O
fantástico mistério de Feiurinha é uma peça infantojuvenil escrita por Pedro
Bandeira publicada em 1986. No mesmo ano, ganhou o
prêmio Jabuti de melhor livro infantil.
Feiurinha
é uma menina extremamente linda que foi criada por três bruxas (chamadas Ruim,
Malvada e Pior Ainda) junto com Belezinha, a afilhada das bruxas. Feiurinha se
acha realmente feia porque não sabe o que é o belo e porque acredita no que as
bruxas lhe dizem. Junto de Feiurinha havia sempre um bode, que vinha a ser um
príncipe que estava enfeitiçado; quando o feitiço se quebrou, Feiurinha se
descobriu princesa, bela e amada por seu príncipe.
A
história apresenta um aspecto inovador no tocante ao modo como
inicia, pois a frase de abertura é a expressão cristalizada dos finais dos contos
de fada tradicionais “e eles viveram felizes para sempre”. Feito esse
preâmbulo, mostra como está a vida das princesas dos contos de fadas após o
final ditoso das narrativas conhecidas. Branca de Neve, Cinderela, Bela
Adormecida, Rapunzel e a Bela (da fera) estão todas casadas com seus príncipes
encantados (agora são todas chamadas pelo sobrenome do marido: Branca
Encantado, Cinderela Encantado...e por aí vai), grávidas e à véspera de
comemorar as Bodas de Prata com seus maridos. A única que não se casou foi a
Chapeuzinho Vermelho, que continuou solteirona e meio amarga com a vida por não
ter conseguido um marido.
Chapéu
(como agora é chamada) alarma as amigas sobre o desaparecimento de Feiurinha.
Todas se reúnem no castelo de Dona Branca Encantado para procurar a solução
para esse mistério. As princesas
descobrem que Feiurinha desapareceu porque sua história não foi escrita e
decidem procurar um escritor. Por sorte do destino, a empregada do escritor
conhece a história de Feirurinha e conta essa história para as princesas e para
o escritor que registra a história em um livro.
Além
da inovação no modo de abrir a narrativa, podemos encontrar em “O fantástico
mistério de Feiurinha” mais dos aspectos que em que se verifica uma mudança crítica da
estrutura canônica dos contos de fadas tradicionais: o conceito de beleza e a representação das princesas. Em
Feiurinha o conceito de beleza foi invertido até certo ponto, pois feiurinha, apesar de sua beleza incomparável, sempre procura por “defeitos” (verrugas, manchas, etc.) em seu corpo, mas nunca os
encontra e se acha muito feia porque não se parece com as bruxas que a criaram e com as quais vive.
Com respeito à inovação na representação das princesas, podemos observar que elas não são apresentadas como nos contos tradicionais, pois ao invés de seerem jovens e belas, elas
estão todas casadas, grávidas (exceto Chapéu) e já são senhoras com cabelos
brancos. Branca Encantado é um pouco burrinha (tem dificuldades para entender o
que Chapéu lhe fala), Chapéu é gorduchinha e um pouco amarga com a vida, Bela
(adormecida) só dorme e ronca, Rapunzel reclama que está com dor de cabeça
porque seu marido está gordinho e insiste em subir pelas suas tranças, Cinderela
tem calos nos pés devido ao sapato de cristal... todas as princesas tem
defeitos! Estão mais velhas! São mulheres “de verdade”!
Conforme se vê, a
peça apresenta uma intertextualidade com os contos de fadas mais
conhecidos do público infantil. Entretanto, Pedro Bandeira humaniza, de forma leve e engraçada, as
princesas ao mesmo tempo em que satiriza a ideia simplória de que o casamento deve é a realização mais importante na vida das pessoas, pois demonstra que ele não é a garantia de uma vida perfeitamente feliz, sem problemas e tristezas.
Referências:
GT 4: Teatro e música infantojuvenis
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