domingo, 25 de agosto de 2013

A verdade e a mentira na obra "Alvinho, a apresentadora de tv e o campeão", de Ruth Rocha

Para resumir a história...

O livro Alvinho, a apresentadora de tv e o campeão”, de Ruth Rocha, lançado em 1995, narra a história de um menino, chamado Alvinho, que conta muita mentiras. Na história, o personagem mente o tempo todo para sua mãe Dona Branca, para o pai, senhor Brigagão e para a professora, Dona Brites. Toda vez que ele se mete em apuros, inventa uma mentirinha. Num belo dia, Alvinho ficou vendo o campeonato de botão na escola e esqueceu-se da hora do almoço. Ao chegar em casa, sua mãe já estava zangada, então ele inventou que um furacão havia passado pela escola, dona Branca, que não era boba, começou a interrogá-lo. Para piorar, ele completou que o furacão era um bandido que gostava de furar e maltratar cachorros, por isso recebeu este nome. A mentira não colou e dona Branca ficou decepcionada mais uma vez com Alvinho.
No dia seguinte, ele chegou atrasado a escola, pois ficou vendo tv e perdeu a hora da aula. Como de costume inventou mais uma mentira para se safar, disse à professora que uma pedra enormíssima que estava no meio do caminho não o deixou passar. Dona Brites não acreditou, então Alvinho disse que era um bicho, de nada adiantou, mais uma vez passou por mentiroso.  Na saída da escola, enquanto esperava pelo ônibus passou um carro que abriu a janela e jogou um pacote. Curioso, Alvinho pegou o pacote, o abriu e percebeu que ele continha uma quantia em dinheiro. 
Mais do que depressa correu atrás do carro e devolveu o dinheiro. Para sua surpresa, quem estava dentro do carro era uma linda apresentadora de tv e o campeão mundial. Em agradecimento, os dois levaram Alvinho para conhecer Interlagos e depois lanchar. Em seguida deixaram-no em casa e prometeram voltar outro dia. Ao entrar em casa o menino levou uma bronca, pois mais uma vez chegou atrasado, além disso, a família estava desesperada com seu sumiço.
A esta altura da narrativa algo inesperado acontece, Ruth Rocha entra em cena e decide optar por dois finais para a história, no primeiro final Alvinho continua mentindo para seus pais.

Puxa vida, pai, eu esqueci da hora, fiquei assistindo à final do campeonato de pingue-pongue...

No segundo final ele relata a verdade para os pais sobre o pacote de dinheiro e o passeio com a apresentadora de tv e o campeão mundial, mas eles não acreditam em Alvinho, como penalidade seu Brigagão e Dona Branca colocam-no de castigo.
 
O pai resolveu:
-  Um mês sem videogame.
A mãe completou:
- Um mês sem refrigerante!
Geralda muito xereta, também palpitou:
- Um mês sem batata frita...
O pai continuou:
- Um mês sem televisão!
- A mãe completou:
- Um mês sem jogar jogo de botão.

De repente a campainha toca e aparece a apresentadora de tv e o campeão mundial com vários presentes, todos ficam boquiabertos, pois Alvinho estava dizendo a verdade.
 Este final diferencia-se um pouco das obras infantis tradicionais, pois não apresenta um final pronto. O narrador, após descrever a cena dos pais de Alvinho bravos e preocupados, entra em cena nas páginas finais e conversa com o leitor propondo finais diversificados para história, ou melhor, é o leitor que decide o melhor final para enredo. Assim, Ruth Rocha, ao escrever esta história, proporciona tanto aos pais quanto aos professores trabalharem uma das regras de conduta social, ou seja, o certo e o errado.
O livro “Alvinho, a apresentadora de tv e o campeão” faz parte da coleção “As aventuras de Alvinho” e é ideal para trabalhar a discussão sobre a “mentira e a verdade”, principalmente no período da infância, quando a criança inicia o primeiro ciclo escolar, entre 5 e 6 anos de idade e não consegue discernir o certo e o errado. A literatura infantil contribui para esse desenvolvimento da criança enquanto ser pensante e cidadão.

Para começar a conversa...

Conforme Coelho (2000. p. 27) “a literatura infantil, é antes de tudo, literatura, ou melhor; é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra”. A criança ao ter contato com a literatura infantil nos primeiros anos escolares dialoga com inúmeras situações e aventuras que estão ligadas ao seu cotidiano. Conforme Lajolo e Zilberman:

(...) Através das várias situações e aventuras, vão se desenvolvendo amor à pátria, sentimento de família, noções de obediência, práticas das virtudes civis. São crianças modelares, cuja presença nos livros parece cumprir a função de contagiar de iguais virtudes e sentimentos seus jovens leitores (Lajolo; Zilberman, 1999, p.33).
 
Por meio das histórias a criança além de se transportar para o mundo da fantasia também aprende algumas lições que são primordiais para o seu desenvolvimento social, psíquico e intelectual. Ruth Rocha, de forma lúdica e engraçada coloca em discussão o ato de mentir e como isso pode sair do controle e causar sérias consequências. No caso do protagonista “Alvinho” a consequência é a falta de confiança dos pais e pessoas próximas, pois ele é considerado o rei da mentira.  Conforme o trecho abaixo:

O alvinho andava muito mentiroso...
A mãe reclamava, a professora implicava e o pai, seu Brigagão, já estava ficando furioso:
- Olha aqui, Alvinho. Da próxima vez que eu pegar você mentindo vou lhe dar um castigo que você nunca mais vai esquecer...

Além disso, a obra desenvolve um caráter pedagógico ou utilitário, que pode ser notado através da linguagem empregada (simples), as imagens (que preenchem a maior parte do livro), os personagens (pai, mãe e professora) marcados no diálogo com o protagonista “Alvinho” e a ambientação (a casa e sala de aula). Porém, a narrativa não apresenta o “maravilhoso” típico dos contos de fadas, isto é, os seres sobrenaturais como fadas, bruxas, dragões entre outros, mas fatos contemporâneos e atuais características das obras de Ruth Rocha.  A autora ao desenvolver a temática sobre a mentira e a verdade permite a criança a sua emancipação enquanto ser no mundo, uma vez que a criança passa a refletir e formular suas próprias hipóteses, consequentemente enriquecendo sua aprendizagem e proporcionando, desta forma, a assimilação dos valores da sociedade. Percebemos que a linha de pensamento de Rocha, em suas obras, não impõe à criança a lei do mais forte ou o pensamento do adulto, mas a reflexão diante das situações que vivencia, seja no âmbito familiar ou escolar.

Leia a história na íntegra aqui.

Segue abaixo sugestões de leitura.
Coleção “As aventuras de Alvinho”, boa leitura!
                                        

BIBLIOGRAFIA

COELHO, NELLY NOVAES. Literatura Infantil: teoria, análise e didática. São Paulo: Ática Moderna, 2000.
LAJOLO, MARISA E ZILBERMAN, REGINA. Literatura Infantil Brasileira. História &história. São Paulo: Ática, 1999.
ROCHA, RUTH. Alvinho, a apresentadora de tv e o campeão/Ruth Rocha; Ilustração Ivan Zigg. – 4. ed. – São Paulo: FTD, 1999.

GT 6

Nenhum comentário:

Postar um comentário