A imagem do índio nacional como
bom selvagem representada hoje nos livros infanto-juvenil tem sua origem desde
os primeiros relatos sobre os índios feitos pelos europeus no Brasil. Chamava atenção dos portugueses uma cultura
diferente da europeia, homens desprovidos de leis, religião e que tinham na
vida em comunidade sua sustentação, sem sentimentos de cobiça. Desde o primeiro
documento escrito no Brasil ,essa imagem está imposta, como podemos perceber na
carta de Pero Vaz de Caminha: “Parece-me gente de tal inocência que, se nós
entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não
têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências” (2002, p.45).
Temos como retratação desse
exemplo as obras “Expedição aos Martírios” e “Volta à serra
misteriosa”,de Francisco Marins. Essas duas obras fazem parte de um triologia que, resumidamente,
conta a história de um jovem tropeiro chamado Tonico e seu fiel amigo Perova,
personagens brancos, que estão atrás dos tesouros do Martírios e de um tio, que
partira há anos em direção a Serra Misteriosa e nunca mais voltara. Em seu
percurso, os amigos resgatam o índio Pixuíra de índios rivais. O dois vão em
expedição para a Serra dos Martírios, acompanhados voluntariamente pelo índio,
lugar que poucos homens encontraram e muitos morreram procurando. Como já
conhecia a floresta, o pequeno índio tratava de guiar o grupo entre a mata e saia
à procura de alimento para Tonico e Perova, sempre com muita coragem para
enfrentar os desafios encontrados na floresta. Os dois meninos admiram a
capacidade e o conhecimento do índio diante da selva e seus perigos, e passaram
a respeitá-lo mais.
A obra “Volta à Serra Misteriosa”
é narrada por Tonico que, anos depois, conta suas memórias e recordações dos
anos em que viveu as aventuras ao lado de Perova e Pixuíra. Juntamente com essas aventuras, são narradas
as expedições pelo nordeste e, posteriormente, Oeste.
Durante toda a narração, temos a
representação do índio como o bom selvagem passando ao homem branco todo seu
conhecimento, sendo sempre prestativo e leal ao europeu (como era
característico das narrativas da década de 1960), ficando sempre com a posição
de coadjuvante, mas admirado por quem o observa. Francisco Marins retrata
características marcantes do bom selvagem ao representar o índio Pixuíra como
dócil e completamente dedicado aos brancos, sendo bravo e corajoso –
características de heróis românticos. Um trecho que deixa essa representação
clara é:
O indiozinho, sempre bom camarada, a cada vez que encostávamos as canoas para um pouso, internava-se nos campos e voltava trazendo picuás cheios de deliciosas frutas silvestres, que todos comíamos com grande satisfação: marmelo bravo, mangaba, cajus, guabirobas, etc. (MARINS, 1966, apud BONIN; KIRCHOF, 2012, p. 228).
VEJA TAMBÉM:
GT3
Fonte:
BONIN, I. T.; KIRCHOF, E. R. Entre o bom selvagem e o canibal:
representações de índio na literatura infantil brasileira em meados do século
XX, 2012. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/894/89425835011.pdf
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