A literatura
indígena infantojuvenil também traz a representação da mulher por meio de suas
histórias. Temos como exemplo o livro “A lenda do Guaraná”, de Ciça Fittipaldi,
no qual a autora escolhe para representar a cultura indígena. Nele destaca-se o
papel da mulher.
Nessa história, temos a índia
Uniaí como protagonista. A lenda descreve a indiazinha como a dona do Noçoquém,
“só ela conhecia todas as plantas de lá. As de comer, as de fazer remédios, de
fazer cuia, de tirar contas pra fazer colar” (FITTIPALDI, 1986, p.2). Na
divisão dos trabalhos na cultura indígena, as mulheres são responsáveis pela
agricultura, o que as torna conhecedoras do meio.
No conflito da lenda do guaraná,
em que a índia Uniaí é expulsa do Noçoquém por ter engravidado da cobra, é
possível fazer uma relação com a história bíblica de Adão e Eva. Na história
bíblica, a cobra seduz Eva para que coma a fruta, desencadeando, dessa forma, a
saída do paraíso. Na história da lenda do guaraná, a cobra conquista Uniaí pelo
perfume, engravidando-a somente com uma olhada, o que ocasiona a revolta de
seus irmãos e seu afastamento para cuidar do filho.
Uniaí continua a desempenhar seu
papel, cuidando do filho, contando as histórias de seu povo e sobre as plantas.
Até que seu filho sente-se atraído pelas castanhas, frutas que os tios
gostavam. No entanto desde que Uniaí saiu de Noçoquém para ter seu filho,
ficaram proibidos de aproximarem-se. O desejo do menino só aumentava e, então,
foi ao Noçoquém. O macaco, colocado como guardião pelos irmãos de Uniaí, não
hesitou e atirou uma fecha no menino, o que o levou à morte.
Revoltada com a morte de seu
filho, a índia resolveu plantar o corpo do menino para criar uma planta. Do
olho esquerdo nasce uma planta não muito forte. Do olho direito nasceu o
uaraná-cécé, o verdadeiro guaraná, que deu origem a lenda.
A história não apresenta uma
moral ou lógica fora do percurso natural da lenda. Como cita Sandroni, Ciça
Fittipaldi “conta-as sem modificar sua estrutura original e sem
acrescentar-lhes lógica ou moral que não lhes são naturais”, ou seja, a função
da história é contar ao leitor a lenda como ela é, apresentando as ilustrações
como item importante que contribui para a propagação da cultura indígena.
GT3
SANDRONI, Laura. Fundação nacional do livro
infantil e juvenil. Rio de Janeiro. 1998. Disponível em http://www.fnlij.org.br/principal.asp?texto=PNBE&arquivo=/pnbe/texto/a_lenda_do_guarana.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário