quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A ilustração da obra de Monteiro Lobato ao longo do tempo



Monteiro Lobato é um dos autores consagrados da literatura infantojuvenil brasileira e um dos que mais contribuíram para ela. Qual adulto ou qual criança nunca ouviu falar do “Sítio do Picapau Amarelo”, das peripécias da Emília e das aventuras de Pedrinho e Narizinho? Nessa postagem vamos analisar, especificamente, a ilustração no livro “A chave do tamanho”, escrita pelo autor, e as várias capas que representam as suas diferentes edições.

Nas edições dos textos de Monteiro Lobato, por exemplo, dos anos de 1940 a 1960, percebe-se a presença de imagens, além do trabalho da capa, que acompanham o desenvolvimento do texto. Nesse caso, temos ilustrações em preto e branco (com as técnicas de xilogravura, de gravura em metal ou de litografia) esporádicas ao longo dos livros, mas que já apontam para a leitura que os ilustradores realizam das obras em questão (GOMES, 2010, p. 215).

           
            Apesar da importância das ilustrações nos livros de literatura infantojuvenil, principalmente nas capas, encontramos uma edição mais antiga do livro “A chave do tamanho” que não as apresenta, salvo uma pequena imagem da personagem Emília na capa, como podemos perceber na imagem abaixo:





            Também encontramos outras edições desse livro, mas que já possuem ilustrações em sua capa, respectivamente, em 1960, 1986 e 2008:




            
            Na edição mais antiga, sem ilustrações na capa, percebemos, mesmo que pequena, a presença da personagem Emília. Não observamos, porém, a presença de elementos que chamem a atenção da criança para a leitura, como exemplo, cores, recursos gráficos, outros personagens, como se observa nas outras capas. Nas capas de 1960 e 1986, há um enfoque sobre o personagem Visconde de Sabugosa, que aparece no centro das duas capas, colorido e de forma expressiva. Já na capa de 2008, o enfoque é voltado para a Emília, a natureza e outros personagens, sendo uma capa bem mais atrativa e colorida. Essas diferentes ilustrações podem nos mostrar que com o passar dos anos, a depender da época, mudam-se os valores e também as ilustrações.


Análise dos personagens Visconde e Rabicó:
Um contraponto entre 1986 e 2008


         Agora analisaremos, especificamente, as ilustrações dos personagens destacados presentes na edição do livro de Monteiro Lobato em 1986, comparando-as com ilustrações mais atuais. No ano de 86 as ilustrações foram produzidas por Manoel Vitor Filho, já no ano de 2008, pela Editora Globo:

(1986)   

   
(2008)
 

Notamos que há uma diferença gritante em relação as duas ilustrações acima. Na primeira, o personagem Visconde de Sabugosa é apresentado em preto e branco e com o tamanho real de um sabugo de milho. Em contrapartida, no ano de 2008, esse personagem é retratado com cores e do  tamanho de um adulto.

Em relação ao personagem Marquês de Rabicó também observamos essas diferenças:

(1986)
(2008)
          
Novamente, percebemos uma grande transformação na representação desse personagem. Em 1986, o personagem Rabicó possui aparência do animal porco, era quadrúpede e não usava roupas. No entanto, no ano de 2008, o personagem passa a apresentar características humanas, como o uso de roupas, na forma de andar e também na sua aparência. Dessa forma, nas palavras de Camargo:

“Se entendemos que a ilustração é uma imagem que acompanha um texto e não seu substituto; e se entendemos que a relação entre ilustração e texto não é de paráfrase ou tradução, mas de coerência, então abre-se para o ilustrador um amplo leque de possibilidades de convergência com o texto, convergência esta que não limita a exploração de linguagem visual, mas, ao contrário, pode incentivá-la (CAMARGO apud GOMES, 2010, p.218).”



Podemos então concluir que os ilustradores estão sempre buscando aperfeiçoar sua forma de representar por meio da imagem os sentidos do texto. Um mesmo texto pode ser ilustrado de diferentes formas, influenciado pela época, pelos valores, pela cultura, mostrando que ilustração e sociedade estão sempre relacionadas.


Referências:

GOMES, M. Lendo imagens: ilustrações das obras de Monteiro Lobato. Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo. Passo Fundo, v. 6, n. 2, p. 215-226. Jul./dez. 2010

LOBATO, M. A chave do tamanho. 29. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.

Grupo 06 - Ilustração do livro infantojuvenil






Um comentário:

  1. Gostaria de saber se existe um fundo de verdade sobre o fato de que a pintora Anita Malfatti, tão criticada por Monteiro Lobato em 1917 realmente ilustrou algumas obras desse autor e quais obras foram essas e além disso se é possível encontrá-las na web. Pergunto isso para complementar um trabalho e ficaria bastante agradecido com sua resposta.

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