Série Catalendas
Com o intuito de apresentar ao público a literatura
infantil focada no tema meio ambiente, é proposta aqui a exibição e breve
análise do episódio “O Curupira” pertencente à série Catalendas, um programa elaborado pela TV Brasil Pará em associação
à TV Cultura, que apresenta ao público infantil lendas regionais, contos
populares e fábulas que o povo brasileiro conta e reconta por gerações; além de
ser uma amostra de como a literatura popular, folclórica e oral possui papel
importantíssimo nas sociedades desde seus primórdios.
O episódio inicia-se com a apresentação dos
personagens principais da série, Dona Preguiça (um bicho-preguiça) e Preguinho
um macaco-prego que sempre quando tem oportunidade vai até a janela da casa de
Dona Preguiça, conversar sobre algum acontecimento interessante vivido por ele
e, assim, surge à oportunidade dela lhe contar sobre seus “causos”
maravilhosos. Neste vídeo em especial, a Preguiça lhe conta como um caçador
muito atrevido consegue, com a ajuda de um Pajé poderoso, se safar das
traquinagens do Curupira, personagem das lendas indígenas anteriores a vinda
dos colonizadores, que habita as matas fechadas do país e as protege contra
todos aqueles que tentam prejudicar os animais e a vegetação.
A Trama
A estória retratada no vídeo “O Curupira” carrega
consigo o tema nocional de preservação ambiental, que possui como ser
emblemático este personagem fantástico, que funciona como personificação da mãe
natureza para agir em sua própria defesa. Por ser uma criatura encantada detém
forças desconhecidas dos homens, e, como demonstração de seus feitiços faz com
que o caçador tenha tonturas, desmaie, e quando o mesmo acorda sai perambulando
atordoado e perdido dentro da floresta, com isso, percebe-se que a intenção do Curupira
é punir o homem com uma espécie de castigo e não com uma sentença mortal, já
com o intuito que o protagonista aprenda com seus erros, assim tem-se a “moral
da história”, o que, de certa forma, transforma a lenda em fábula.
A trama ganha vida nesta contraposição natureza
versus homem, sugerido com o confronto entre Curupira e Caçador; para uma
reflexão sobre questões da atualidade como a caça predatória clandestina, a
exploração vegetal exemplificada com o desmatamento para formação de pastos em
fazendas sem controle ambiental, exploração de madeira nobre, diminuição de
matas ciliares, uso excessivo de materiais de difícil decomposição, a
utilização de diversos produtos químicos nocivos que tornam a vida humana mais
cômoda, mas que quando lançados na natureza causa efeitos catastróficos e
desconhecidos do homem, assim como os feitiços do Curupira a natureza revida
aos danos da qual é vítima.
No caso da personagem Caçador, inimiga do Curupira,
vê-se naquele um ser sem consciência que retira da mata mais do que precisa e
não raciocina sobre seu ato predatório, claramente simbolizado é o ser humano
explorador que mais tarde aprenderá que sua não reflexão acarreta consequências
desastrosas. Para se esquivar dos encantos do Curupira o Caçador conta com a
ajuda do Pajé de uma aldeia indígena, personagem elevado, detentor de poderes
de cura e restaurador da ordem, este detém o conhecimento de como desfazer os
encantos do Curupira, logo ele benze o protagonista e o libera do feitiço,
associando assim a imagem do índio a um elo de respeito e sabedoria entre o
homem e a natureza, o real e o imaginário.
Para que o telespectador seja inserido na estória, o
vídeo conta com os diálogos entre a D. Preguiça e Preguinho, personagens que
com o recurso de animismo ganham vida para tratar com linguagem simples e
informal, de fatos que são de contexto humano; nota-se que ambos os animais são
visados na situação real de mundo pelos caçadores e colecionadores, mas
protegidos por leis do “IBAMA” órgão responsável pela proteção da flora e fauna
brasileira, destarte, a criança ou qualquer telespectador fará ponte de
sentidos entres os personagens e as questões ambientais.
