Fonte http://www.modernaliteratura.com.br |
O livro de Pedro
Bandeira e Carlos Edgard Herrero, intitulado “O pequeno lobisomem” conta
uma história muito interessante e curiosa, que nos leva
a refletir sobre o sentimento que a criança possui ao perceber que é diferente,
de algum modo, das outras crianças (e adultos). Analisando o texto é possível
afirmar que ele possui um cunho pedagógico, pois tem a intenção de ensinar a
seus leitores que mesmo se “você” for diferente daquilo que esperam que seja,
encontrará alguém que estará disposto a estar junto de “você”, e,
principalmente, alguém que precisa da sua companhia, tanto quanto “você”
precisaria da companhia desse alguém.
A narrativa por sua
vez conta a seguinte história:
Existe
uma família de lobos (“no país da imaginação horrorosa só para assustar as
crianças”) que viviam em uma floresta escura e medonha uivavam de forma
medonha. Até que nasce um novo “Lobisbebê” que não tinha a carinha “tão
feia e peluda como devia ser (...) e gostava de tomar leite na mamadeira, e não
suco de pimenta bem ardida como todos os Lobisbebês”. Certo dia ele sai de
casa, sem seus irmãos e sem seus pais, o “Lobisomem” e a “Lobismulher”, e se
depara com um mundo muito diferente daquele que conhecia, com jardins muito
floridos, um sol radiante, pássaros e crianças felizes brincando com
cachorrinhos e ele percebeu que não queria ser como sua família que vivia para
aterrorizar as crianças, mas que queria brincar com elas. Decidiu assim ir até
eles, mas todos saíram correndo com muito medo e ele ficou por ali, sozinho,
muito triste, até que viu uma menininha triste como ele e chorando por falta de
seu cachorrinho que a tinha deixado. O “Lobisbebê” se aproxima com medo de que
ela fosse fugir dele também, mas a garotinha o recebe com a maior alegria do
mundo e eles acabam por se completar. Ele passa a habitar o país da imaginação
maravilhosa e torna-se seu animalzinho de estimação, e ela volta a ser muito
feliz por ter um novo bicho que gostava dela e estava ao seu lado.
A obra possui também a intenção de mostrar à criança que se pode ser diferente daquilo que ela acredita ser o modelo “ideal” para a sociedade, por exemplo; as crianças que se sentem excluídas por alguma deficiência, ou por serem alvos de bullying, podem ser incentivadas com esse livro com a ideia de que também podem superar suas dificuldades a partir do momento em que enfrentar os obstáculos encontrados. Na história, o “Lobisbebê” ao perceber que não irá viver de uma forma que o agrada (assustando as crianças, uivando para a lua para amedrontar a todos, em uma casa caindo aos pedaços e em uma floresta muito escura e medonha) tem a curiosidade de ir até um lugar onde até então não podia ir.
Ao ver o outro lado
do mundo da imaginação horrorosa, ele percebe que não quer viver como sua
família e enfrenta com sucesso a apreensão de ser reprimido por seus pais, por
ter encontrado alguém tão aflito quanto ele: a garotinha que o “adota” para que
ele possa viver no mundo da imaginação maravilhosa.
Fonte: www.acidadevotuporanga.com.br |
O personagem
“Lobisbebê” ao se deparar com as crianças se sente excluído, rejeitado,
diferente, pois todas as crianças e animais saem correndo apavorados de medo,
esse momento do texto pode fazer com que a criança que já sofreu algum tipo de
bullying se identifique, quando esteve perto de outras crianças que a
rejeitaram, a olharam de modo diferente, ou que a excluíram de alguma
brincadeira.
No final do
texto quando finalmente o personagem consegue se integrar ao mundo com que
sempre sonhou e enfim fazer amizades e brincar com todos, ele deixa de se
sentir “mal-amado”, e mostra para a criança leitora que é possível ser aceito,
mesmo quando é diferente, a partir do momento em que se perde a vergonha de ir
atrás daquilo que é desejado. O segredo é aceitar a si próprio, e saber que é
diferente dos outros, mas que pode viver sendo feliz da mesma forma que eles.
