quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Boneca, de Olavo Bilac: discurso utilitário ou estético?


No decorrer das postagens expostas sobre o tema literatura e ideologia, exibimos várias histórias que apresentam os intuitos de: doutrinar o leitor, criticar atitudes e valores sociais, proporcionar uma reflexão educativa, dentre outros. Instigou-nos, contudo, o questionamento sobre a presença, ou não, desses discursos utilitários em poemas voltados para crianças. Com isso, escolhemos para análise dessa semana o poema, do consagrado autor Olavo Bilac, A Boneca.



A BONECA


Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.

Dizia a primeira: “É minha!”
—  “É minha!” a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.

Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.

Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.

E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca… 



Observamos, a princípio, que se trata de um poema narrativo, ou seja, de uma narrativa em versos e, portanto, não apresenta características líricas, apesar de destacar uma linguagem musical.

Esteticamente, o poema apresenta cinco estrofes, com quatro versos (redondilhas maiores – verso de tradição popular) cada uma e rimas cruzadas: ABAB CDCD ECEC FGFG HAHA. 

No que diz respeito ao narrador observamos que é heterodiegético. Exterior à história com função meramente narrativa, ele relata os acontecimentos, sem marcar um posicionamento em relação aos fatos narrados. Entretanto, na terceira estrofe esse narrador apresenta um pequeno grau de intrusão, ao expressar sua solidariedade com a boneca, afirmando que ela é “coitada!”. 
 
Por meio da linguagem utilizada, que inclui escolhas lexicais e organização sintática, notamos que temos um narrador adulto escrevendo para um leitor infantil, o que mantém a assimetria no poema e instaura um distanciamento entre o adulto e a criança. Um exemplo da maior elaboração da libguagem é a inversão sintática, na qual o sujeito e o verbo aparecem depois da oração subordinada adverbial causal, nos versos iniciais do poema: "Por causa de uma boneca/ Duas meninas brigavam".

Contudo, não há um discurso autoritário por parte do narrador, pois não fica evidente uma orientação direcionada às crianças; ele não diz o que elas deveriam ter feito para evitar a destruição da boneca e nem as condena por isso, o que resulta na ausência de uma “moral” explícita ao final do poema. A ideia de que é necessário compartilhar os brinquedos e de que a briga só fez com que elas ficassem sem a boneca, algo ruim para ambos os lados e que poderia ter sido evitado, está implícita no poema, mas não é imposta ao leitor. Cabe a este interpretar o texto e pensar, por si, as alternativas possíveis para que o final fosse diferente. Portanto, o poema não apresenta um juízo de valor, deixando o leitor livre para tirar as suas conclusões, razão pela qual consideramos que a função pedagógica não se sobrepõe à estética  e, por conseguinte, o poema  A Boneca apresenta um grau reduzido de utilitarismo, priorizando aquilo que Edmir Perrotti chama de "discurso sedutor".

 
Referências

PERROTTI, Edmir. O texto sedutor na literatura infantil. São Paulo: Ícone, 1986.
 
GT3 – Literatura e ideologia

6 comentários:

  1. Muitoo obg salvou minha vida no trabalho , Deus te pague

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  2. Muitoo obg salvou minha vida no trabalho , Deus te pague

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  3. porque a expressão ´´e minha`` encontra-se entre aspas no poema e mais uma pergunta o que e expressão (trabalho da escola)

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  4. O número de versos varia em cada estrofe, como no poema segredo?

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  5. Gostaria de saber se essa poesia e uma obra ou de qual obra e essa poesia?

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  6. Vc poderia explicar com sua própria palavras a última estrofe do poema

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