domingo, 4 de setembro de 2011

Monteiro Lobato II - Emília no país da gramática




“Emília no país da gramática”, obra escrita por Monteiro Lobato, é leitura obrigatória - mesmo classificada como infanto-juvenil - para quem estuda e trabalha com ensino da língua portuguesa, pois discute um assunto atual e polêmico: Língua x Fala, ou seja, Português da Gramática Normativa x Português Falado.
  
— As pessoas cultas aprendem com professores e, como aprendem, repetem certo as palavras. Mas os incultos aprendem o pouco que sabem com outros incultos, e só aprendem mais ou menos, de modo que não só repetem os erros aprendidos como perpetram erros novos, que por sua vez passam a ser repetidos adiante. Por fim há tanta gente a cometer o mesmo erro que o erro vira Uso e, portanto, deixa de ser erro. O que nós hoje chamamos certo, já foi erro em outros tempos. (p. 72)
— A língua é uma criação popular na qual ninguém manda. Quem a orienta é o uso e só ele. E o uso irá dando cabo de todos esses acentos inúteis. Note que os jornais já os mandaram às favas, e muitos escritores continuam a escrever sem acentos, isto é, só usam os antigos e só nos casos em que a clareza os exige. (p. 135)
Há certos gramáticos que querem fazer a língua parar num certo ponto, e acham que é erro dizermos de modo diferente do que diziam os clássicos.

– Que vem a ser clássicos? – perguntou a menina.


Os entendidos chamam clássicos aos escritores antigos, como o Padre Antônio Vieira, Frei Luis de Souza, o Padre Manuel Bernardes e outros. Para os carranças, quem não escreve como eles está errado. Mas isso é curteza de vistas. Esses homens foram bons escritores no seu tempo. Se aparecessem agora seriam os primeiros a mudar ou adotar a língua de hoje, para serem entendidos. (p. 90)

Nesse livro, o leitor desfrutará de um interessante enredo, no qual Emília e seus amigos são levados por um rinoceronte e excelente gramático - chamado Quindim - ao país da gramática: um lugar fantástico, o mundo das línguas e suas respectivas gramáticas.
Quindim é uma espécie de guia turístico do grupo responsável por apresentar toda a cidade, seus bairros, seus habitantes e suas respectivas “etnias”, cujas representações são metáforas para: idioma Português, classes das palavras (nomes, verbos, artigos etc), suas divisões (nomes próprios, nomes abstratos etc) e suas etnias (plural, gênero, etc). Esse personagem explica o significado de cada um desses componentes e suas funções no sistema lingüístico.

Grande número de palavras moviam-se com muita ordem, andando de cá para lá e de lá para cá, exatinho como gente numa cidade comum.
— Que bairro será esse? — perguntou Narizinho.
— Um muito importante — o bairro dos NOMES, ou SUBSTANTIVOS.
[...] — Uns não tiram a mão do bolso e só falam de chapéu na cabeça. Outros parecem modestos. Quem são esses prosas, de mão no bolso?
— São os Nomes PRÓPRIOS, que servem para designar as pessoas, os países, as cidades, as montanhas, os rios, os continentes, etc. (p. 20)
  
Monteiro Lobato de forma genial, durante a narrativa, revela que o poder econômico também influencia a cultura (língua, costumes e comportamentos).

O Nome Europa era o mais empavesado de todos: louro, e dum orgulho infinito. Passou rente ao Nome América e torceu o nariz. Também o Nome Alemanha era emproadíssimo, embora andasse com uma cruz de ponto falso no nariz. (p. 22)

Aborda assuntos históricos e de extrema importância, como a evolução do latim que gerou outras línguas.

— Então a língua portuguesa não passa dum dialeto do latim?
— Perfeitamente. E também a língua francesa, a espanhola e a italiana não passam de outros tantos dialetos do mesmo latim. No começo, esses dialetos eram muito pobres em palavras e modos de dizer. Com o tempo, entretanto, as palavras foram aumentando enormemente e também foram aparecendo novos jeitos de combinar entre si as palavras. E desse modo essas línguas enriqueceram-se. (p. 74) 

Usa de analogias e metáforas para explicar ao leitor certos conceitos da língua, de maneira que a leitura se torna interessante, divertida e didática:

Há os Nomes Simples, como a maior parte dos que circulam por aqui, e há os Nomes Compostos, como aqueles que ali vão. Estes Nomes Compostos formam-se de dois Nomes Simples, encangados que nem bois. Ia passando o Nome Guarda-Chuva, de braço dado com o Nome Couve-Flor. (p. 23)
 
— Que barulhada! — exclamou Emília, ao aproximar-se da Casa das INTERJEIÇÕES. — Será algum viveiro de papagaios?
— São elas. Aquilo lá dentro parece um hospício, porque as Interjeições não passam de gritinhos. (p. 63) 

E coloca em discussão, numa visão objetiva e crítica, certas regras e classificações da língua.

— Os Nomes Concretos são os que marcam coisas ou criaturas que existem mesmo de verdade, como Homem, Nastácia, Tatu, Cebola. E os Nomes Abstratos são os que marcam coisas que a gente quer que existam, ou imagina que existem, como Bondade, Lealdade, Justiça, Amor.
— E também Dinheiro — sugeriu Emília.
— Dinheiro é Concreto, porque dinheiro existe — contestou Quindim.
— Para mim e para Tia Nastácia é abstratíssimo. Ouço falar em Dinheiro, como ouço falar em Justiça, Lealdade, Amor; mas ver, pegar, cheirar e botar no bolso dinheiro, isso nunca. (p.42)

Todas as citações foram retiradas do livro em questão. Esses trechos são alguns exemplos de como o livro tem assuntos abundantes e pertinentes para o entendimento da língua portuguesa, cuja intenção não é apenas instruir, mas também colaborar no discernimento, de maneira lúdica, dos vários conceitos de nosso idioma.
São expostos outros assuntos, além dos apresentados, como os vícios de linguagem, arcaísmos, sintaxe, advérbios, palavras obscenas entre outros.
Assim, podemos encontrar em Lobato um auxiliar no ensino do português, que muitas vezes é entediante, pois o autor não somente foca o uso e a gramática, como também a forma de aprendizagem. Tal é a importância didática dessa obra, que a Editora Globo elaborou uma versão com nomenclaturas e vocábulos atualizados.



Download da obra Emília no País da Gramática disponível em:


REFERÊNCIAS
 
PEREIRA, Luiz Costa Jr. A gramática de Emília. Revista Língua Portuguesa, São Paulo: Segmento disponível em: http://migre.me/5Xhff.

SOUZA, Rita Rodrigues de. Emília no país da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. REVELLI – Revista de Educação, Linguagem e Literatura da UEG-Inhumas. Disponível em: http://migre.me/5XhfM.

 
Grupo 6: Autores Consagrados da Literatura Infanto-Juvenil

Um comentário:

  1. Boa postagem, porém é preciso arrumar as fontes, usar a mesma para todo o texto ou uma para o texto principal e outra menor para as citações. Ainda: a fonte das referências e links está muito pequena é preciso aumentá-la. [Marciano Lopes]

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