No decorrer das postagens expostas sobre o
tema literatura e ideologia, exibimos várias histórias que apresentam os
intuitos de: doutrinar o leitor, criticar atitudes e valores sociais, proporcionar
uma reflexão educativa, dentre outros. Instigou-nos, contudo, o questionamento
sobre a presença, ou não, desses discursos utilitários em poemas voltados para
crianças. Com isso, escolhemos para análise dessa semana o poema, do consagrado
autor Olavo Bilac, A Boneca.
A BONECA
Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
— “É minha!” a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca…
Observamos,
a princípio, que se trata de um poema narrativo, ou seja, de uma narrativa em
versos e, portanto, não apresenta características líricas, apesar de destacar
uma linguagem musical.
Esteticamente,
o poema apresenta cinco estrofes, com quatro versos (redondilhas maiores –
verso de tradição popular) cada uma e rimas cruzadas: ABAB CDCD ECEC FGFG HAHA.
No
que diz respeito ao narrador observamos que é heterodiegético. Exterior à história com função meramente narrativa, ele relata os acontecimentos, sem marcar um posicionamento em relação aos fatos
narrados. Entretanto, na terceira estrofe esse narrador
apresenta um pequeno grau de intrusão, ao expressar sua solidariedade com a
boneca, afirmando que ela é “coitada!”.
Por meio da linguagem utilizada, que inclui escolhas
lexicais e organização sintática, notamos que temos um narrador adulto escrevendo
para um leitor infantil, o que mantém a assimetria no poema e instaura um
distanciamento entre o adulto e a criança. Um exemplo da maior elaboração da libguagem é a inversão sintática, na qual o sujeito e o verbo aparecem depois da oração subordinada adverbial causal, nos versos iniciais do poema: "Por causa de uma boneca/ Duas meninas brigavam".
Contudo, não há um discurso
autoritário por parte do narrador, pois não fica evidente uma orientação
direcionada às crianças; ele não diz o que elas deveriam ter feito para evitar a destruição da boneca e nem as condena por isso, o que resulta na
ausência de uma “moral” explícita ao final do poema. A ideia de que é necessário compartilhar
os brinquedos e de que a briga só fez com que elas ficassem sem a boneca, algo
ruim para ambos os lados e que poderia ter sido evitado, está implícita no
poema, mas não é imposta ao leitor. Cabe a este interpretar o texto e pensar, por si, as alternativas possíveis para que o final fosse diferente. Portanto, o poema não apresenta um juízo de valor, deixando o leitor livre para tirar as suas conclusões, razão pela qual consideramos que a função
pedagógica não se sobrepõe à estética e, por conseguinte, o poema A Boneca
apresenta um grau reduzido de utilitarismo, priorizando aquilo que Edmir Perrotti chama de "discurso sedutor".
Referências
PERROTTI, Edmir. O texto sedutor na literatura infantil. São Paulo: Ícone, 1986.
PERROTTI, Edmir. O texto sedutor na literatura infantil. São Paulo: Ícone, 1986.
http://peregrinacultural.wordpress.com/2008/08/02/a-boneca-poesia-infantil-de-olavo-bilac/.
Acesso em 01/12/2012.
GT3 – Literatura e ideologia
Muitoo obg salvou minha vida no trabalho , Deus te pague
ResponderExcluirMuitoo obg salvou minha vida no trabalho , Deus te pague
ResponderExcluirporque a expressão ´´e minha`` encontra-se entre aspas no poema e mais uma pergunta o que e expressão (trabalho da escola)
ResponderExcluirO número de versos varia em cada estrofe, como no poema segredo?
ResponderExcluirGostaria de saber se essa poesia e uma obra ou de qual obra e essa poesia?
ResponderExcluirVc poderia explicar com sua própria palavras a última estrofe do poema
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