sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O mundo horroroso X O mundo maravilhoso


Fonte http://www.modernaliteratura.com.br
O livro de Pedro Bandeira e Carlos Edgard Herrero, intitulado  “O pequeno lobisomem” conta uma história muito interessante e curiosa, que nos leva a refletir sobre o sentimento que a criança possui ao perceber que é diferente, de algum modo, das outras crianças (e adultos). Analisando o texto é possível afirmar que ele possui um cunho pedagógico, pois tem a intenção de ensinar a seus leitores que mesmo se “você” for diferente daquilo que esperam que seja, encontrará alguém que estará disposto a estar junto de “você”, e, principalmente, alguém que precisa da sua companhia, tanto quanto “você” precisaria da companhia desse alguém.

A narrativa por sua vez conta a seguinte história:

Existe uma família de lobos (“no país da imaginação horrorosa só para assustar as crianças”) que viviam em uma floresta escura e medonha uivavam de forma medonha. Até que nasce um novo “Lobisbebê” que não tinha a carinha “tão feia e peluda como devia ser (...) e gostava de tomar leite na mamadeira, e não suco de pimenta bem ardida como todos os Lobisbebês”. Certo dia ele sai de casa, sem seus irmãos e sem seus pais, o “Lobisomem” e a “Lobismulher”, e se depara com um mundo muito diferente daquele que conhecia, com jardins muito floridos, um sol radiante, pássaros e crianças felizes brincando com cachorrinhos e ele percebeu que não queria ser como sua família que vivia para aterrorizar as crianças, mas que queria brincar com elas. Decidiu assim ir até eles, mas todos saíram correndo com muito medo e ele ficou por ali, sozinho, muito triste, até que viu uma menininha triste como ele e chorando por falta de seu cachorrinho que a tinha deixado. O “Lobisbebê” se aproxima com medo de que ela fosse fugir dele também, mas a garotinha o recebe com a maior alegria do mundo e eles acabam por se completar. Ele passa a habitar o país da imaginação maravilhosa e torna-se seu animalzinho de estimação, e ela volta a ser muito feliz por ter um novo bicho que gostava dela e estava ao seu lado.

A obra possui também a intenção de mostrar à criança que se pode ser diferente daquilo que ela acredita ser o modelo “ideal” para a sociedade, por exemplo; as crianças que se sentem excluídas por alguma deficiência, ou por serem alvos de bullying, podem ser incentivadas com esse livro com a ideia de que também podem superar suas dificuldades a partir do momento em que enfrentar os obstáculos encontrados. Na história, o “Lobisbebê” ao perceber que não irá viver de uma forma que o agrada (assustando as crianças, uivando para a lua para amedrontar a todos, em uma casa caindo aos pedaços e em uma floresta muito escura e medonha) tem a curiosidade de ir até um lugar onde até então não podia ir.

Ao ver o outro lado do mundo da imaginação horrorosa, ele percebe que não quer viver como sua família e enfrenta com sucesso a apreensão de ser reprimido por seus pais, por ter encontrado alguém tão aflito quanto ele: a garotinha que o “adota” para que ele possa viver no mundo da imaginação maravilhosa.
Fonte: www.acidadevotuporanga.com.br
O personagem “Lobisbebê” ao se deparar com as crianças se sente excluído, rejeitado, diferente, pois todas as crianças e animais saem correndo apavorados de medo, esse momento do texto pode fazer com que a criança que já sofreu algum tipo de bullying se identifique, quando esteve perto de outras crianças que a rejeitaram, a olharam de modo diferente, ou que a excluíram de alguma brincadeira.

No final do texto quando finalmente o personagem consegue se integrar ao mundo com que sempre sonhou e enfim fazer amizades e brincar com todos, ele deixa de se sentir “mal-amado”, e mostra para a criança leitora que é possível ser aceito, mesmo quando é diferente, a partir do momento em que se perde a vergonha de ir atrás daquilo que é desejado. O segredo é aceitar a si próprio, e saber que é diferente dos outros, mas que pode viver sendo feliz da mesma forma que eles.


Fonte: http://blogs.jovempan.uol.com.br
O livro incentiva, ainda, a adoção de animais mostrando à criança que ter um animalzinho de estimação pode trazer ainda mais alegria para ela e também para o bicho; “Lobisbebê tinha encontrado o país da imaginação maravilhosa, porque agora ele vive junto de uma criança como você!”  





A história de Herrero e Bandeira possui um misto entre fábula e parábola, pois, apesar de não falarem, há personagens animais, uma vez que o narrador atribui características humanas aos lobisomens da narrativa, ao contar que “Ele é casado com a Lobismulher e já tem uma Lobismenina” (p.09), “A Dona Lobismulher estava de barriga grande e vivia fazendo tricô para o novo bebê que ia nascer” (p.10), “como era muito esperto, conseguiu sair do berço e foi engatinhando para o jardim” (p.15). Há também personagens humanas, as crianças. O Lobisbebê e a garotinha são os protagonistas e a partir da narração dos autores se tornam personagens com uma densidade psicológica acessível às crianças, sendo que a linguagem utilizada é simplificada para que haja uma maior inteligibilidade do público infantil para o qual a obra é voltada.

A obra possui princípio (a apresentação da família do lobisomem e do mundo horroroso) meio (a descoberta de um novo mundo pelo integrante dessa família, o Lobisbebê, e o conflito causado através da entrada do personagem no mundo maravilhoso), e fim (o encontro do Lobisbebê com a garotinha triste e a reconciliação entre as crianças e o lobinho, e, assim, a sua permanência no mundo desejado por ele).

Há no texto dois espaços físicos em que ocorrem os acontecimentos, o mundo da imaginação horrorosa, local habitado pelos lobisomens, e o mundo da imaginação maravilhosa, habitada pelas crianças que são assustadas por esses lobisomens do outro mundo (literalmente). A história é decorrida em um breve espaço de tempo, poderia se dizer que um ou dois dias, que foi o suficiente para todo o desenrolar da narrativa. O narrador é heterodiegético, pois há uma entidade exterior à história, isto é, há um narrador que possui somente a função de contar os acontecimentos.

O texto possui uma tentativa de redução da assimetria, pois o narrador tenta se aproximar da criança leitora através de uma escrita simplificada e também por se dirigir dialogicamente a ele, o que pode ser verificado no uso dos pronomes utilizados, por exemplo: “Como todo mundo, o Lobisomem tem uma família. Mas não é uma família como a sua” (p.08), “Você já adivinhou que os tais bichos eram cachorros, não é?” (p.24), e ainda, “Lobisbebê tinha encontrado o país da imaginação maravilhosa! Porque agora ele vive junto de uma criança como você!” (p.46). A redução da assimetria, no entanto, teria um resultado mais satisfatório se os narradores da história fossem a garotinha ou o Lobisbebê, cada qual contado a partir de seu ponto de vista, pois não haveria a preocupação da parte deles de passar à criança lição alguma, a redução seria mantida na medida em que o autor deixa de ser um adulto falando para uma criança e passaria a ser uma criança falando para outra.

Referências:
 
BANDEIRA, Pedro; HERRERO, Carlos Edgard. O pequeno lobisomem. São Paulo: Moderna, 2009.

http://www.acidadevotuporanga.com.br - Acessado em 19 de Novembro de 2012 às 20h30

http://www.overmundo.com.br - Acessado em 19 de novembro de 2012 às 20h40

http://blogs.jovempan.uol.com.br - Acessado em 19 de novembro de 2012 às 20h45

http://www.modernaliteratura.com.br - Acessado em 19 de novembro de 2012 às 20h50

GT3: Literatura e ideologia


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