O livro “Alvinho, a apresentadora de tv e o campeão”, de Ruth Rocha, lançado em 1995, narra a história de um menino, chamado Alvinho, que conta muita mentiras. Na história, o personagem mente o tempo todo para sua mãe Dona Branca, para o pai, senhor Brigagão e para a professora, Dona Brites. Toda vez que ele se mete em apuros, inventa uma mentirinha. Num belo dia, Alvinho ficou vendo o campeonato de botão na escola e esqueceu-se da hora do almoço. Ao chegar em casa, sua mãe já estava zangada, então ele inventou que um furacão havia passado pela escola, dona Branca, que não era boba, começou a interrogá-lo. Para piorar, ele completou que o furacão era um bandido que gostava de furar e maltratar cachorros, por isso recebeu este nome. A mentira não colou e dona Branca ficou decepcionada mais uma vez com Alvinho.
No dia seguinte, ele chegou atrasado a
escola, pois ficou vendo tv e perdeu a hora da aula. Como de costume inventou
mais uma mentira para se safar, disse à professora que uma pedra enormíssima
que estava no meio do caminho não o deixou passar. Dona Brites não acreditou,
então Alvinho disse que era um bicho, de nada adiantou, mais uma vez passou por
mentiroso. Na saída da escola, enquanto
esperava pelo ônibus passou um carro que abriu a janela e jogou um pacote. Curioso, Alvinho pegou o pacote, o abriu e percebeu que ele continha uma quantia
em dinheiro.
Mais do que depressa correu atrás do carro e devolveu o dinheiro. Para sua surpresa, quem estava dentro do carro era uma linda apresentadora de tv
e o campeão mundial. Em agradecimento, os dois levaram Alvinho para conhecer
Interlagos e depois lanchar. Em seguida deixaram-no em casa e prometeram voltar
outro dia. Ao entrar em casa o menino levou uma bronca, pois mais uma vez
chegou atrasado, além disso, a família estava desesperada com seu sumiço.
A esta altura da narrativa
algo inesperado acontece, Ruth Rocha entra em cena e decide optar por dois
finais para a história, no primeiro final Alvinho continua mentindo para seus
pais.
Puxa vida, pai, eu esqueci da hora,
fiquei assistindo à final do campeonato de pingue-pongue...
No segundo final ele relata
a verdade para os pais sobre o pacote de dinheiro e o passeio com a
apresentadora de tv e o campeão mundial, mas eles não acreditam em Alvinho,
como penalidade seu Brigagão e Dona Branca colocam-no de castigo.
O pai resolveu:
-
Um mês sem videogame.
A mãe completou:
- Um mês sem refrigerante!
Geralda muito xereta, também palpitou:
- Um mês sem batata frita...
O pai continuou:
- Um mês sem televisão!
- A mãe completou:
- Um mês sem jogar jogo de botão.
Este final diferencia-se um pouco das obras infantis tradicionais, pois não apresenta um final pronto. O narrador, após descrever a cena dos pais de Alvinho bravos e preocupados, entra em cena nas páginas finais e conversa com o leitor propondo finais diversificados para história, ou melhor, é o leitor que decide o melhor final para enredo. Assim, Ruth Rocha, ao escrever esta história, proporciona tanto aos pais quanto aos
professores trabalharem uma das regras de conduta social, ou seja, o certo e o
errado.
O livro “Alvinho, a apresentadora de tv
e o campeão” faz parte da coleção “As aventuras de Alvinho” e é ideal para
trabalhar a discussão sobre a “mentira e a verdade”, principalmente no período
da infância, quando a criança inicia o primeiro ciclo escolar, entre 5 e 6 anos
de idade e não consegue discernir o certo e o errado. A literatura infantil
contribui para esse desenvolvimento da criança enquanto ser pensante e cidadão.
Para começar a conversa...
Conforme Coelho (2000. p. 27) “a
literatura infantil, é antes de tudo, literatura, ou melhor; é arte: fenômeno
de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra”. A
criança ao ter contato com a literatura infantil nos primeiros anos escolares
dialoga com inúmeras situações e aventuras que estão ligadas ao seu cotidiano.
Conforme Lajolo e Zilberman:
(...) Através das várias
situações e aventuras, vão se desenvolvendo amor à pátria, sentimento de
família, noções de obediência, práticas das virtudes civis. São crianças
modelares, cuja presença nos livros parece cumprir a função de contagiar de
iguais virtudes e sentimentos seus jovens leitores (Lajolo; Zilberman, 1999, p.33).
Por meio das histórias a criança além de
se transportar para o mundo da fantasia também aprende algumas lições que são
primordiais para o seu desenvolvimento social, psíquico e intelectual. Ruth
Rocha, de forma lúdica e engraçada coloca em discussão o ato de mentir e como
isso pode sair do controle e causar sérias consequências. No caso do
protagonista “Alvinho” a consequência é a falta de confiança dos pais e pessoas
próximas, pois ele é considerado o rei da mentira. Conforme o trecho abaixo:
O alvinho andava muito
mentiroso...
A mãe reclamava, a professora
implicava e o pai, seu Brigagão, já estava ficando furioso:
- Olha aqui, Alvinho. Da
próxima vez que eu pegar você mentindo vou lhe dar um castigo que você nunca
mais vai esquecer...
Além disso, a obra desenvolve um caráter
pedagógico ou utilitário, que pode ser notado através da linguagem empregada
(simples), as imagens (que preenchem a maior parte do livro), os personagens
(pai, mãe e professora) marcados no diálogo com o protagonista “Alvinho” e a
ambientação (a casa e sala de aula). Porém, a narrativa não apresenta o “maravilhoso”
típico dos contos de fadas, isto é, os seres sobrenaturais como fadas, bruxas,
dragões entre outros, mas fatos contemporâneos e atuais características das
obras de Ruth Rocha. A autora ao desenvolver
a temática sobre a mentira e a verdade permite a criança a sua emancipação
enquanto ser no mundo, uma vez que a criança passa a refletir e formular suas
próprias hipóteses, consequentemente enriquecendo sua aprendizagem e
proporcionando, desta forma, a assimilação dos valores da sociedade. Percebemos que a
linha de pensamento de Rocha, em suas obras, não impõe à criança a lei do mais
forte ou o pensamento do adulto, mas a reflexão diante das situações que
vivencia, seja no âmbito familiar ou escolar.
Leia a história na íntegra aqui.
Segue abaixo sugestões de leitura.
Coleção
“As aventuras de Alvinho”, boa leitura!
BIBLIOGRAFIA
COELHO, NELLY
NOVAES. Literatura Infantil: teoria,
análise e didática. São Paulo: Ática Moderna, 2000.
LAJOLO,
MARISA E ZILBERMAN, REGINA. Literatura
Infantil Brasileira. História
&história. São Paulo: Ática, 1999.
ROCHA,
RUTH. Alvinho, a apresentadora de tv e o
campeão/Ruth Rocha; Ilustração Ivan Zigg. – 4. ed. – São Paulo: FTD, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário