Para
entender a história...
De vez em quando havia um grupo de amigos que jogava
futebol com uma bola improvisada de meia, pois não tinham condições de adquirir
uma bola de couro igual a de Caloca. Porém, Carlos Alberto não cedia a
bola, a não ser quando ele estivesse participando da brincadeira, e exigia que
fosse da sua maneira. Até que, depois de muita confusão, devido suas
chantagens e exigências, ele teve que sair da equipoe. E mesmo procurando outros
times para se inserir, a busca foi inválida, pois ninguém o aceitava por não
ter um espírito esportivo. Depois de muitas rejeições, e isolamento Carlos
Alberto voltou a procurar o time da sua rua, e teve que se redimir e aceitar as
exigências do grupo, que exigiu que a bola fosse doada para eles:
ele não poderia levá-la embora. Não tendo opção, Caloca aceitou. Iniciaram os
treinos para o campeonato, e venceram. Assim, Caloca permaneceu no time da rua.
Algumas Reflexões...
O texto "O dono da bola", publicada em 1967 livro Marcelo, marmelo, martelo e outras histórias, de Ruth Rocha,em uma perspectiva crítica, busca
em seu contexto relatar as questões sociais e políticas da época em que foi
escrito, e a diferença entre a classe média e baixa, despertando o leitor para refletir
sobre o que se passa na sociedade, como se percebe no decorrer da narração, e quando
a autora detalha as características requintadas dos brinquedos de Caloca.
“Caloca morava na casa mais bonita da nossa
rua. Os brinquedos que Caloca
tinha, vocês não podem imaginar! Até um trem elétrico
ele ganhou do avô. E tinha bicicleta, com farol e buzina, e tinha tenda de índio, carrinhos de todos os tamanhos e uma bola de futebol, de verdade.”
Ruth deixa claro que o menino possuía
mais recursos financeiros em comparação aos demais do bairro, possuía os
melhores brinquedos, tinha uma linda bola de couro. Para deixar mais clara essa
perspectiva social, a narrativa, no sexto parágrafo, acentua essa desigualdade
entre os personagem que morava na mesma rua. Os supostos amigos estão à mercê
das chantagens de Caloca, por não terem condições financeiras de adquirir uma
bola de verdade, de couro, e só possuírem uma pequena bola de meia.
“O nosso time estava cheio de amigos. O que
nós não tínhamos era bola de futebol.
Só bola de meia, mas não é a mesma coisa.”... “Bom mesmo é bola de couro, como a do Caloca.”
Conforme Heck (2010), “A autora utiliza
em suas obras uma retórica de cunho crítico, no qual esses frutos se constituem
de um protesto contra as injustiças sociais resultantes do sistema político, da
época”. Ainda de acordo com Heck, as diferenças sociopolíticas
que nossa sociedade enfrenta são temas eminentes em suas obras, como se percebe de
uma forma mais delicada, quando a autora coloca o personagem Caloca de classe
média, sendo o dono da bola de couro, e os colegas de classe baixa, possuindo a
bola de meia. E continua ainda mais, quando deixa claro que o personagem Caloca
é quem decide, dita regras, e faz com que os demais garotos se sujeitam as suas
vontades, opiniões, por perceberem que não podem competir com igualdade.
“Carlos Alberto pulou, vermelhinho de raiva: – A bola é minha, eu carrego quantas vezes eu
quiser!”
Por fim, a autora coloca nos últimos
parágrafos da história, que seria bem mais positivo, se o rei começasse a
reinar com igualdade de pensamento, com sutileza e democracia, desse modo ela
coloca o personagem Caloca se redimindo de sua postura dominante, e se
transformando em um personagem mais humilde.
“No domingo, ele convidou o Xereta para
brincar com o trem elétrico. Na
segunda, levou o Beto para ver os peixes na casa dele. Na terça, me chamou para
brincar de índio. E, na quarta,
mais ou menos no meio do treino, lá veio ele com a bola debaixo do
braço. – Oi, turma, que tal jogar com
uma bola de verdade?”... “Mas eu quero dar a bola ao time. De verdade!”
A autora, como narradora da história,
solicita, no final do texto, a interferência do leitor, lhe sugerindo que faça
de conta que Caloca tinha um diário e, por conseguinte, escreva o
diário de Caloca, e contando como ele se sentia desde quando ganhou a bola até
quando deu ao time, chegando para problemática de quais seriam as reais ideias
que levaram o personagem Caloca ser daquela forma, egoísta.
Dessa forma, ela leva o leitor a outro lado da história, uma reflexão de meio social e mundo interior, da mesma maneira em que recria no universo infantil a problemática social, tão conturbada naquele período histórico, abordando até mesmo questões étnicas, sobre a pluralidade de raças, por meio das ilustrações.
Embora a autora, em uma de suas entrevistas tenha deixado claro que distingue as coisas de crianças e as coisas
de adultos, e que problema de adulto não é problema de adulto, na mesma
entrevista ela diz escrever aquilo que sente, dessa forma, seria impossível não
transmitir para sua escrita a realidade em que vive. Assim, mesmo que
involuntariamente, ao recriar os problemas sociais em suas obras infantis e
juvenis, ela proporciona ao leitor reflexões críticas acerca da meio social em
que está inserido, ao mesmo tempo em que, ao fazer a criança de identificar com
a narrativa, no sentido das “dificuldades de crianças” – que seriam as disputas
por jogos, desejos por determinados brinquedos, conflitos de amizade, etc. - a
autora auxilia seu leitor a lidar com essas dificuldades, observando os
acontecimentos por perspectivas diferentes – no caso, as perspectivas da
narrativa, do personagem (por meio do diário) e do próprio leitor. Assim, ressaltamos a afirmação de
Cadermatori (1994):
“[...] a literatura infantil se configura não
só como instrumento de formação conceitual, mas também de emancipação da
manipulação da sociedade. Se a dependência infantil e a ausência de um padrão
inato de comportamento são questões que se interpenetram, configurando a
posição da criança na relação com o adulto, a literatura surge como um meio de
superação da dependência e da carência por possibilitar a reformulação de
conceitos e a autonomia do pensamento.”
Sugerimos a leitura da história na íntegra,
clicando aqui.
Se preferir, pode-se assistir ao vídeo
narrando a história.
BIBLIOGRAFIA
HECK,
Diana Milena; Nath-Braga, Margarete A. (Orientadora); Ruth Rocha: Um viés crítico de escritura - artigo
publicado 08/10/2010- Cascavel-Pr, UNIOESTE. Disponível em:
CADEMARTORI,
L. O que é literatura infantil? 6.ed.
São Paulo : Brasiliense, 1994. IN BASSO; C.M. a literatura infantil nos
primeiros anos escolares e a pedagogia de projetos. Disponível em: http://coral.ufsm.br/lec/02_01/CintiaLC6.htm
ROCHA,
Ruth. Marcelo, marmelo, martelo e outras
histórias. São Paulo: LIS Gráfica e Editora LTDA, 1976.
GT 6
o que voce entendeu por:espirito esportivo? me ajudem?
ResponderExcluirConceitue intertextualidade e de exemplos
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