domingo, 25 de novembro de 2012

Uma fadinha atrevida com sua varinha de condão.

O conto de fadas “A fada que tinha ideias” pode ser comparado a outros textos infantis das décadas de 70 e 80, que foram marcados pelo contexto da Ditadura Militar. Trata-se de um livro maravilhoso para as crianças e também para leitores de outras idades. A autora deste livro é Fernanda Lopes de Almeida e as ilustrações são de André Neves.
 
O livro é um conto dividido em 13 capítulos, que parecem quase independentes entre si. Mas o conflito principal pertinente a cada capítulo é o fato de que as fadinhas não saem fazendo mágicas que não estejam inscritas no Livro das Fadas, mas a personagem Clara Luz é uma fada diferente.

Ela é verdadeira e não se submete às regras e à rainha, autoridade máxima. A fadinha tenta, e, na maioria das vezes, consegue realizar o que pensa e o que deseja com a sua varinha mágica. Com uma visão inovadora e criativa, ela não se sujeita ao autoritarismo da rabugenta Rainha e não se satisfaz em apenas aprender o que consta no livro das fadas. Clara Luz quer criar mágicas novas e ter mirabolantes ideias. Ela parece ser uma fada revolucionária e positiva, pois, além de ser rebelde, ela experimenta o novo e sai do que é tradicional nos contos do reino das fadas.

Também há um caráter inovador e atual no conto de fadas. Clara Luz é uma fada que apresenta uma nova perspectiva sobre o pensar e o agir, através de suas próprias ideias. Com isso, apresenta, metaforicamente, a opinião de que o mundo não deve parar e a todo instante deve ser transformado com novas criações, com um comportamento original e capaz de trazer a revolução ao que já está pré-estabelecido. Não acha original o fato de algumas fadas terem de transformar abóboras em carruagens, considerando clichê a missão de desencantar princesas, por exemplo.

Por tais razões, é possível afirmar que a obra possui um cunho contestatório, podendo ser lido como uma denúncia do abuso do poder totalitário da época. A leitura desse conto mostra ao leitor infanto-juvenil o poder de transgressão das instituições, ou seja, incentivando-as a não serem passivas às decisões de um poder autoritário. No entanto, essa celebração do ideal moderno de liberdade, que nos incentiva a criar e recriar o mundo ao nosso redor conforme nossos desejos pessoais, volta-se para a constituição de um sujeito capaz de resistir às várias formas de opressão e injustiça agindo por si só, individualmente, o que confere a sua proposta de ação social um caráter bastante individualista.

Veja vídeo com a animação e leitura do início da história e divulgação da obra:


Referências

RICHER, D. e MERKEL, J. A função da fantasia dos contos de fada na educação burguesa.


GT 5: Contos de Fadas na Atualidade


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