Publicidade infantil: pertencimento e identidade
Falar desse tema ainda é muito delicado. A questão da publicidade voltada ao público infantil e para o público infantil é de grande preocupação, pois o Brasil está atrasado na regulamentação da publicidade infantil, quando comparado a outros países, segundo avaliação da professora de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Inés Vitorino. Na opinião desta especialista é preciso haver maior reflexão e mobilização da sociedade brasileira para exigir leis que protejam crianças e adolescentes dos “efeitos nocivos” que o marketing direcionado a eles têm. “As propagandas voltadas para crianças são em igual abusivas porque utilizam estratégias de persuasão que elas não são capazes de identificar, então estão sendo enganadas”, disse.
Durante todo o ano há lançamentos de livros voltados para o público infantil, livros ótimos, coloridos, diversos materiais e de bons autores chegando ao mercado, mas essa divulgação não é feita através da mídia televisiva como roupas, sapatos, brinquedos, entre outros. Criança que está em contato com livros diariamente aprende a escrever melhor, falar bem tem seu vocabulário mais rico com novas palavrinhas.
Todos sabemos que uma criança não pede um livro de presente de aniversário, Dia das Crianças e muito menos no Natal, pois não há propagandas de livros. O estímulo pela leitura passa a ser trabalhado somente na escola e em muitos casos, essas crianças não entram em bibliotecas ou livrarias.
Com a evolução da tecnologia, o tempo dedicado à leitura ficou menor e a publicidade explora aquilo que de mais frágil há nas crianças. Pesquisas do Instituto Pró-criança revelam que 80% das compras domésticas passam diretamente pela vontade da criança. Sendo assim, pode-se dizer que houve uma completa inversão de posições, ou seja, quem manda são os pequenos.
A publicidade seduz e explora os mais primários desejos do inconsciente das crianças. Elas não dispõem do leque de possibilidades existenciais. Para elas, é muito difícil visualizar o rol de possibilidades que estão a sua escolha, e acabam reféns daquela que se apresenta no dia a dia e no cotidiano de seus colegas, através do discurso publicitário. As necessidades grandemente exploradas no mundo infantil são a de pertencimento e da identidade.
Vimos que a publicidade busca a todo o momento, estimular essas duas necessidades. Consumindo a criança será aceita como consumidora, consumindo, será aceita no grupo de consumidores daquele mesmo produto, e, portanto, terá uma existência social alegradora. Vejamos como exemplo, os celulares. O celular com mp3 insere a criança num universo; o que tem câmera, em outro; o que tem bluetooth, em um terceiro. Nesse círculo a criança se apropria também dos status social do produto. Na atualidade, quando uma criança está em idade escolar, demonstra vontade de possuir o que o outro colega de escola tem, fato que não acontecia algumas décadas atrás, pois com a modernização e o avanço das tecnologias esse tipo de consumo está cada vez mais inserido no mundo da criança. Agora nos perguntamos: “Existe a real necessidade de consumo de uma criança de 10 anos ter um aparelho celular de ultima geração?”. No inconsciente desta criança “sim”, pois se ela for estimulada ao consumo, o objeto de valor é uma necessidade imprescindível.
A publicidade estimula crianças a estabelecerem critérios de seleção dos membros de seus grupos através do consumo, assim como estimula as próprias crianças a projetarem nos produtos características que desejariam para si mesmas: a inserção em grupo social, a diferenciação social dentro desse grupo e entre outros grupos, o glamour, e por aí vai. Um exemplo fácil de entender é a relação das crianças com as bonecas. Antes, brincar de boneca era um ato maternal, a criança era a mãe da boneca. Hoje, a boneca é uma projeção daquilo que a criança deseja. A criança não mais é a mãe da boneca, é a própria boneca.
Assim, a publicidade infantil leva as crianças para caminhos tendenciosos a partir de suas necessidades de pertencimento e identidade. Esta é uma questão que, certamente, merece muita atenção e discussão por todos que prezam minimamente pela vida das próximas gerações.
Qual a diferença entre consumo e consumismo?
O consumismo se manifesta irrefletido, não pensado e não programado, diferentemente de quem precisa realmente de um produto; necessidades que refletem no dia-a-dia como comprar uma geladeira nova, pois quebrou ou está muito velha. Esse é o consumo refletido, também chamado de “consumo sustentável”, visto que o consumidor pensa em vários aspectos antes de fazer sua escolha. O contrário é o consumidor influenciado pelo comercial, aquele convencido pela propaganda que necessita do produto anunciado. Um exemplo clássico: a criança já tem os mais variados brinquedos, mas ao ver o anúncio de um brinquedo novo, movida pela necessidade que não é real, acaba recebendo de seus pais esse novo brinquedo. Esse é o consumo não refletido, inconsequente.
A publicidade endereçada às crianças pode levar, além do consumismo, ao materialismo excessivo, à obesidade infantil e ao estresse familiar. A criança não entende a publicidade como o adulto. Muitas vezes os pequenos insistem até que seus pais cederem. Porém, todo cuidado é pouco quando pensamos nas causas dessa “concessão” gratuita. Temos visto muitas crianças sofrerem de obesidade num país tropical, cuja alimentação poderia ser bastente saudável. Mas a criança é estimulada cada vez mais a consumir produtos industrializados. Eis uma roda-vida: se os pais se alimentam mal e consomem sem limites, temos aí futuros adultos que reproduzirão esse sistema.
