quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O índio "bom selvagem" na Literatura Infantojuvenil 2

     A imagem do índio nacional como bom selvagem representada hoje nos livros infanto-juvenil tem sua origem desde os primeiros relatos sobre os índios feitos pelos europeus no Brasil. Chamava atenção dos portugueses uma cultura diferente da europeia, homens desprovidos de leis, religião e que tinham na vida em comunidade sua sustentação, sem sentimentos de cobiça. Desde o primeiro documento escrito no Brasil ,essa imagem está imposta, como podemos perceber na carta de Pero Vaz de Caminha: “Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências” (2002, p.45).

     Temos como retratação desse exemplo as obras “Expedição aos Martírios” e “Volta à serra misteriosa”,de Francisco Marins. Essas duas obras fazem parte de um triologia que, resumidamente, conta a história de um jovem tropeiro chamado Tonico e seu fiel amigo Perova, personagens brancos, que estão atrás dos tesouros do Martírios e de um tio, que partira há anos em direção a Serra Misteriosa e nunca mais voltara. Em seu percurso, os amigos resgatam o índio Pixuíra de índios rivais. O dois vão em expedição para a Serra dos Martírios, acompanhados voluntariamente pelo índio, lugar que poucos homens encontraram e muitos morreram procurando. Como já conhecia a floresta, o pequeno índio tratava de guiar o grupo entre a mata e saia à procura de alimento para Tonico e Perova, sempre com muita coragem para enfrentar os desafios encontrados na floresta. Os dois meninos admiram a capacidade e o conhecimento do índio diante da selva e seus perigos, e passaram a respeitá-lo mais.
 
     A obra “Volta à Serra Misteriosa” é narrada por Tonico que, anos depois, conta suas memórias e recordações dos anos em que viveu as aventuras ao lado de Perova e Pixuíra.  Juntamente com essas aventuras, são narradas as expedições pelo nordeste e, posteriormente, Oeste. 
 
Durante toda a narração, temos a representação do índio como o bom selvagem passando ao homem branco todo seu conhecimento, sendo sempre prestativo e leal ao europeu (como era característico das narrativas da década de 1960), ficando sempre com a posição de coadjuvante, mas admirado por quem o observa. Francisco Marins retrata características marcantes do bom selvagem ao representar o índio Pixuíra como dócil e completamente dedicado aos brancos, sendo bravo e corajoso – características de heróis românticos. Um trecho que deixa essa representação clara é:
 

O indiozinho, sempre bom camarada, a cada vez que encostávamos as canoas para um pouso, internava-se nos campos e voltava trazendo picuás cheios de deliciosas frutas silvestres, que todos comíamos com grande satisfação: marmelo bravo, mangaba, cajus, guabirobas, etc. (MARINS, 1966, apud BONIN; KIRCHOF, 2012, p. 228).

 

VEJA TAMBÉM:


GT3
 
Fonte:
BONIN, I. T.; KIRCHOF, E. R. Entre o bom selvagem e o canibal: representações de índio na literatura infantil brasileira em meados do século XX, 2012. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/894/89425835011.pdf

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