O conto “A moça tecelã” apresenta traços do gênero tradicional
entrelaçados com uma situação social moderna, na qual a autora questiona os
dogmas do casamento e da família e busca apresentar um processo de
individualização, desejo de liberdade e independência.
O conto de Marina Colasanti fala sobre a vida de uma moça que
passava os dias tecendo. Ela tecia desde a claridade do dia até os alimentos
que consumia. Porém um dia, a moça percebeu que se sentia sozinha e começou a
tecer um marido para lhe fazer companhia. Então, antes que a moça tecesse o
último fio dos sapatos do futuro marido, um homem bateu à porta. Naquela noite,
junto com seu amor, a tecelã pensou na família que teceria para aumentar sua
alegria.
Mas logo o marido começou a fazer pedidos
para a moça tecelã. Ele desejou uma casa melhor e depois um palácio cheio de
criados. Quanto mais a esposa tecia mais ele pedia. Ela já não tinha tempo para
tecer o sol e o dia e percebeu que seria bom estar novamente sozinha. Durante a
noite, enquanto o marido dormia, ela desfez tudo que havia criado. Toda a
riqueza construída para o amado desapareceu. A noite estava acabando e o
marido, ao começar a acordar, sentiu-se estranho. Mas ele não pode levantar-se.
A moça tecelã desfazia o tecido dos sapatos do marido e aos poucos
ele todo desapareceu. Novamente, em sua pequena casa, a tecelã pôde tecer as
coisas que realmente lhe faziam feliz. E foi com uma linha clara como o sol que
a moça tecelã começou a tecer os traços de luz que se reproduziam no horizonte.
(...) A noite chegava, e ela não tinha tempo para
arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes
acompanhando o ritmo da lançadeira.
Ao compararmos este conto de fadas de Marina Colasanti com os
tradicionais, percebemos o quão este é moderno, no que se refere ao tema, à
crítica desenvolvida ao longo da história e ao desenvolvimento do conto,
misturando o real e o mágico, que se faz pelo ato do tecer.
Quando começamos a ler o conto, temos a sensação de que se trata
de mais uma história na qual a mulher está submetida às tarefas realizadas no
lar, pois a protagonista é uma tecelã dedicada ao ofício. Outro aspecto que se
assemelha demasiadamente às características do conto de fadas tradicional é no
momento em que a moça tecelã se sente sozinha e acredita que um homem é capaz
de ampará-la e torná-la feliz, assim como construir a família “padrão”, um
sonho da moça tecelã.
Mas, com a chegada do homem a rotina da protagonista toma outro
rumo, e a mesma passa a desempenhar o ofício que antes era realizado com
satisfação apenas para atender às exigências do marido. Temos aqui a
“coisificação” da personagem, que serve de instrumento para suprir aos desejos
capitalistas do marido, e consequentemente, uma quebra de expectativa da
protagonista em relação ao propósito de possuir um marido e o que este
realmente deseja. Neste ponto, a autora critica a submissão da mulher, o seu
papel na sociedade. Há uma desconstrução da ideia de que a vida ideal seja a
dedicação ao matrimônio, aos filhos e que estes sejam a “fonte da felicidade”.
O conto distancia-se dos contos de fadas
tradicionais: a mocinha da história não atinge um “... e foram felizes para
sempre” que leva ao desfecho do conto, ao contrário, o casamento é que traz em
si a problemática da história: é com o casamento que ela começa a obedecer
ordens e realizar tarefas matematicamente, a fim de servir aos anseios do
marido, o qual coloca em primeira instância o capitalismo e o sentimento de
posse.
Porém há a presença do “final feliz”, que se dá quando a
protagonista percebe que antes do casamento era mais feliz e desconstrói,
“desmanchando o que havia tecido”, tudo que adquiriu durante o matrimônio e que
para ela não tinha propósito e torna à estabilidade retornando ao quotidiano,
ao ato de tecer, ofício que antes realizava com muito apreço.
Referências:
Conto completo disponível em:
Entrevista com a autora Marina Colasanti:
Imagens:
Grupo 5: Contos de Fadas na atualidade.
Olá, gostei muito da análise que você fez do texto de Marina Colasanti. É bem isso mesmo, um conto moderno, em que alguns valores tradicionais, símbolos de estabilidade e felicidade, como o casamento, são questionáveis. Interessante que no texto, é a mulher que faz o papel de provedora, não o homem.
ResponderExcluirMuito boa sua análise. Parabéns! è difícil encontrar análise objetivas e claras, bem escritas sobre literatura nos blogs.
ResponderExcluirMuito bom este conto amei❤
ResponderExcluirgostei muito do conto e ainda mais da analise..
ResponderExcluirEsse texto é narrativo, Argumentativo,expositivo,Ou descritivo?
ResponderExcluirvai te tomar no cu rapa
ExcluirPor favor poderia me ajudar
ExcluirNarrativo- gênero conto.
ExcluirMuito bom me ajudou muito na minha dissertação
ResponderExcluirComo se dá a apresentação da narrativa?
ResponderExcluirComo se dá o desenvolvimento do texto ????
ResponderExcluirComo se dá a apresentação da narrativa??
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