Com relação ainda a D. Preguiça, ela funciona na
estória como símbolo do ser humano adulto, detentora do conhecimento de mundo
que abarca a literatura popular oral e que no contexto do vídeo firma-se como
contadora de estórias, sua linguagem é coloquial proporcionando simetria entre
público (infantil) e o assunto tratado. Para acompanhá-la e reforçar a idéia de
simetria aparece o Preguinho, um personagem com traços cômicos que simboliza o
público ouvinte, particularmente à criança, que por meio dos exemplos
apresentados nas estórias, neste caso o Curupira, aprende a lidar com situações
cotidianas.
A fim de que toda a trama adquira forma, os contos
populares possuem de acordo com Karin Volobuef (1993), uma situação
introdutória como o momento que o homem vai à mata para caçar e é observado
pelo Curupira, ele logo percebe que aquele excede na caça, o que demonstra a
insistência do Caçador na quebra dos valores de preservação, este então é um
problema que resultará na punição do Caçador que será aplicada pela própria
natureza exigindo a conscientização do homem, mas a partir do momento em que o
caçador se conscientiza do mal que inflige aos animais consegue ultrapassar
suas provas, ocasionando a aparição da figura do Pajé que desfaz o feitiço e
proclama ao caçador a moral da história encerrando com um final feliz.
Contudo nota-se que o vídeo trata de uma estória que
é passada oralmente às pessoas, não há um autor específico e conseguintemente
um livro publicado, sua materialização escrita é da história recente, portanto
para o autor Azevedo (2001) existem características que formalizam esses contos,
a exemplo do Curupira, como literatura cultural e popular, que possui como
marca a oralidade, logo, é ferramenta primordial às culturas sem escrita,
adapta-se para a plateia por meio do vocabulário familiar e cotidiano ao utilizar
fórmulas verbais, lugares comuns e clichês, trabalhar com recursos teatrais de
tom exagerado, empregar redundâncias, tom de confidências, ditados,
trocadilhos, aliterações, rimas e refrões, mas evitando períodos longos,
conceitos e imagens abstratas, orações subordinadas, a voz passiva e todo o
contexto apresentado em cenário teatral, pois, os personagens são representados
por bonecos animados, acrescentando mais um conhecimento e acesso à criança que
nunca teve contato com tal diversão, ou seja, o teatro de fantoches.
Conclusão
Por todo o contexto apresentado envolvendo a lenda
Curupira, percebe-se como é marcante a cultura popular ou ciência do povo em
nossa sociedade, seu colorido, traços cômicos; intervenções instrutivas e linguagens
simples que trabalham em favor da absorção de conhecimentos de valoração
universal. Um deles é o respeito à natureza e preservação dos mais variados
seres.
Uni-se a estes o respeito á criança, personagem que
em construção adquire desde cedo conceitos e conhecimentos. Desta forma, o
vídeo Catalendas, A Lenda do Curupira, trata de forma criativa a abordagem do
tema meio ambiente, ecologia; com base não só no caráter utilitário instrutivo,
mas também levando em conta o despertar imaginário da criança.
Referências:
AZEVEDO, Ricardo. Elos entre a cultura popular e
literatura, 2001.
Disponível
em: http://www.ricardoazevedo.com.br/artigos/
acesso 14/09/2013.
BOLOBUEF, Karin. Um estudo do conto
de fadas. Revista de letras. São
Paulo: UNESP, v. 33, p. 99-114, 1993.
A
lenda do Curupira – disponível em:: https://www.youtube.com/watch?v=tdA6-J45D2c.
Acesso em 14/9/2013.
TV
CULTURA: http://www.portalcultura.com.br/node/26
acesso em: 14/09/2013.
Acesse o vídeo em: https://www.youtube.com/watch?v=tdA6-J45D2c
Dona Preguiça |
GT 4
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