Brasil um país rico, rico em números de analfabetos
Sabendo da importância da leitura para a formação crítica dos “novos leitores” muitos programas governamentais são implantados no Brasil, um deles, por exemplo, é o Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa, o qual, segundo a Revista Educação, abrange 5100 municípios. O objetivo do programa é alfabetizar as crianças até os 8 anos de idade, pois de acordo com as pesquisas realisadas pelo MEC, há mais de 40% de crianças não alfabetizadas cursando o 6º ano do Ensino Fundamental, fato preocupante relacionado à educação brasileira. Com esse programa o Governo tenta criar métodos e promete dar assistência necessária para que a medida contra o analfabetismo dê certo; e ainda garante que com esse programa incentiva a leitura.
Porém, percebe-se que não estão surgindo resultados satisfatórios, pois de acordo com a pesquisa Ibop Pró-Livro (2012) divulgada pela revista Companysul, 77 milhões de pessoas não leem livros regularmente, ou seja, 92% da população brasileira não tem o hábito da leitura. Dos 8% que lêem, a maior parte são mulheres e o livro preferido dos adultos segue sendo a Bíblia Sagrada. No Brasil a cada ano são lidos 4,7 livros por pessoa, enquanto na França a média passa de 10. O Brasil conta com 14 milhões de analfabetos entre os 7 aos 14 anos de idade.
Umas das causas dessa falta de leitura são as condições em que as famílias estão vivendo. No Norte e Nordeste a situação é lastimável, além de ser baixa a qualidade de vida nos municípios dessas regiões, o analfabetismo é um dos maiores problemas. Segundo o Ministério da Educação (MEC), os que não concluíram a 4ª serie do Ensino Fundamental I somam 33 milhões, concentrados em 50% do Norte e Nordeste. Outro fator que contribui para a falta de leitores é o serviço público bibliotecário, tão defasado no país: em média, 360 cidades brasileiras não possuem nem ao menos uma biblioteca. O que nos resta após tantos números é parar para refletir sobre esses dados: será que os planos governamentais estão dando resultados? Será que o país tem realmente uma preocupação em formar leitores?
A imagem infantil na publicidade
Na contemporaneidade o uso da image infantil no meio publicitário é muito comum, ou nos parece comum, pois de certa forma já estamos habituados a presenciar comerciais de televisão ou de outros meios de comunicação que trazem a imagem infantil para retratar a marca de um produto. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) proíbe o trabalho infantil antes dos 14 anos de idade, então porque a imagem da criança e do adolescente ainda é tão usada? Não obstante, vemos que a utilização da imagem do menor nos meios de comunicação serve como um pilar para a ascenção financeira de sua família. Pais deixam sua vida de lado para seguir seus filhos atores e modelos desde muito cedo. O que impressiona é a forma como esses pais aderem à exposição da criança publicamente; sobretudo movidos pelas cifras e pela promessa de “melhoria de vida”.
De fato, a imagem infantil tem um apelo comercial que nos parece um tanto exploratória. Sabemos que todo trabalho publicitário tem um cachê como forma de pagamento do uso da imegem da criança, mas o que tratamos é a utilização dessa imagem.
A utilização dessa imagem é meramente contabilizada visando fins comerciais, verdadeiras estratégias para que os pequenos consumidores sejam levados a comprar determinados produtos. De fato a legislação que o ECA regulamenta funciona, mas para determinados públicos não. Mesmo que a criança não esteja envolvida em “trabalho escravo”, há atividades exploratórias, que estimulam uma sexualidade precoce, de tal modo que corroboram para uma ilegalidade dentro da legalidade.
Com a ascensão do capitalismo no mundo moderno, as crianças passam de meros filhos de consumidores assíduos, para fazerem parte das decisões de consumo da família. A criança tem alto poder de compra. Antes a imagem da criança nem era utilizada, mas com o avanço das tecnologias os brinquedos e objetos de consumo dos pequenos se tornaram mais atrativos para esse público tão rentável. A rede de comunicações Viacom, dona do canal Nickelodeon, afirma que 40% das compras feitas pelos pais são influenciadas pelos pequeninos. Na sociedade moderna, não se têm mais a visão da criança como dependente do consumo dos pais. Hoje a criança é quem decide, por exemplo, o que vai vestir, o brinquedo que quer. A criança não é tão crítica quanto o adulto e de mais fácil convencimento por parte da propaganda.
Consequentemente, estamos criando e “educando”, crianças capitalistas e futuros consumistas compulsivos, uma vez que, se a sociedade não tomar iniciativas e politicas para o combate do marketing e a publicidade infantil, teremos uma pais de pessoas muito mais alienadas, aonde o lucro vem em primeiro lugar.
Fontes:
-http://coral.ufsm.br/sipecom/2012/anais/artigos/culturaidentidade/LOPAS%20e%20COUTINHO.pdf (acesso em 15/11/2013)
-http://www.umacoisaeoutra.com.br/marketing/crianca.htm (acesso em 15/ 11/2013)
GT5