sábado, 8 de outubro de 2011

Ervilina e o Princês


  Dentre os contos de fada escritos pelo dinamarquês Hans Christian Andersen, um dos mais famosos é a história “A Princesa e a Ervilha”, na qual um príncipe procura uma “princesa de verdade” para se casar com ela, e uma moça é testada com uma ervilha. A história é conhecida, e para os que ainda não tiveram oportunidade de lê-la, podem fazê-lo neste link, disponibilizado pelas Edições Paulinas. A obra de Andersen não é, contudo, o assunto deste post - ou ao menos não diretamente.
 
  Quando se pensa em literatura infantil brasileira, Sylvia Orthof é um dos nomes mais conhecidos. A autora e ilustradora adentrou nesse universo a convite de ninguém menos que Ruth Rocha, publicou mais de 120 livros e ganhou vários prêmios por eles, incluindo o Jabuti de 1982 e selos de “altamente recomendável para crianças” pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Faleceu em 1997, deixando de herança livros infantis maravilhosos.
  Um desses livros recupera justamente a história que comentamos, e tem por título(s) “Ervilina e o Princês” ou “Deu a louca em Ervilina”. Isso mesmo: "dois títulos", em todas as edições:


  Como é esperado do título, é um conto bem humorado que brinca com o tradicional. Ela marca esse tom divertido em vários momentos, e sua escrita tem um aspecto metaliterário. Isso tudo está bem evidente logo no começo da história:
Vou contar, cá do meu jeito,
uma história muito antiga,
muito feita de princesa,
história de rei, de rainha,
história toda encantada,
melada de bruxa e fada,
história recontada
que resolvi aumentar.
Quem conta um conto, aumenta,
um ponto mais, outro mais,
transforma, vira e inventa,
quem conta um conto 
refaz.
  Pronto, está claro seu objetivo: recontar e aumentar um conto-de-fadas. Como se pode observar, o texto é escrito em versos, com um estilo rico e chamativo. Outro ponto memorável é a rica descrição do espaço e dos personagens:
Se você quiser saber 
como era o tal castelo,
era só de passarinhos,
dourados e rouxinados,
andorinhas voadoras 
todas feitas em metal,
era ouro, era prata,
e a montanha 
de cristal.

(...)

E veio chegando a rainha
numa rede balançando,
a rede era de estrelas,
muitas aias carregando,
seu vestido era de rendas,
a coroa era de prata,
as tranças eram douradas,
as mãos eram aneladas
com brilhantes, diamante,
braceletes de esmeraldas,
correntes que a prendiam
à coroa imperial.
 
  A respeito da história, é basicamente a mesma da de Andersen: um príncipe procura uma moça delicada para se casar e “ser feliz para sempre”. E é nesse ponto da história que a escritora foge do "clássico": o final é inesperado e marca o caráter emancipatório da literatura infantil atual.
  Inicialmente, este livro era ilustrado pela própria autora, e era publicado pela Editora Memórias Futuras, que veio a falência. Este fato fez a história se perder por alguns anos, mas felizmente o PNBE (Programa Nacional da Biblioteca na Escola) adquiriu os direitos do livro e fez uma nova edição.
Ilustração de Laura Castilhos
  A edição mais atualizada preserva a maior parte das características da antiga, mas se diferencia principalmente pela ilustração de Laura Castilhos, que utiliza técnicas que se valem de pintura, colagem, recorte. Nas páginas finais, há uma biografia resumida da autora e da atual ilustradora, bem como as páginas reduzidas da 1ª edição, para os curiosos.
 
  Tendo em vista o exposto, o livro é recomendado tanto pela rica linguagem literária, quanto pelo rumo surpreendente que Sylvia Orthof adota para "subverter" o conto original.

         Alguns links interessantes:
         Site de Sylvia Orthof 
         Site de Laura Castilhos  
         Site do PNBE 
         Site da Editora Projeto, selecionada pelo PNBE



SUGESTÕES PARA PROFESSORES

Promover atividades que proporcionem a interpretação da obra de maneira interativa. Neste sentido, conversar sobre os objetivos da autora. Compreender também a linguagem utilizada, as figuras de linguagem e o fato de o texto estar escrito em verso. Comentar as relações intertextuais da história, mostrando aos alunos o conto original em um momento anterior. Atentar os alunos para as figuras.

Grupo 4: Contos de Fadas na Atualidade

Um comentário:

  1. Muito bom!!! Atenção: vocês - assim como todos os grupos - estão esquecendo de assinar a postagem (GT4, no caso de vocês, certo?). Até a JIOP, com inscrições prorrogadas até dia 14! Não percam!

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