Fonte: http://blogs.jovempan.uol.com.br |
O livro incentiva,
ainda, a adoção de animais mostrando à criança que ter um animalzinho de
estimação pode trazer ainda mais alegria para ela e também para o bicho;
“Lobisbebê tinha encontrado o país da imaginação maravilhosa, porque agora ele
vive junto de uma criança como você!”
A história de Herrero e Bandeira possui um misto entre fábula e parábola, pois, apesar de não falarem, há personagens animais, uma vez que o narrador atribui características humanas aos lobisomens da narrativa, ao contar que “Ele é casado com a Lobismulher e já tem uma Lobismenina” (p.09), “A Dona Lobismulher estava de barriga grande e vivia fazendo tricô para o novo bebê que ia nascer” (p.10), “como era muito esperto, conseguiu sair do berço e foi engatinhando para o jardim” (p.15). Há também personagens humanas, as crianças. O Lobisbebê e a garotinha são os protagonistas e a partir da narração dos autores se tornam personagens com uma densidade psicológica acessível às crianças, sendo que a linguagem utilizada é simplificada para que haja uma maior inteligibilidade do público infantil para o qual a obra é voltada.
A obra possui princípio (a
apresentação da família do lobisomem e do mundo horroroso) meio (a
descoberta de um novo mundo pelo integrante dessa família, o Lobisbebê, e o
conflito causado através da entrada do personagem no mundo maravilhoso), e fim (o
encontro do Lobisbebê com a garotinha triste e a reconciliação entre as
crianças e o lobinho, e, assim, a sua permanência no mundo desejado por ele).
Há no texto dois
espaços físicos em que ocorrem os acontecimentos, o mundo da imaginação
horrorosa, local habitado pelos lobisomens, e o mundo da imaginação
maravilhosa, habitada pelas crianças que são assustadas por esses lobisomens do
outro mundo (literalmente). A história é decorrida em um breve espaço de tempo,
poderia se dizer que um ou dois dias, que foi o suficiente para todo o
desenrolar da narrativa. O narrador é heterodiegético, pois há uma entidade
exterior à história, isto é, há um narrador que possui somente a função de
contar os acontecimentos.
O texto possui uma
tentativa de redução da assimetria, pois o narrador tenta se aproximar da
criança leitora através de uma escrita simplificada e também por se dirigir dialogicamente a ele, o que pode ser verificado
no uso dos pronomes utilizados, por exemplo: “Como todo mundo, o Lobisomem tem uma
família. Mas não é uma família como a sua” (p.08), “Você já
adivinhou que os tais bichos eram cachorros, não é?” (p.24), e ainda,
“Lobisbebê tinha encontrado o país da imaginação maravilhosa! Porque agora ele
vive junto de uma criança como você!” (p.46). A redução da
assimetria, no entanto, teria um resultado mais satisfatório se os narradores
da história fossem a garotinha ou o Lobisbebê, cada qual contado a partir de seu
ponto de vista, pois não haveria a preocupação da parte deles de passar à
criança lição alguma, a redução seria mantida na medida em que o autor deixa de
ser um adulto falando para uma criança e passaria a ser uma criança falando para
outra.
Referências:
BANDEIRA, Pedro;
HERRERO, Carlos Edgard. O pequeno lobisomem. São Paulo: Moderna,
2009.
http://www.acidadevotuporanga.com.br - Acessado em 19
de Novembro de 2012 às 20h30
http://www.overmundo.com.br - Acessado em 19 de novembro de 2012 às 20h40
http://blogs.jovempan.uol.com.br - Acessado em 19 de novembro de 2012 às 20h45
http://www.modernaliteratura.com.br - Acessado em 19 de novembro de 2012 às 20h50
GT3: Literatura e ideologia
Nenhum comentário:
Postar um comentário