HISTÓRIA MEIO AO CONTRÁRIO
Esta ruptura se expande cada vê mais ao passo que fazemos a leitura da história. Logo na primeira linha encontramos a frase “e viveram felizes para sempre”, normalmente encontrada no fim das narrativas.
Esta é a História meio ao contrário de Ana Maria Machado. Inovadora, contestadora, procurando a cada página abrir os olhos de seus leitores mirins para a realidade de um Brasil que vivia um sistema político ditatório, portanto, autoritário e fechado a liberdade de expressão. Devemos lembrar que essas crianças seriam futuros cidadãos brasileiros. Além disso, o livro circularia em suas casas, onde os pais também poderiam lê-los, passando, dessa forma, de mão em mão uma ideologia mais libertária “estimulando a busca de uma existência independente, do ponto de vista pessoal, e o desagrado perante o sistema político autoritário e distanciado da população” (ZILBERMAN, 2004, p.54).
Embora Ana Maria Machado tenha escolhido um cenário muito próximo dos contos de fadas, um ambiente feudal com direito a rei, princesas, dragões e outros personagens comuns a literatura infantil dos séculos XVIII e XIX, ela rompe com a forma e o conteúdo escolhidos por autores como Perrault e os irmãos Grimm.
O narrador, normalmente neutro nos contos infantis, aqui aparece intruso; conversa com seu leitor – “Eles explicaram. Eu não vou explicar aqui tudo de novo, porque todos nós já sabemos” (p. 28) – tornando a leitura e o narrador mais próximos do interlocutor.
Mas as maiores marcas de mobilização em busca de um futuro melhor estão na personalidade dos personagens.
O rei, autoridade máxima do reino, é alienado, ignorante e desconhecedor das necessidades do seu povo, da mesma forma que os políticos ditadores brasileiros.
Contra os desmandos que iriam prejudicar as suas vidas, os súditos, povo trabalhador, se une, procura o sábio gigante e consegue, por meio de sua inteligência e união, enfrentar o rei e fazê-lo desistir de uma atitude tão errada e injusta.
Neste círculo se encontra a camponesa, mulher guerreira e inteligente, que mesmo sendo uma pessoa simples consegue conquistar o príncipe prometido à princesa. Esta, por sua vez, invés de casar com o seu prometido, prefere enfrentar o pai e viajar pelo mundo, vivenciando experiências não possíveis naquele lugar.
Como nos lembra Zilberman, a contestação está presente em vários pontos da história: “ao denunciar o alheamento dos responsáveis do poder, que ignoram o que se passa fora do castelo, seja o ritmo da natureza, seja as necessidades da população; e ao sugerir às pessoas, mesmo muito jovens, como os leitores de História Meio ao Contrário, seguirem o que manda o coração ou a inteligência, não, porém, obrigações ou mandados de fora” (2004, p. 53-54).
Esta é a literatura infantil brasileira pós anos 70 que busca levar seus leitores à reflexão e a luta por seus direitos, unindo duas funções da literatura: a estética e a instrumental/utilitária.
REFERÊNCIAS
ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004, p. 52-55.
PONDÉ, Glória. A arte de fazer artes: como escrever histórias para crianças e adolescentes. Rio de Janeiro: Nórdica, 1985, p. 91-116.
Grupo 6: Autores Consagrados da Literatura Infanto-Juvenil
Boa postagem. Apresenta resenha crítica da lavra do próprio grupo de trabalho, embora pudesse aproveitar melhor a análise e discussão feitas em classe. (Marciano Lopes)
ResponderExcluirbom este resumo
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