharam durante toda a vida, configurando-se como uma das principais temáticas de sua obra:
“Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: o silêncio e solidão. Essa foi sempre a área da minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo de seu mecanismo, e as bonecas o jogo de seu olhar”. 
Com apenas 18 anos, em 1919, Meireles publica seu livro “Espectros”, considerado pela Crítica Literária, como simbolista.
 
Professora, participava diretamente dos assuntos relacionados à educação. Escrevia uma coluna semanal no Jornal Diário de Notícia, discutindo os problemas do ensino. A paixão pela educação fez com que Cecília criasse a primeira biblioteca infantil, no Rio de Janeiro, em 1934, além de escrever livros didáticos e literários para criança.
 
Em 1939, publica “Viagem”, provavelmente, um dos seus trabalhos mais reconhecido, tendo, por isso, também recebido alguns prêmios, inclusive, da Academia Brasileira de Letras.  
 
Destaca-se, ainda, que, enquanto professora, dedicava-se a estudar a cultura e o folclore brasileiro, ministrando palestras e cursos em diversos países sobre essa temática.
 
No ano de sua morte, em 1964, publica “Ou isto ou aquilo”, livro de poesia infantil que obteve reconhecimento por tratar de modo criativo e instigante temas vividos na infância.
               
 
A contribuição de Cecília Meireles para a Literatura Infantil

       Meireles não se destaca como uma escritora consagrada de literatura infantil, “apenas”, por ter publicado livros para esse público específico, mas, sim, por se preocupar (papel que se sempre desempenhou enquanto educadora), na formação pessoal de cada criança, na qual os valores culturais, dentre eles, a  literatura exerce um valor fundamental:
Se considerarmos que muitas crianças, ainda hoje, têm na infância o melhor tempo disponível da sua vida; que talvez nunca mais possam ter a liberdade de uma leitura desinteressada, compreenderemos a importância de bem aproveitar essa oportunidade. Se a criança, desde cedo fosse posta em contato com obras-primas, é possível que sua formação se processasse de modo mais perfeito. (MEIRELES, 1979, p. 96, apud, MACHADO; MELO, 2007, p. 05-06).

Essa preocupação ficou expressa nos ensaios e textos teóricos que Cecília Meireles escreveu a respeito do tema, dentre eles, destaca-se o livro Problemas da Literatura Infantil, datado de 1951.
 
     Machado; Melo (2007), discorrendo sobre as características da boa literatura educativa, subsidiam-se no livro Problemas de Literatura infantil, apresentando as principais ideias de Meireles a respeito do que é escrever para criança e de como deve ser essa literatura. Dentre os principais pontos expostos, destaca-se o valor da história, “da fábula” a ser escrita – nesse aspecto, nota-se uma crítica ao caráter essencialmente (e, talvez, somente,) utilitário que as primeiras obras destinadas ao público infantil continham; a importância da ilustração, bem como o resgate da literatura oral são também aspectos que devem ser cuidadosamente articulados ao se produzir um texto literário.
 
    A nosso ver, além das características já descritas, destaca-se em Meireles o reconhecimento da literatura enquanto obra de arte, perpassada, essencialmente, pelo valor estético e, sendo assim, mesmo que o cuidado na adequação ao público infantil exista, não é o fator mais importante e não se sobrepõe ao caráter literário, independente se literatura infantil ou não!

[...] Costuma-se classificar como Literatura Infantil o que para elas (crianças) se escreve. Seria mais acertado, talvez, assim classificar  que elas lêem com utilidade e prazer. Não haveria, pois, uma Literatura Infantil “a priori”, mas “a posteriori”. (MEIRELES, 1979, p. 19) [...] em lugar de se classificar e julgar o livro infantil como habitualmente se faz, pelo critério comum da opinião dos adultos, mais acertado parece submetê-lo ao uso – não estou dizendo a crítica – da criança, que, afinal, sendo a pessoa diretamente interessada por essa leitura, manifestará pela sua preferência, se ela satisfaz ou não. Pode até acontecer que a criança, entre um livro escrito especialmente para ela e outro que o não foi, venha a preferir o segundo. (MEIRELES, 1979, p.27). (In: MELO; MACHADO, 2007, p. 06)

Referências

MEIRELES, Cecília. Flor de poemas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. Nota editorial Darcy Damasceno. 
 
MÉLO, Cristiane Silva ; MACHADO, Maria Cristina Gomes . As contribuições de Cecília Meireles para a leitura e a literatura infantil. In: 16 Congresso de Leitura do Brasil - No mundo há muitas armadilhas: é preciso quebrá-las, 2007, Campinas. Anais do 16 Congresso de Leitura do Brasil - No mundo há muitas armadilhas e é preciso quebrá-las. Campinas : UNICAMP. Universidade de Campinas, 2007. v. 1. p. 1-11.  Disponível em  http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem08pdf/sm08ss04_02.pdf
 
KIKUTI, Sheila da Guia Schneider. Um estudo da obra poética de Cecília Meireles dedicada à infância.  Olho d’água, São José do Rio Preto, 1 (1): 17-28, 2009. Disponível em
http://www.olhodagua.ibilce.unesp.br/index.php/Olhodagua/article/view/3/2


Vídeos:

          Nos vídeos abaixo, você pode conferir o programa "De lá pra Cá", da Tv Brasil, sobre Cecília Meireles, apresentado por Ancelmo Gois e Vera Barroso.

 
 

Grupo 6: Autores Consagrados da Literatura Infanto-Juvenil

Um comentário:

  1. Tomei a liberdade de aumentar a fonte das citações em destaque, tava pequena demais! de resto, tá excelente a postagem, parabéns ao grupo! (Marciano Lopes)

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