É indiscutível a importância do escritor brasileiro Monteiro Lobato, pois suas obras infanto-juvenis foram/são de grande valor na literatura. Todavia, em 2010, o livro Caçadas de Pedrinho provocou uma discussão polêmica: Monteiro Lobato era racista? Evidências apontavam que sim. Eis o excerto mais impactante cujo conteúdo demonstraria tal posição, de acordo com informações divulgadas pela imprensa brasileira e pelo CNE: “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou [na árvore], que nem uma macaca de carvão.”
Para apimentar a questão, a revista Bravo! retomou em sua capa da edição de maio do ano corrente tal assunto e divulgou trechos de algumas cartas inéditas do escritor cujos conteúdos são reveladores nesse sentido, e os quais reforçam a pertinência dessa discussão: fica explícito na reportagem que Monteiro Lobato não era apenas racista, mas também admirava ideologias - hoje fortemente condenadas, ao menos no discurso social -, tais como a teoria eugenista (teoria genética/biológica da pureza racial) e a Ku Klux Klan (nome de várias organizações racistas norte-americanas que defendem a superioridade e a hegemonia branca). Abaixo são apresentados alguns trechos das cartas referidas, Lobato enviava-as aos seus amigos os quais compactuavam da mesma opinião:
País de mestiços, onde branco não tem força para organizar uma Ku-Klux-Klan [sic], é país perdido para altos destinos. [...] Um dia se fará justiça ao Ku-Klux-Klan; tivéssemos aí uma defesa de ordem, que mantém o negro em seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca – mulatinho fazendo jogo de galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade construtiva. (carta enviada a Arthur Neiva em 10/4/1928)
Mas que feio material humano formiga entre tanta pedra velha! A massa popular é positivamente um resíduo, um detrito biológico. Já a elite que brota como uma flor desse esterco tem todas as finuras cortesãs das raças bem amadurecidas. (carta envida a Arthur Neiva em 15/12/1935)
Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. (carta enviada a Godofredo Rangel, em 1944)
O vídeo abaixo resume todo esse impasse polêmico do racismo - na literatura e na vida de Monteiro Lobato - e também mostra diversas posições quanto à questão:
Segue um vídeo de um debate sobre a questão do racismo em Monteiro Lobato e nos livros didáticos feito pelo Programa Justiça e Democracia, da Associação de Juízes pela Democracia veiculado pela All TV entrevista Douglas Belchior, membro do Conselho Geral da UNE afro-Brasil, na véspera de 20 de Novembro de 2010, Dia Nacional da Consciência Negra:
REFERÊNCIAS
Revista Bravo!. Monteiro Lobato e o Racismo. São Paulo: Abril, v. 165, maio. 2011. 24 – 33p.
Artigo: Monteiro Lobato e Tia Nastácia e a tradicional e poderosa e sempre renascente censura literária no Brasil. Disponível em: http://migre.me/5XgEo.
Grupo 6: Autores Consagrados da Literatura Infanto-Juvenil
Outro artigo de indispensável leitura é: "Preconceito e intolerância em Caçadas de Pedrinho: a polêmica Lobato/Conselho Nacional de Educação - da autoria de Marisa Lajolo.
ResponderExcluirhttp://www."revistaemilia.com.br/mostra.php?id=30
prof. Marciano Lopes
Disponível em: http://www.revistaemilia.com.br/mostra.php?id=30